Miguel Alvarenga - Recarrego baterias entre o reino dos Algarves e o de Espanha. Em belíssima companhia. No meio de tanto descanso, li e não queria acreditar. O Ministério Público predispôs-se, na sequência da vergonhosa campanha lançada pela Esquerda Folclórica (aproveitando-se da trágica morte de um jovem de 22 anos), a abrir um inquérito à morte do forcado Manuel Maria Trindade, ocorrida no passado dia 22 na arena do Campo Pequeno quando pegava um toiro da ganadaria Vinhas. Isto só acontece nesta espécie de país. Num país normal, e num Estado de direito, não passa pela cabeça de ninguém que aconteça uma coisa destas...
Só para lembrar um caso e não perder tempo com outros mais: há 45 anos foram assassinados o Primeiro-Ministro e o Ministro da Defesa deste país num "acidente" de aviação (em Camarate) e até hoje não houve nenhum Ministério Público capaz de investigar o que quer que fosse. Pelo contrário, desinvestigou-se tudo e nunca se chegou a conclusão alguma.
Agora, pasme-se, o Ministério Público anuncia a abertura de um inquérito para investigar as causas da morte de um jovem forcado (que já foi autopsiado e cremado) morto por um toiro numa arena.
Não é só ridículo e comprovativo de que a Justiça está podre nesta brincadeira a que chamam um país. É, bem mais grave que tudo o mais, é uma inquietante e inacreditável falta de respeito pela memória de um jovem que morreu na cara de um toiro e pelo luto de seus Pais, restante família e amigos.
Nem vale a pena lembrar, também, a falta de respeito manifestada pelo ainda Presidente da República, que no site oficial da Presidência apresentou as suas condolências a todos e mais a algum - e esqueceu por completo a tragédia do forcado que morreu no Campo Pequeno.
Marcelo fica na História, infelizmente, como o pior Presidente da República desta espécie de país nos últimos 50 anos. Mas podia ter um bocado mais de respeito pela memória de um jovem que perdeu a vida interpretando uma das maiores e mais apreciadas tradições da nossa cultura - a pega de caras. Que noutros tempos, os do "fascismo", era um dos importantes cartazes de promoção de Portugal.
A história da investigação do Ministério Público à morte de um forcado na arena do Campo Pequeno daria vontade de rir, se não retratasse uma situação tão vergonhosa e tão degradante do estado a que a (in)Justiça chegou.
O que é que o Ministério Público vai investigar? Manda prender o toiro? Coloca a representante da ganadaria Vinhas e os empresários promotores da tourada em que a tragédia ocorreu em prisão domiciliária, com pulseira electrónica? Ridículo demais para ser verdade...
Infelizmente, os aficionados portugueses não são militantes nem são unidos. Mas neste momento é necessário e urgente que o sejam. É necessário e urgente que deitemos os orgulhos, as invejas, as divergências para trás das costas e que nos unamos - enchendo as praças de toiros nas próximas corridas todas. A começar pelo Campo Pequeno nesta sexta-feira. Dizem que a lotação já está esgotada. Ainda bem.
É a melhor resposta que podemos dar a todo este histerismo que os anti-taurinos provocaram, aproveitando-se - vergonhosamente - da morte de um jovem forcado de 22 anos para reacender todas as polémicas e todas as bandeiras que normalmente utilizam para tentar destruir a Festa Brava.
É tempo de darmos as mãos e mostrarmos a nossa força. Em nome do futuro da Festa Brava. Em nome, acima de tudo, da memória de um dos nossos - que morreu no seu lugar e a fazer aquilo que gostava, pegar toiros.
Foto M. Alvarenga