Miguel Alvarenga - Viram-se toiros bonitos, alguns imponentes mesmo, casos, sobretudo, dos de Fernandes de Castro (705 quilos!) e de Sommer d'Andrade, houve toiros exigentes e ásperos, a impor respeito e a transmitir perigo e verdade, mas, feitas as contas, a realidade é que a montanha pariu um rato.
A "corrida assustadora" (concurso de ganadarias) que tanto deu que falar em Vila Franca, acabou por ser uma corrida normal, igual a muitas. Não houve propriamente grandes sustos, nenhum forcado ficou ferido (graças a Deus!), os toiros não complicaram demais a vida aos forcados, muito menos aos cavaleiros. E, apesar de todas as histórias e historietas de cordel, o público não manifestou grande interesse em ir ver os toirões que, da outra vez, dizem as más línguas, até levaram os outros cavaleiros a alegar que o piso estava impróprio para não lhes fazerem frente... Para sermos simpáticos, poder-se-à dizer que a "Palha Blanco" registou uma entrada de "quase meia casa", mas a verdade é que esteve apenas um quarto da lotação preenchido.
Em Coruche também não houve público. Agora falam do calor... À mesma hora, a Monumental de Madrid, com mais calor que por cá, esteve esgotada com 22.964 espectadores. Há algumas diferenças entre Portugal e Espanha...
Os toiros "de terror" foram lidados sem problemas de maior, alguns foram aplaudidos mal entraram em cena, isto é, na arena (casos dos toiros de Fernandes de Castro, de Vale de Sorraia e de Sommer), dois foram contemplados com volta à arena (Castro e Sommer), foi uma corrida de respeito, sim senhor, mas...
A aparelhagem sonora da "Palha Blanco" consegue ser ainda pior que a do Campo Pequeno. Vimos uma senhora cheia de boa vontade, com um microfone na mão, a falar muito, mas ninguém entendeu patavina do que dizia... No final, percebeu-se que os prémios de bravura e de apresentação foram ambos para o toiro de Sommer... e o pessoal protestou com sonoros apupos, especialmente quando se percebeu que o prémio de apresentação, que todos pensavam que seria atribuído ao toiro de Castro, foi entregue ao de Sommer...
Percebeu-se também que foi entregue um prémio aos Forcados de Vila Franca, disseram-me depois que foi distinguido como melhor grupo em praça, mas nos programas não havia qualquer referência, que eu tivesse visto, à existência desse troféu...
E depois disseram que Salgueiro da Costa passara para a corrida nocturna de terça-feira na Feira de Outubro e ninguém percebeu a razão pela qual fora ele o eleito, quando Tristão ontem esteve uns furos acima, mas depois explicaram-me que no início da corrida tinham anunciado que, afinal, passavam os dois, como prémio por terem aceite tourear esta corrida e estes toiros. Muito bem. Miguel Moura já lá estava, o cartel de terça-feira de Outubro fica assim composto por Salgueiro da Costa, Miguel Moura e Tristão Telles Queiroz.
Antes da corrida, houve alguns episódios de exaltação de aficionados junto às bilheteiras - e isso podia ter sido evitado. A maioria das pessoas tinha bilhetes com a data anterior (4 de Maio) e os mesmos não eram válidos para se entrar na praça, tinha que se ir trocá-los na bilheteira... Uma trapalhada reveladora de alguma desorganização dos organizadores...
Bom, mas vamos aos toiros! E aos toureiros.
João Salgueiro da Costa andou regular no primeiro, que era o de Condessa de Sobral, um toiro bonito e que pedia contas. Não teve grande matéria prima para brilhar na sua segunda intervenção, frente ao toiro de Canas Vigouroux, terceiro da ordem, reservado, refugiado em tábuas. E teve a sua melhor actuação no quinto toiro, o exigente e bonito exemplar da ganadaria Sommer, um toiro sério e com transmissão, com o qual pôde por fim pôr em prática a sua arte, a sua muita raça e o seu valor. Esteve Salgueiro muito bem nesta terceira actuação.
Tristão Telles Queiroz andou ontem uns furos acima do seu companheiro de mano-a-mano. Lidou, por esta ordem, os toiros de Fernandes de Castro, de Vale do Sorraia e de Assunção Coimbra. E, cheio de garra e de atitude, recebeu os três com emotivas sortes de gaiola, protagonizando depois três brilhantes e notáveis actuações, arriscando, ousando, pisando terrenos de risco, entrando pelos toiros dentro, causando calafrios na bancada. Uma grande tarde de afirmação do novo Ribeiro Telles.
Nota alta para os bandarilheiros das duas quadrilhas: Tiago Santos, Francisco Marques e Duarte Silva (de Salgueiro); Duarte Alegrete, António Telles Bastos e Benito Moura (de Tristão).
Pegas rijas dos grupos de Montemor (José María Cortes Pena Monteiro à primeira; Joel Santos à terceira; e Vasco Ponce à primeira) e de Vila Franca (o cabo Vasco Pereira ao segundo intento; e Miguel Faria e Lucas Gonçalves, ambos à primeira tentativa). Ao longo do dia, mostraremos aqui as sequências das seis pegas.
A corrida foi bem dirigida por Ruben Fragoso (um director que nunca tinha visto...), que esteve assessorado pelo médico veterinário Jorge Moreira da Silva. Toques a cargo de José Henriques.
Fernando Paulo Ferreira, Presidente da Câmara de Vila Franca, presidiu à corrida, honrando uma vez mais a tauromaquia com a sua presença.
Em suma: uma corrida com pouca assistência, onde se esperava muita emoção, de que se contaram muitas estórias, mas que foi, afinal, uma tourada normal, igual a tantas. A montanha pariu um rato...
Esta corrida constituiu "o primeiro dia do resto da vida" do novo empresário Bernardo Alexandre, que sucede a Ricardo Levesinho ao leme da "Palha Blanco". Vontade, dedicação e empenho não faltaram à nova equipa gestora da praça (composta ainda por Rui Gato Rodrigues, Ricardo Castelo e Eduardo Borba de Castro), mas a verdade é que, apesar da polémica de Maio, da montagem de um novo elenco e de todas as estórias que se contaram sobre os toiros, o público não se convenceu e não foi à corrida...
"Isto é Vila Franca!" - lia-se num cartaz colocado junto da Banda do Ateneu (foto de cima). É? Então é pena... Mas Vila Franca não é "isto"! Não pode ser "isto"! Vila Franca é muito mais que "isto"!
Fotos M. Alvarenga
Público faltou à "Palha Blanco"... |
Dois bons momentos de Salgueiro com os toiros de Condessa de Sobral e Sommer d'Andrade (vencedor dos dois prémios) |
Tristão empolgou com ferros de alto risco. Nestas duas fotos, com os toiros de Castro e Coimbra |