segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Se os outros calam, contamos nós!

Como dizia Saraiva Mendes, que na crítica e no jornalismo foi mestre de mestres, diz-se por aí tanta coisa... que alguma há-de ser verdade. E neste fim de temporada anda por aí imensa coisa no ar. Tanta, que não arriscamos muito se dissermos que alguma há-de ser mesmo verdade. Vamos por partes.

É triste, mas é a mentalidade que existe, que uma pessoa passe de bestial a besta à velocidade de um clique, mais rápido ainda que à velocidade do som. 

É legítimo que se critique - e se repreenda - o empresário Ricardo Levesinho por ter abandalhado as coisas como abandalhou na tristemente célebre corrida de 6 de Outubro que ficou cancelada em Vila Franca

Mas já não é legítimo, nem moralmente aceitável, que se esqueça todo o belíssimo trabalho que Levesinho desempenhou nas várias praças e nos apoderamentos que geriu desde que em 2008 chegou à Festa e iniciou a sua actividade empresarial na "Palha Blanco", apadrinhado pelo saudoso Manuel Gonçalves.

O mundo de Levesinho parece ter desmoronado, sem que ninguém entenda o que causou essa queda brutal e onde (e qual) foi o epicentro desse terramoto. De um momento para o outro, afogou-se em dívidas, deixou de cumprir com a regularidade com que cumpria sempre como se fosse o trabalhar de um relógio suíço, com uma tremenda precisão. E veio tudo por aí abaixo...

Eu próprio aqui escrevi variadas vezes - e ainda na véspera da corrida fatal - que Ricardo Levesinho é um grande empresário, dinâmico, conhecedor e empreendedor, e está uns furos acima dos seus pares. Mantenho o que escrevi. Sem continuar, no entanto, a perceber os porquês que levaram à queda de Levesinho.

Em Vila Franca, ele sabia que tinha que ter sobreros para as lides a pé. Mas não tratou disso. Cedeu às pressões dos matadores para que viessem uns toiritos espanhóis de Nuñez, como se não houvesse em Portugal toiros para o toureio a pé. 

Ainda este ano, Ferrera e Borja Jiménez lidaram por cá toiros de Manuel VeigaAntónio João Ferreira triunfou há dias em Azambuja com um toiro de cinco anos de Dias Coutinho. Nuno Casquinha triunfou também no Montijo com um toiro nada fácil de Pégoras. E as excelências da tourada de Vila Franca exigiram toiritos de Nuñez "à medida". Três passaram à tangente e um foi recusado. E Levesinho não tinha sobreros, a não ser os da lide a cavalo... Inadmissível. 

Também lhe faltaram argumentos para dar a volta à situação, fosse como fosse, substituindo os matadores, transformando aquilo num mano-a-mano entre os cavaleiros, sei lá, mas nunca cancelando a corrida. Preferiu baixar os braços e anunciar que não havia corrida. E não esteve nada bem, no primeiro e curtíssimo comunicado, atirando as culpas para cima dos dois matadores. Pior ainda no segundo comunicado. Pior a emenda que o soneto. Muitíssimo pior. Faltou-lhe um conselheiro à altura...

Há que o repreender, repito. Mas não é caso para crucificar na praça pública um empresário que deu sobejas provas altamente positivas ao longo de mais de vinte anos. Dizem-me que em Vila Franca até houve uma tentativa de agressão a seu pai. Inadmissível...

Certamente abatido e desmoralizado com tudo isto, Ricardo Levesinho anunciou a seguir ao escândalo que fechava a porta e não ia continuar à frente da "Palha Blanco". Ainda tinha um ano de opção, mas abdicou do direito, entregou as chaves. Foi-se embora por causa de... um sobrero. Mas a realidade é que por detrás desse sobrero, já havia muitos mais "sobreros" a deixá-lo sem sono... Os problemas eram uma bola de neve...

