A revolução do 25 de Abril aconteceu numa 5ª feira. Quatro dias antes, João Moura (foto de baixo), com 14 anos, actuara no Campo Pequeno naquela que foi a última corrida dos tempos do Estado Novo |
O 25 de Abril aconteceu numa quinta-feira, cumprem-se na próxima segunda-feira 48 anos - tantos quantos durou o regime do Estado Novo, derrubado nessa manhã. Quatro dias antes, realizara-se no Campo Pequeno a última corrida ainda sob o regime liderado pelo Prof. Marcelo Caetano. João Moura, então com 14 anos, jovem cavaleiro amador, actuara nessa tarde ao lado de Manuel Conde, Mestre Batista e Luis Miguel da Veiga. Recordamos-lhe hoje como estava a Festa no ano da revolução
Miguel Alvarenga - Há 48 anos, João Moura tinha 14 e dava os primeiros passos naquela que viria a ser a mais gloriosa de todas as "revoluções" - a do toureio a cavalo... sem cravos.
Quatro dias antes do 25 de Abril (que, recorde-se, foi numa quinta-feira), no domingo, dia 21, actuara como amador no Campo Pequeno ao lado de Manuel Conde, José Mestre Batista e Luis Miguel da Veiga. Pegaram os forcados de Santarém e de Montemor e lidaram-se sete toiros de Rio Frio - e esta foi a última corrida no Campo Pequeno antes do 25 de Abril. A última corrida realiza em Portugal no regime do Estado Novo.
Uma semana antes desta corrida, a 14 de Abril, abrira oficialmente a temporada portuguesa com a tradicional corrida de Domingo de Páscoa no Campo Pequeno. Nesse tempo, era essa sempre a primeira corrida do ano, não se realizavam outras noutras praças. Os cavaleiros Manuel Conde e José Maldonado Cortes, os matadores de toiros Fernando dos Santos e Carnicerito de Úbeda (espanhol) e os Forcados Amadores do Ribatejo, comandados por Rui Souto Barreiros, compuseram o primeiro cartel da temporada de 1974, com oito toiros da ganadaria de Maria Ana Passanha.
No final de Março, no dia 31, realizara-se em Villanueva del Fresno (Espanha), organizado pelo saudoso empresário Jacinto Alcón, um festejo taurino com esmagadora participação de toureiros portugueses: o cavaleiro José Samuel Lupi, os matadores Amadeu dos Anjos (que fazia neste ano de 1974 a sua reaparição) e Ricardo Chibança e os Forcados Amadores de Évora, comandados por João Patinhas, completando o cartel o rejoneador Gregório Moreno Pidal, o matador Manolo Cortés e o novilheiro António Alfonso Martín.
Um ano antes, morrera Manuel dos Santos num acidente de automóvel (Fevereiro de 1973) e Mestre João Núncio comemorara 50 anos de alternativa em Março (dia 27) com praça esgotada no Campo Pequeno. José João Zoio tomara a alternativa nessa tarde e no camarote presidencial assistiram à corrida o presidente da República, Almirante Américo Thomaz e o presidente do Conselho de Ministros, Prof. Marcello Caetano. Teve histórica participação nesta corrida, quando já estava retirado das arenas, o maestro espanhol António Ordoñez, que lidou um novilho em homenagem a Núncio.
A temporada de 1973 terminara a 7 de Outubro em Alcácer do Sal com uma corrida em que actuaram Mestre João Branco Núncio, David Ribeiro Telles, D. José João Zoio e, tal como era anunciado, “o distinto amador e grande revelação” João Moura. As pegas estiveram a cargo dos Forcados Amadores de Santarém, sob o comando de José Manuel Souto Barreiros e lidaram-se cinco toiros de António José Teixeira e um de João B. Núncio.
A praça de toiros de Lisboa era nesse tampo gerida pelo filho de Manuel dos Santos, Manuel Jorge Diez dos Santos, juntamente com José Cardal, Américo Pena e Paulo Venâncio Rodrigues, que fora secretário do Prof. Oliveira Salazar. Entre outros, eram também membros da equipa da primeira praça do país Alfredo Ovelha e José Agostinho dos Santos.
Os bilhetes para as touradas custavam entre 300 escudos (barreira) e 50 escudos (galeria), o equivalente a um euro e meio e 25 cêntimos e os cachet's das primeiras figuras de então rondavam (valor extraordinário) os 100 contos (500 euros).
