Miguel Alvarenga - Tem cara de menino, alma e fibra de toureiro adulto. Tomás Bastos, filho do bandarilheiro David Antunes, sobrinho-neto do saudoso matador de toiros José Júlio e do também bandarilheiro Dário Venâncio, reafirmou ontem na "Palha Blanco" o estatuto de novo ídolo dos aficionados vilafranquenses. Houve vários motivos para que a praça tivesse registado a enchente que se verificou, mas um dos principais foi precisamente ele, um ano depois de aqui ter feito a sua estreia em público.
Ficou guardado para o fim, só toureou depois dos cavaleiros João Telles e Francisco Palha terem lidado cada qual os seus dois toiros, porque as leis lusitanas assim obrigam. Embora seja já novilheiro praticante (debutou em Março com picadores em Olivença), não pode repartir normalmente cartel com os cavaleiros profissionais; para a corrida ter o seu curso normal, tinha que haver um matador pela frente do Tomás. Estupidez de quem assim legislou há vários anos. Estupidez de quem ainda não fez nada para alterar o sistema. Enfim...
Dia 3 de Agosto na Nazaré não acontecerá isto. O Tomás não fica para o fim, porque está também no cartel o matador Borja Jiménez.
Ontem na "Palha Blanco", o jovem toureiro - apoderado por Cristina Sánchez e José Alexandre - lidou dois magníficos novilhos-toiros da ganadaria de Paulo Caetano, uma ganadaria com trinta anos e que melhora de temporada para temporada.
Foram dois novilhos de trapio aplaudido, o segundo mais parecia um toiro, a transmitir, a humilhar, a trazer emoção e a ajudar o jovem Tomás a alcançar um enorme triunfo.
Foi a prova de que os (ditos) figurões espanhóis que nos visitam não precisam de trazer debaixo do braço dois novilhotes ridículos e sem chama, como tem acontecido, quando temos por cá matéria prima de tanta qualidade como os novilhos-toiros desta e de outras ganadarias.
Tomás Bastos esteve bem e variado nos bonitos tércios de capote, espectacular e poderoso com as bandarilhas, inspirado, templado e mandão com a muleta. Tem o toureio na cabeça, nasceu para triunfar. Deixou ontem bem claro que sabe o que quer e para onde vai. Foi uma tarde importantíssima para ele, para o toureio a pé e para a tauromaquia portuguesa. Para Vila Franca, também, que consolidou uma vez mais o seu novo ídolo.
Tomás Bastos brindou a primeira faena ao seu público e a segunda aos dois cavaleiros com quem repartiu cartel, João Telles e Francisco Palha. Não se lembrou dos forcados...
E o director de corrida Tiago Tavares não se lembrou de conceder uma volta à arena ao representante da ganadaria Paulo Caetano - que bem a merecia.
Curiosa a presença na trincheira do empresário Joaquín Domínguez (com seu filho Carlos), gestor das principais praças de toiros da Extremadura espanhola e apoderado de "Juanito", que seguiu atentamente e muito entusiasmado as duas vibrantes faenas de Tomás Bastos.
Como novilheiro sobressalente esteve ontem na "Palha Blanco" João Mexia, promissor aluno do matador "Cuqui" na Escola de Toureio da Moita, mas não chegou a pisar a arena.
Ficam as fotos. Quer dispensam mais comentários e valem mais que mil palavras. Momentos de um toureiro bom e dois novilhos-toiros de nota altíssima.
Fotos M. Alvarenga