Diz-se agora que vai também entregar - ou que até já o fez - as chaves da praça da Moita. E que vai fazer a travessia do deserto, até se recompor, deixando também os apoderamentos de João Ribeiro Telles e de Tristão Telles Queiroz (este mais entregue a seu irmão Rui Levesinho)...

Ricardo Levesinho é um empresário que faz falta. Tentará agora recompor-se do naufrágio em que se terá transformado a sua vida profissional e era bom que voltasse... 

O caso de Levesinho faz-me lembrar o caso do saudoso José Lino. Foi um dos maiores e mais visionários empresários taurinos nacionais, esteve anos à frente da praça da Moita - e acabou só e abandonado, entregue à sua sorte, sem a maioria dos amigos que antes lhe batiam nas costas. É triste que as coisas sejam assim. Força, Ricardo!

E com a saída de Levesinho, torna-se uma incógnita o futuro da praça "Palha Blanco". E o da Moita, também. Mas, para já, o da "Palha Blanco"...

Os responsáveis da Santa Casa da Misericórdia, proprietária da praça, já fizeram constar que só haverá resoluções depois do fim deste mês, que é quando termina o contrato de Levesinho. Mas se ele já disse que não o pretende renovar, porque estão a perder tempo, porque não anunciam já um concurso ou a entrega directa da exploração a quem acharem merecê-lo?

Fala-se, claro, em muitos candidatos. Na empresa Toiros com Arte, com ou sem parceria com Pombeiro; em Luis Pires dos Santos (apoderado de Bastinhas); em Paulo Pessoa de Carvalho; talvez em José Luis Gomes; e noutros. 

E fala-se na possibilidade de a praça vir a ser gerida, como acontece em Santarém e no Cartaxo, por uma comissão integrada sobretudo por antigos forcados da terra e liderada por Vasco Dotti, ex-cabo dos Forcados de Vila Franca. Esse grupo já reabriu o Restaurante "Redondel", devolvendo-lhe em dia de corrida o carisma de outros tempos. É agora uma das hipóteses mais faladas para a sucessão de Levesinho e da empresa Tauroleve à frente dos destinos da centenária praça vilafranquense...

Mas também há quem fale na possibilidade de a Santa Casa optar por uma solução idêntica à de Almeirim, gerindo directamente a praça, mas entregando o comando do barco a Rui Bento... e aqui poderia entrar também José Alexandre, como adiante vos conto...

Quanto aos apoderamentos de Levesinho, tudo pode acontecer. João Ribeiro Telles já andou perto de Francisco Mendonça Mira, já andou em tempos perto de Rui Bento. Diz-se agora que pode optar por um apoderado espanhol e o nome de que se fala é o do seu amigo Carlos Zuñiga... mas também não se afasta a hipótese de poder ter o empresário Samuel Silva como manager... 

Esta célebre foto que o "Farpas" lhes tirou na última corrida do ano no Campo Pequeno ainda dá muito que falar...

Quanto a Tristão Telles Queiroz, diz-se que também anda muito perto de Francisco Mendonça Mira (apoderado de Moura Jr. e um dos três membros da Associação Gala da Tauromaquia), de que há bem pouco tempo se disse ir apoderar um trio de cavaleiros juntamente com os seus dois sócios Nuno Santana e Diogo Toorn... Eles estão muito caladinhos, mas que anda alguma coisa no ar, lá isso anda...

Outra das bombas que pode estoirar a qualquer momento é a separação de Francisco Palha e Rafael Vilhais, uma dupla unida pelo apoderamento há muitos anos e que parecia estar de pedra cal. Mas não está...

Diz-se também que Palha (que em tempos também esteve pertíssimo de Rui Bento...) pode juntar-se a Mendonça Mira. Mas não está também afastada a possibilidade de o senhor que se segue ser Samuel Silva, da empresa Toiros com Arte, de quem também se disse há muito pouco tempo que poderia vir a apoderar uma ou duas figuras do toureio...