As primeiras figuras da época, além do eterno Mestre Núncio - que viria a falecer em 1976, depois de ter sido roubado e espoliado pelos comunistas - eram, entre outros, Manuel Conde, David Ribeiro Telles, José Samuel Lupi, José Mestre Batista, José Maldonado Cortes, Alfredo Conde, Fernando Andrade Salgueiro, Luis Miguel da Veiga e, entre os novos, contavam-se Emídio Pinto, Frederico Cunha, José Luis Sommer d'Andrade, Vitor Ribeiro (pai), Gustavo Zenkl, D. Francisco Azarujinha e outros.
Havia ao tempo uma nova fornada de jovens cavaleiros amadores, entre os quais pontificavam Manuel Jorge de Oliveira, José Manuel Correia Lopes, Brito Limpo, António Raúl Brito Paes, José Moita da Cruz, José Varela Crujo, Paulo Caetano, João Ribeiro Telles, Rui Salvador e, obviamente, João António Romão de Moura.
O toureio a pé vivia ainda momentos de glória. Estavam todavia no activo figuras como José Júlio, Armando Soares, Amadeu dos Anjos, José Simões, Mário Coelho, Ricardo Chibanga, Júlio Gomes, José Manuel Pinto, Óscar Romano - e José Falcão era a maior promessa e aquele que nos fazia acreditar numa brilhante carreira além-fronteiras. Ninguém adivinharia que viria a morrer em Agosto desse ano de 1974 em Barcelona, vítima de cornada.
Começavam a dar que falar alguns jovens diestros, como Vitor Mendes, António de Portugal e Parreirita Cigano, além do brasileiro Fernando Guarany e outros jovens que davam os primeiros passos, entre eles, Paco Duarte, António Poeira, Fernando Pessoa, Manuel Moreno e outros.
João Queiroz lançara um ano antes (1973) o jornal "Broncas & Olés", antecessor da revista "Burladero" e o jornalista da RTP Luis Alberto Ferreira dirigia um outro semanário taurino intitulado "Redondel".
Cristovão Moreira "Solilóquio", cronista taurino e Comandante da Marinha, publicava anualmente com enorme sucesso as suas crónicas taurinas em livro e os jornais diários davam todos invejável relevo ao espectáculo tauromáquico.
O saudoso Manuel Andrade Guerra e José Sampaio eram as novas revelações da crítica nas páginas do "Diário de Notícias". A franja de prestigiados cronistas taurinos era composta, entre outros, por Mestre Leopoldo Nunes, Nizza da Silva, Rogério Pérez "El Terrible Pérez", Américo Saraiva Mendes, Saraiva Lima, Hernâni Saragoça, José António Lázaro, Quito Fernandes, Francisco Morgado e José Manuel Severino. Despontava Maurício Vale.
Eu dava os primeiros passos nas páginas do semanário "Cidade do Tomar" e dois anos mais tarde (1976) iniciaria a minha carreira jornalística ao lado de Vera Lagoa no jornal "O Diabo".
A Sociedade Campo Pequeno geria muitas outras praças e dominava em termos empresariais, mas Nuno Salvação Barreto iniciava também uma destacada carreira como empresário que se viria a estender a várias praças de toiros do país e até de França, onde se tornaria o grande pioneiro da organização de corridas à portuguesa com forcados.
Na sua edição de 25 de Abril de 1974, o jornal vespertino "Diário Popular" (capa em cima) anunciava a primeira corrida da temporada em Santarém daí a três dias (no domingo, 28 de Abril), cartel misto, com os cavaleiros Gustavo Zenkl e D. José João Zoio, os ainda cavaleiros amadores Emídio Pinto e Manuel Jorge de Oliveira, o matador Ricardo Chibanga e o aspirante a novilheiro António Poeira, mais os grupos de forcados de Santarém e de Montemor, com sete toiros do Dr. Ortigão Costa e bilhetes desde 20 escudos (10 cêntimos).
Fotos D.R.
Quatro dias antes da revolução, realizara-se esta corrida na praça do Campo Pequeno |
Onze dias antes do 25 de Abril, a temporada fora inaugurada com a tradicional corrida de Domingo de Páscoa na praça de toiros do Campo Pequeno |
Manuel dos Santos morrera num acidente de automóvel em Fevereiro do ano anterior, deixando um enorme vazio no mundo tauromáquico |
Numa das suas edições (houve várias) do dia 25 de Abril de 1974, o "Diário Popular" anunciava para daí a três dias a realização desta corrida de inauguração da época na capital do Ribatejo |