segunda-feira, 6 de maio de 2024

Núncio, Moura e Palha - nomes próprios de uma tarde de toiros em Estremoz

Com a devida vénia e porque se tratou de uma corrida importante - realizada à mesma hora a que a nossa reportagem no sábado estava na Chamusca -, transcrevemos a crónica de Miguel Ortega Cláudio dada à estampa hoje no site "Tauronews" sobre o que aconteceu em Estremoz - com praça cheia! - ilustrada com as fotos do nosso companheiro José Canhoto.

Miguel Ortega Cláudio/"Tauronews" - A grandeza da Festa reside nela mesma e em quantas pessoas a tornam possível todos os dias sem medo, com orgulho, espírito e dedicação. Estremoz, tem sido exemplo disso de há algum tempo para cá sendo ponto obrigatório de peregrinagem de muitos aficionados. Sábado, 4 de Maio, foi exemplo disso, praça completamente cheia!

A empresa anunciou um cartel rematado, três figuras do toureio, seis ganadarias a concurso e dois grupos de forcados de primeira linha, quem assistiu ao espectáculo deu o seu tempo por bem empregue. Umas quantas lides de categoria, viu a galhardia e o valor dos forcados, toiros bem apresentados e com motivos de interesse no seu comportamento.


Abriu praça um cinquenho de São Marcos, toiro grande bem proporcionado de cara, negro de capa. Teve uma saída fria mas com o decorrer da lide cresceu ao castigo, teve bom tranco e arrancou para os ferros com raça.


De Fernandes de Castro foi o segundo, também ele grande, aberto de cara, negro bragado e corrido de pelagem. Toiro também ele frio e solto de saída, vindo a mais acabando por ser um toiro encastado com o senão de ter pouca entrega.


Altivo e com um quarto dianteiro muito desenvolvido foi o de Pégoras, toiro complicado e a pedir tudo muito bem feito a cavaleiro e forcados.


Baixo e reunido foi o negro listão de Branco Nuncio, teve bom tranco, acometeu com nobreza aos capotes, cavalo e forcados. Bom toiro!


O quinto pertencia à ganadaria Passanha, toiro bonito de tipo e com cara proporcionada, saiu diminuído fisicamente e foi devolvido aos currais.

Foi corrido turno e em quinto lugar saiu o que estava destinado a fechar praça. Tinha o ferro de Francisco Romão Tenório, grande, bonito de cara, toiro com muito trapio. Foi nobre, acometeu com bom estilo aos capotes, cavalos e forcados mas faltou-lhe alguma alegria para romper em bravo.


Fechou a tarde o sobrero, tinha o ferro de Fernandes de Castro, toiro grande, mais basto de tipo. Foi complicado, procurou os terrenos de tábuas, mediu muito nos capotes, frenando nas acometidas ao cavalo e derrotando por alto quando investiu para a pega.


Decidiu o jurado composto pelos próprios ganaderos que o prémio de Apresentação fosse para o exemplar de Romão Tenório e prémio de Bravura para o exemplar de Branco Núncio.


João Moura Jr. teve uma tarde de triunfo na arena de Estremoz! Correcto com os compridos que cravou no de São Marcos, abrindo os caminhos a um toiro que se mostrou frio de saída, lidando o oponente com sabedoria. Nos curtos a lide cresceu e os ferros foram cravados de frente, dando distâncias e rematando de forma bonita as sortes. Destaque para o soberbo quarto ferro, deixando que o toiro tomasse a iniciativa e cravando de alto abaixo.


Com o de Núncio houve o entendimento perfeito desde o início da lide. Lidou bem de saída e cravou dois compridos. Nos curtos a lide foi redonda, Moura andou toureiro, templado, foi senhor de uma brega fantástica, escolheu bem os terrenos da lide, andando sempre ligado ao toiro. Deu distâncias e vantagens ao de Núncio, cravando ferros de belo efeito e rematando os mesmo de forma sublime em ladeios rematados depois por dentro com bonitos desplantes toureiros na cara do oponente. Finalizou a sua actuação com duas mourinas de luxo, os remates foram redondos, com o público em júbilo acedeu a cravar mais um ferro, desta vez um palmito de belo efeito.


João Ribeiro Telles em Estremoz diante do pior lote mostrou o seu poderio e raça toureira para solventar as dificuldades impostas pelos oponentes.

Diante do seu primeiro cravou dois compridos de boa nota, tentando sempre a ligação na brega para interessar um toiro que se mostrava distraído. Nos curtos houve bons momentos de toureio a cavalo, três curtos cravados com valor entrando em terrenos de compromisso, remantando os mesmos com toureria. Rematou a lide com um bom palmo.