Jorge Dias e Samuel Silva, os inovadores empresários da Toiros com Arte, ainda não decidiram se renovarão ou não a parceria com a Ovação e Palmas de Pombeiro para a temporada de 2025. A seguir à corrida de Coruche, fotografaram-se juntos e houve quem vaticinasse que a união continuava. Mas não é bem assim...

Eu sei que os sócios da Toiros com Arte vão sentar-se à mesa com Pombeiro depois do último festejo que promovem este ano, o festival do próximo domingo em Arruda dos Vinhos, para analisar em detalhe as vitórias e os erros que marcaram esta sua primeira temporada em grande e só depois irão decidir se continuam ou não a parceria...

Há quem diga que Samuel e Jorge tencionam reforçar a sua posição assumindo a gestão de pelo menos mais uma praça importante e reforçando a sua equipa, dotando-a de um maior profissionalismo. Desistir, como algumas más línguas aventaram, é palavra que não está no dicionário deles...

Entretanto, é já um dado adquirido que da equipa saíu Margarida Calqueiro, que há um ano saira do site "Tauronews" para ir assessorar a empresa Toiros com Arte e agora a deixa para abraçar novos projectos que, dizem, não têm a ver com toiros nem com touradas...

Não terá sido para alguns uma grande surpresa o final da relação de apoderamento que há mais de oito anos unia o matador João Silva "Juanito" ao empresário espanhol Joaquín Domínguez. Já andavam uns zunzuns no ar...

Mas agora, das duas uma: ou "Juanito" tem na manga um acordo com "um qualquer Simón Casas" de muito peso, ou então pode correr o risco de ficar na prateleira... Há quem me segrede que a estratégia do toureiro é tentar ser apoderado por Andrés Caballero... de quem nem está muito longe. Caballero é apoderado de Rui Fernandes e Hugo Silva, pai de "Juanito", é bandarilheiro da equipa de Fernandes... Estão próximos...

Depois do (muito) que perdeu com a precipitada ida a Madrid há dois anos, "Juanito" passou a tourear só nas praças de Domínguez na Extremadura espanhola. Se esse registo acabar, toureia onde?...

Depois de ter surpreendido tudo e todos com um triunfo memorável em Zafra, nada faria prever que viesse a terminar o apoderamento com Joaquín Domínguez. Um toureiro assim faz falta nas grandes feiras de Espanha e de França, nas primeiras praças de Portugal. Mas, de repente, subitamente, pumba, separa-se de quem ainda o podia pôr a tourear nas suas praças. E, ainda por cima, numa altura em que se diz que Domínguez pode vir a aumentar significativamente o seu espólio de praças de toiros...

Eu sei que não há coincidências, mas não deixa de ser curioso o facto de Daniel Luque e "Juanito", os matadores protagonistas da bronca de Vila Franca, se terem separado dos respectivos apoderados, Juan Bautista e Joaquín Domínguez, com poucos dias de distância e quinze dias depois desse escândalo vilafranquense...

E, repito, das duas, uma: ou "Juanito" tem escondido um plano b importantíssimo e que surpreenderá meio mundo; ou, infelizmente para ele e para todos nós, aficionados, senta-se na prateleira e diz adeus a um futuro de promissor sucesso... 

É estranho tudo isto acontecer depois de um triunfo tão avassalador em Zafra... Ou então tudo tem precisamente a ver com esse triunfo... Simón Casas estava lá e viu o momento que "Juanito" atravessa... Vamos aguardar serenamente...

Outro caso: a alternativa de Duarte Fernandes e o regresso de Diego Ventura a Portugal estiveram sobre a mesa de Pombeiro para 2025 no Campo Pequeno. Até se fizeram contas e se acertaram as partes. Mas a realidade é que nunca mais se juntaram, nunca mais trocaram palavra e agora Pombeiro até diz que essa corrida pode ir para Santarém... e deixa-a fugir-lhe das mãos no Campo Pequeno?...

