quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Ramón Serrano, o rejoneador mexicano que foi "Rei do Quiebro"

Aventureiro, excêntrico e ousado, Ramón Serrano Segovia cedo demonstrou a sua apetência pela arte do toureio a cavalo, uma opção que não tinha quaisquer antecedentes no seio da sua família.

Começou a aprender a arte com Gastón Santos (já falecido, que foi o primeiro cavaleiro mexicano a receber a alternativa em Portugal, das mãos de Mestre João Núncio) e também com Pedro Louceiro, cavaleiro de Sousel que nos anos 60 se radicou no México.

Nascido na Cidade do México (em 6 de Abril de 1946), onde hoje morreu com 79 anos, Ramón Serrano tomou a alternativa em 2 de Setembro de 1979 em San Luis Potosí, das mãos de Gastón Santos, numa corrida em que actuaram também Pedro Louceiro, Gerardo Trueba, Jorge Hernández AndrésRaúl Arredondo, com toiros da ganadaria La Plaza.

No ano de 1984 veio a Portugal com intenção de por cá fazer campanha. Instalou-se no lisboeta Hotel Ritz, onde promoveu um grande beberete para se apresentar à imprensa e em especial à crítica taurina, e nesse ano toureou em várias praças nacionais.

Em Setembro fez a sua estreia no Campo Pequeno numa corrida promovida pelo saudoso empresário Manuel Gonçalves, em que alternou com José Mestre Batista e João Ribeiro Telles e os grupos de forcados de Lisboa e Lusitanos, com toiros de Pinto Barreiros.

Participou ainda numa outra corrida em Vila Nova da Barquinha, ao lado de Mestre Batista e Paulo Caetano, tendo sido essa a sua última actuação em Portugal.

Só regressou ao nosso país 33 anos depois, em 2017, para acompanhar sua filha, a também cavaleira Mónica Serrano, que aqui participou num escasso número de corridas.

Nessa altura, em declarações ao "Farpas", Ramón Serrano recordou a sua estreia em Portugal em 1984 e em particular a corrida do se debute no Campo Pequeno:

"Foi uma corrida incrível e da qual nunca mais me esqueci. Passei uma época inolvidável em Portugal e toureei com as grandes figuras desse tempo, mas aquele de que guardo uma memória especial é sem dúvida José Mestre Batista. Toureámos juntos nesse ano, no fim da temporada, na praça da Barquinha, nós os dois e o Paulo Caetano. E essa foi uma das últimas corridas de Mestre Batista, que morreu no início do ano seguinte".


"Estou muito encantado de estar de novo em Lisboa, a cidade está linda e a praça do Campo Pequeno, onde ainda não voltei a entrar, só conheço de fotografias, está fantástica e é hoje uma das catedrais do toureio mundial, onde vêm as grandes figuras, mas eu ainda sou à antiga e faz-me alguma confusão ver a praça fechada..."confessou Ramón Serrano ao "Farpas" nessa última vez em que esteve no nosso país.


Em meados da década de 80, depois de se separar de João Moura, Fernando Camacho viveu uns anos no México como manager de Ramón Serrano. E foi precisamente Camacho que o baptizou como o "Rei do Quiebro", por esse arrojada sorte cambiada que executava com o célebre cavalo branco "Amoroso".


Durante os anos em que exerceu a actividade de cavaleiro tauromáquico, Ramón Serrano teve sempre a seu lado, como equitadores da sua quadra, destacadas figuras do toureio de Portugal, entre os quais Vitor Ribeiro (pai) e Gustavo Zenkl


Fotos Saltillense, Maria Mil-Homens e D.R.


Ramón Serrano no seu tempo de rejoneador
Com a filha Mónica
Salão Nobre da praça do Campo Pequeno, Setembro de 1984, no
acto de apresentação da corrida do seu debute em Lisboa. Da
esquerda para a direita: João (filho de Mestre Batista), Ramón
Serrano, José Mestre Batista e o empresário Manuel Gonçalves

1 de Maio de 2017 em Beja (Corrida Ovibeja): o saudoso António
M. Cardoso "Nené", Ramón Serrano, M. Alvarenga e Mónica
Serrano

33 anos depois de ter feito campanha entre nós,
Ramón Serrano voltou a Portugal em 2017. Foi a
última vez que cá esteve