domingo, 21 de julho de 2024

Évora tinha que esgotar e não encheu...

José V. Claro - Não sendo a praça de toiros de Évora das maiores do país, antes pelo contrário, fixando-se a sua lotação em pouco mais de três mil lugares, certamente que noutros tempos teria esgotado e ainda ficavam muitos aficionados na rua, tristes por não terem conseguido um bilhete para ali ver pela última vez Pablo Hermoso de Mendoza. A corrida de ontem registou apenas uma entrada de três quartos (não muito fortes). 

Pode ter contribuído para isso o imenso calor (insuportável) que se fazia sentir, tendo a corrida o início marcado para as 18h30 (erro dramático, insistimos: as touradas no Alentejo, e não só no Alentejo, em tempo de calor, têm que ser obrigatoriamente à noite, empresários que as promovam à tarde estão a dar tiros no pé... será assim tão difícil de entenderem isso?...).

Mas contribuiu também para isso, certamente, o facto de se realizarem outras corridas no mesmo dia (as nocturnas da Nazaré e de São Cristovão), a fartura com que anda o público de ver sempre os mesmos toureiros e também, muito provavelmente, o facto de os aficionados se estarem a guardar para a grande despedida de Pablo Hermoso do público português a 6 de Setembro no Campo Pequeno, esse sim, o adeus definitivo do rejoneador navarro a um país onde foi ídolo.

Ao início da corrida, o fotógrafo João Dinis descobriu numa barreira do sector 3 o indesejável anti-taurino holandês Peter Janssen, denunciando-o ao empresário António Alfacinha e à GNR, que rapidamente o retirou de cena. 

Não é legítimo obrigar a sair um espectador que não se está a comportar de forma anormal no recinto, mas o historial de Janssen justificou que as autoridades o retirassem da praça, evitando assim que viesse a saltar para a arena e a atentar a seguir contra a liberdade dos aficionados e dos próprios toureiros.

O empresário Alfacinha agradeceu ao repórter João Dinis. Alguns aficionados também. A ProToiro ainda não disse nada... vai dizer?

Vamos à corrida. Os toiros de Santa Maria, bem apresentados, de jogo distinto, foram toiros cómodos para os cavaleiros e incómodos para os forcados.

João Moura não parecia ele no primeiro toiro da tarde, o maior dos seis e com complicações. Toiro lidado pelo cavaleiros e pela quadrilha, alguns toques, momentos de apuro quer afligem qualquer aficionado na bancada.

No quarto toiro, Moura puxou dos galões, disse que as coisas não podiam ficar assim, empolgou como antigamente. Todos confirmámos que toureiros com aquela raça e aquela casta não há muitos e Moura foi sempre um exemplo.

Pablo Hermoso, com dois toiros "à medida", deu o seu show de notável brega e excelente equitação, toureou agradando a todos, ouviu música e recebeu do público eborense a homenagem de ovações calorosas em tempo de despedida.

Ao início da corrida foi homenageado pelo empresário António Alfacinha e presenteado com lembranças pelos cabos dois dois grupos de forcados actuantes (foto de baixo).

João Salgueiro da Costa era o terceiro cavaleiro do cartel. Vive um ano de pena reafirmação e reconquista, depois de incidentes de percurso que têm mais que ver com a sua vida particular do que propriamente com a sua actividade profissional. 

Incidentes que o jovem Salgueiro está a superar e a vencer, porque é, na realidade, um toureiro extraordinário e com potencial para voltar a figurar entre os da frente. Ontem em Évora, vimos-lhe duas grandes actuações marcadas por uma aplaudida regularidade. Muito bem.

Não foi fácil a tarde para os forcados anfitriões. As três pegas dos Amadores de Évora estiveram a cargo de Ricardo Sousa (a dobrar Henrique Barrete, lesionado depois de ir três vezes à cara do primeiro toiro); de Francisco Valverde (também a dobrar um companheiro, neste caso Rui Bento, que se lesionou também após três duras tentativas); e de João Cristovão (à terceira).

Pelo grupo de São Manços pegaram o cabo João Fortunato (à segunda, na já falada pega brindada a João Neves, jovem jogador benfiquista da Selecção Nacional); Diogo Coutinho (à quarta); e Manuel Trindade, na única pega consumada ao primeiro intento.

A corrida em Évora foi bem dirigida por José Soares, que esteve assessorado pelo médico veterinário Carlos Santana.

Fotos Nélia Ramos/Facebook e Juan Andrés H. Mendoza/"Farpas"