Lidou o sexto toiro por se ter corrido turno, devido ao de Passanha ter saído diminuído fisicamente à praça e o que se viu na arena foi a entrega e o valor de um toureiro diante das dificuldades impostas pelo de Castro. Cravou dois compridos e na brega tentou abrir os caminhos ao oponente. Nos curtos templou as acometidas, lidou com precisão, sempre a desenganar o oponente. Cravou de frente e sesgo bons ferros curtos, nos remates das sortes houve muito valor já que o toiro rematou por cima e tentar colher.


Francisco Palha nesta tarde em Estremoz também agarrou o triunfo! Duas lides muito distintas se na primeira teve por diante as dificuldades impostas pelo de Pégoras, na segunda cravou ferros soberbos diante do de Romão Tenório.


Cravou dois compridos no primeiro do seu lote e lidou com correcção. Nos curtos o toiro demonstrou brusquidão e não era claro no momento do ferro, metendo a cara por cima. Francisco cravou com desenvoltura a ferragem da ordem, com destaque para o segundo curto e o quarto a sesgo. Fechou a lide com um palmo.


No de Romão Tenório os compridos tiveram boa nota, lidando e procurando interessar o toiro na lide. Nos curtos, o génio de Francisco veio ao de cima, entrou pelo toiro dentro de frente, e os ferros tiveram muita verdade, chegando com força às bancadas. Houve bons momentos de brega e remates toureiros mas o momento das sortes foram fantásticos, a destacar os três últimos curtos, entrando devagar na jurisdição do toiro e ao estribo deixou as bandarilhas. O último foi um portento de verdade e bom toureio a cavalo, o toiro arrancou a passo, cavalo e cavaleiro aguentaram e num palmo de terreno a sorte foi realizada.


Uma pega é ter coragem e técnica para estabelecer com autoridade a supremacia do homem sobre a força bruta de um toiro. Isso traduz-se em domínio, dimensão ética, pela dupla sujeição da força bruta do animal através da inteligência e também dos instintos, pulsões e medos do forcado. Nesta tarde de Estremoz houve tudo isto e mais qualquer coisa… 


Tarde dura e por vezes complicada para os rapazes da jaqueta de ramagens. Montemor e Évora estiveram estóicos, valentes e houve nomes ”próprios” que marcaram a tarde sem dúvida todos os forcados da cara mas uns quantos ajudas… queria fazer referência a António Pena Monteiro, mesmo com uns quantos dedos da mão magoados não arredou pé do seu grupo. Pedro Santos de Montemor, que grande segunda ajuda no terceiro da corrida. Bernardo Manoel dos de Évora fantástica primeira ajuda no quarto da tarde.


Abriu a tarde Joel Santos que teve que bater as palmas quatro vezes ao de São Marcos, toiro a derrotar forte e a tirar o forcado cá atrás na primeira tentativa. Na segunda tentativa, o forcado da cara saiu com um derrote violento na viagem do toiro. A pega foi realizada com ajudas mais carregadas ao quarto intento.


José Maria Vacas de Carvalho esteve enorme! Três grandes tentativas, toiro a arrancar como um raio e por cima, forcado com uma alma enorme durante as longas viagem a suportar os derrotes do de Pégoras, os ajudas bem tentavam parar aquela locomotiva nas duas primeiras tentativas, coisa que se mostrou inglória.


José Maria Marques grande pega à primeira tentativa, suportou vários derrotes bem fechado de pernas e braços, com o grupo ajudar com eficiência.


Pelo grupo de forcados de Évora abriu a tarde António Prazeres numa boa pega à primeira tentativa, toiro a meter a cara por cima, o forcado teve a alma e o valor de suportar um par de derrotes e o grupo ajudou com eficiência.


José Maria Passanha foi o encarregue de pegar o quarto da tarde, fez uma boa pega à primeira tentativa, com o cara a citar bonito, receber bem e o grupo ajudou como mandam as regras.


João Cristovão esteve gigante diante do difícil sexto! Cinco vezes lhe bateu as palmas, umas quantas tentativas a suportar derrotes demolidores, os ajudas bem tentavam mas a tarefa não era facil. A sesgo e com ajudas carregadas o problema foi resolvido.


Dirigiu a corrida Marco Gomes, sendo o médico veterinário João Pedro Candeias.


Fotos José Canhoto


Concurso de Ganadarias ganho pelos toiros de Núncio (bravura)
e Romão Tenório (apresentação)


João Moura Jr.

João Ribeiro Telles

Francisco Palha



Grandes pegas em tarde dura para os valentes forcados dos
consagrados grupos de Montemor e de Évora