segunda-feira, 28 de março de 2016

Bastinhas e Branco marcaram a diferença em Monforte

Mesmo sem toureiros de Monforte (facto muito criticado por alguns...), a praça
encheu ontem para assistir a um agradável festival
No final do festival, o matador Nuno Casquinha tentou lidar o novilho de Pinto
Barreiros que Rouxinol enfrentou em primeiro lugar e que foi o pior de todos...
Um presente envenenado ao valoroso toureiro de Vila Franca? Esteve valente, mas
não chegou para sacar faena a um novilho que já se percebera que a não tinha...
Com a "fava" da tarde, um novilho de Pinto Barreiros sem qualidade, a maestria e
a arte de Luis Rouxinol impuseram-se e asseguraram o nível habitual do grande
cavaleiro
António Maria Brito Paes voltou a deixar grande ambiente, mostrando-se
"renovado" e reafirmando o sucesso da véspera em Serpa
Marcos Bastinhas em grande, autor de uma lide para recordar!
Emoção e verdade numa excelente lide de Duarte Pinto
Atitude, afirmação e muito trabalho levado a cabo no defeso - João Maria Branco
obteve ontem em Monforte um triunfo notável e surpreendeu pela positiva,
parecia ele que já levava umas vinte corridas toureadas! De novo em grande!
Jacobo Botero teve uma lide com altos e baixos, mas não desarmou e terminou
em plano superior, não tendo estado, no entanto, num dos seus melhores dias...
1ª pega teve na cara o forcado Cláudio Cruz (Amadores de Portalegre), que se
fechou à primeira, bem ajudado pelo grupo
Luis Marques (Amadores de Arronches) fez à primeira a 2ª pega do festival
A 3ª pega (Amadores de Monforte) foi executada à segunda por Luis Samarra
Pelos Amadores de Portalegre, pegou o consagrado Nelson Batista à primeira
tentativa, consumando a 4ª pega da tarde de ontem em Monforte
João Rosa (Arronches) executou a 5ª pega ao primeiro intento
A 6ª pega foi um verdadeiro "bico de obra". Concretizou-a à quarta e a sesgo, com
as ajudas carregadas, o forcado Carlos Falcão (Amadores de Monforte), que
emendou Pedro Peixoto (primeira foto de cima), fortemente derrotado na primeira
tentativa e que saíu combalido da arena e amparado por companheiros



Miguel Alvarenga - Nem a ausência de toureiros da terra (três Mouras e dois Caetanos) afastou público das bancadas, bem pelo contrário, no festival que os Forcados de Monforte organizaram este domingo na praça "João Moura (pai)", cumprindo a tradição taurina da Páscoa, que outrora era romaria obrigatória à Monumental de Lisboa, para a abertura da temporada no Campo Pequeno (sempre cheio, uma data que infelizmente se perdeu no tempo, coisas que já lá vão...).
Monforte foi ontem praça cheia, com três quartos das bancadas preenchidos... e só há mesmo a lamentar, como nota negativa, a excessiva (desnecessária e incompreensível) presença de gente na trincheira, na maior parte, caras conhecidas da nossa Festa, mas que nada tinham a ver com o espectáculo de ontem...
Àparte esse deslize (que pode não ter sido apenas responsabilidade sua), é de inteira justiça aplaudir a boa direcção de corrida de Marco Gomes e apoiá-lo, num momento em que, todos o sabemos, lhe quiseram "fazer a cama" e afastá-lo do desempenho das funções de delegado técnico da IGAC, sem se perceber muito bem por que razão o fizeram e por alma de quem se mexeram tantos cordelinhos nos bastidores para o procurar demover de prosseguir. Marco Gomes aguentou-se "à bronca" e ficou, que isto não é propriamente "o da Joana"...
Parêntesis feito para aqui expressar o meu apoio ao regresso de Marco Gomes (sem ter existido propriamente um afastamento), passemos ao festejo em si, em que há que destacar o comportamento aceitável dos novilhos de Joaquim Alves (três da ganadaria Pinto Barreiros e três de São Torcato), exceptuando o primeiro, a que o sempre-bem Luís Rouxinol deu a volta com o sau saber e a sua louvada experiência, mas que não tinha, na verdade, qualidades de lide. Rouxinol esteve superior, estreou um craque novo, o "Equs do Zambujal" e, com a arte que lhe é peculiar, levou a bom porto o barco, porque sabe e porque é toureiro dos bons.
Curiosamente, vá lá a entender-se o critério, foi este o novilho "oferecido" ao matador Nuno Casquinha para, no final e à porta fechada, procurar pôr em prática os seus reconhecidos atributos, obviamente que sem os resultados desejados, repito, pela má qualidade do exemplar de Pinto Barreiros. Não podia ter sido outro dos novilhos? Assim e pese embora o esforço e o empenho do toureiro, coadjuvado pelo eficiente bandarilheiro Filipe Gravito, aquilo mais pareceu um presente envenenado ofertado ao valoroso Casquinha. Pena...
A Rouxinol seguiu-se António Maria Brito Paes, que sem matéria prima para repetir o triunfo da véspera em Serpa, teve no entanto uma lide bem desenhada e com bonitos pormenores que confirmam estar, de facto, numa nova etapa, mais maduro e mais moralizado, capaz de se vir a destacar nesta temporada que mal começou ainda, mas em que deu já sinais de vir decidido a romper de vez. É um toureiro que tem tido altos e baixos, mas a que reconhecemos valor e postura para vir acima de um momento para o outro. O momento parece ser este.