E olhem que Pombeiro não estará muito longe da verdade. Diego Ventura toureou ontem em Alba de Tormes, ali para as bandas de Salamanca (cortou três orelhas e saíu em ombros com Emílio de Justo e Ismael Martín) e olhem quem estava na trincheira a assistir (bem visíveis na foto de cima): nada mais, nada menos, que Gonçalo Montoya, Diogo Sepúlveda e Bernardo Figueiredo, três dos homens fortes da Associação "Sector 9", gestora da Monumental de Santarém...

Ao que sei, foram ontem ter com Ventura - que os presenteou com três passes de callejón - para acertar a corrida de Santarém. E assim ficou Pombeiro uma vez mais de mãos a abanar... sem Ventura e sem a alternativa de Duarte Fernandes (dada por seu tio Rui Fernandes)...

Depois dos triunfos deste ano em Madrid, em Dax e há dias em Zaragoza, Duarte Fernandes, que ninguém tenha dúvidas, perfila-se não apenas como o cavaleiro-figura que vai ter que estar em 2025 nas primeiras feiras de Espanha, mas também como a mais interessante aposta em que deviam jogar os empresários portugueses... vão ficar mais um ano a dormir?...

À portuguesa, concerteza, diz-se que há barafunda na Golegã e guerra na capoeira, estando previstas (mas não certas) duas touradas no mesmo dia 9 de Novembro, ambas em praças portáteis e à mesma hora... Os deuses devem estar loucos, mas é este o estado a que chegou a nossa Festarola...

Vão surgir em breve novidades na Figueira da Foz. Terminou o contrato de adjudicação do Coliseu Figueirense à empresa Ovação e Palmas de Luis Miguel Pombeiro e há agora mais que uma hipótese no ar. Diz-se que a associação Coliseu Figueirense, proprietária da praça, quer entregar a sua gestão a Rui Bento. E diz-se também que pode levar a cabo um concurso. Candidatos não faltam...

E já que falo em Rui Bento, vou também falar de José Alexandre. Diz-se por aí que ambos se podem unir e concorrer, pelo menos, a duas praças. Têm a mesma escola de valores que aprenderam em Espanha. Têm pouco a ver com os empresários portugueses. Podia ser uma dupla de grande sucesso à frente de algumas praças nacionais... Fala-se disso...

Rui Bento prepara já, com grande antecedência, as temporadas da Nazaré e de Almeirim, depois de essas duas praças terem sido os palcos das principais corridas de 2024 em Portugal. A Almeirim, diz-ze, vai voltar em grande o toureio a pé na próxima temporada... e talvez logo em Maio...

Mas não se fica por aqui: vai haver grandes mexidas para as bandas de Rui Bento. Provavelmente mais praças em Portugal. E mais apoderamentos também. Mas em Espanha. Há dois matadores na calha e um deles é Ginés Marín...

Entretanto, mal soube esta manhã que eu ia contar hoje aqui algumas das coisas que sei, Madame Min apressou-se a inventar algumas coisinhas... só para mostrar que também sabe algumas coisitas, isto é, que o "sabão" não sou só eu...

Vai daí, garantiu que os Rouxinóis se iam separar de Rui Bento e rumar para as mãos de um novo "apoderado alentejano". Francisco Mira é alentejano, mas garantiu-nos logo que não é dele que Min fala. Rui Bento e os Rouxinóis riram imenso com a "notícia" da Madame. Até sábado, que é a última corrida de Luis Rouxinol, fica tudo como estava. Depois, e como acontece todos os anos, Rui Bento coloca o lugar à disposição. Mas fica tudo como dantes, garantem as duas partes. Madame Min não acertou no porta-aviões. Para variar, deu um tiro no mar...

Já há mexidas e novidades para as Sanjoaninas do ano que vem na Ilha Terceira. Não está confirmada a presença do novilheiro Tomás Bastos. Irão de Espanha dois matadores. A maior novidade diz respeito ao cavaleiro João Moura Júnior - que se encerrará com seis toiros na Monumental de Angra do Heroísmo...

Há mais novidades e este defeso promete ser um dos mais animados dos últimos anos. Mas não pode ser tudo de uma vez. Aguardem.

Fotos M. Alvarenga