Bastinhas - sempre!

Marcos Bastinhas marcou no terceiro novilho do festival o primeiro ponto alto de uma tarde até então meio morna. Muito bem montado e decidido a manter bem alto o apelido e todo o historial que durante mais de três décadas seu Pai (a recuperar favoravelmente) defendeu e impôs nas arenas, o jovem Marcos toureou "à Bastinhas", com brega impecável, cavalos fantásticos, a alegria paterna e os rasgos de euforia com que ao longo dos anos o Maestro Joaquim Bastinhas fez história em todas as praças - incluindo o arrojado par de bandarilhas, que resultou emotivo e perfeito, e também o salto do cavalo no fim da lide, uma marca da tauromaquia de Bastinhas. Esteve em grande plano e a marcar com a glória costumeira da casa uma imagem e um selo que fazem falta à nossa Festa. Toureou de verdade, com emoção e rigor, pondo a carne no assador, empolgando, emocionando - e são esses os atributos que motivam os aficionados a ir às praças. Muito bem, Marcos Bastinhas!
Duarte Pinto foi o quarto cavaleiro da tarde, após um breve, mas não excessivo, intervalo. Desenvolvendo boa brega, emocionando com sortes frontais, batendo ao piton contrário, pondo à prova a verdade emotiva do toureio que faz falta, esteve o cavaleiro de Paço d'Arcos em muito bom plano - no seu estilo clássico, ousado e de boa nota. Fez tudo bem feito e o público reconheceu o valor de uma séria actuação não lhe poupando merecidos aplausos numa aplaudida volta à arena.

Branco de novo em alta

Rever João Maria Branco era uma das maiores expectativas neste festival, depois de na temporada passada ter estado praticamente "fora de combate" em arenas nacionais, baseando a sua actividade em Espanha e em praças de menor relevo. E a verdade é que o jovem cavaleiro de Estremoz surpreendeu pela positiva, fazendo-nos acreditar que já trazia umas vinte corridas toureadas, tal o aprumo dos cavalos e a desenvoltura do cavaleiro, de moral novamente em alta, apesar de se tratar da primeira actuação do ano. Demonstrou muito "trabalho de casa" e um empenho enorme durante o defeso, que permitiu que tudo funcionasse em pleno e alcançasse um triunfo memorável que, em circunstâncias normais e se "isto" fosse, taurinamente falando, um país a sério, lhe teria aberto as portas de par em par para as grandes corridas e as melhores praças nesta temporada. Mas a verdade é que, segundo os seus apoderados Ignacio Rios e Pepe Cotán, o toureiro não tem ainda um único contrato para Portugal... será possível? Será justo?
João Maria Branco emocionou com ferros de excelente execução, esteve certíssimo na brega, nos remates e em recortes de arte e bom gosto. Uma actuação acima da média e que fez dele, juntamente com Bastinhas, um dos grandes triunfadores de Monforte. Merecedor, por isso, da atenção das grandes empresas. Se esperavam que estivesse "adormecido" depois dos acidentes de percurso de uma ascendente carreira que muito prometia e de repente parecia ter ficado estagnada, a verdade é que João Maria disse ontem em Monforte que ainda cá está e, mais que isso, que está de novo decidido a retomar e recuperar o lugar que lhe é devido - e que, por mérito (muito) próprio, é seu de novo.
Jacobo Botero recebeu o novilho com a vara e parou-o "à antiga usança espanhola", sem intervenção dos bandarilheiros, num gesto de afirmação e com a atitude de quem vem para triunfar. Houve depois um ferro falhado e um choque frontal com o novilho que acabaram por retirar algum brilho à lide do valoroso rejoneador colombiano que, apesar de não ter estado nos seus melhores dias, não desanimou e não perdeu os papéis, recompondo-se com dois bons ferros finais, um em sorte de "violino", justificando deste modo que Marco Gomes lhe concedesse a volta à arena.

Três grupos, seis pegas

Pegaram três grupos de forcados e a fava, no que às pegas diz respeito, coube aos anfitriões, os Amadores de Monforte (brindados pelos outros dois grupos e também por cavaleiros num festejo que era por eles organizado), que executaram a sua primeira pega (terceira da ordem) à segunda, por Luis Samarra; e a última, a mais complicada, a sesgo e à quarta, por Carlos Falcão, a emendar Pedro Peixoto, que saíu combalido e amparado por companheiros, depois de um fortíssimo embate na cara na primeira tentativa, havendo neste momento de aflição a destacar um valente e muito valoroso quite de Francisco Paralta, cabo dos Amadores de Portalegre.
Cláudio Cruz e Nelson Batista, ambos à primeira, defenderam a honra da jaqueta de Portalegre, enquanto que pelos Amadores de Arronches foram caras, também à primeira, Luis Marques e João Rosa. Exceptuando a sexta, as restantes pegas não tiveram dificuldades de maior e os novilhos de Pinto Barreiros e São Torcato permitiram o bom desempenho da forcadagem, sem criar complicações.
Em bom plano, exibiram-se todos os bandarilheiros participantes.
O festival contou com a honrosa presença de Gonçalo Lagem, o aficionado presidente da Câmara de Monforte, a quem o grupo da terra brindou uma pega.

Fotos Maria Mil~Homens