segunda-feira, 26 de maio de 2025

As 6 pegas da histórica tarde de comemoração dos 50 anos do Aposento da Moita

Miguel Alvarenga - Houve toiros sérios e cavaleiros bravos, como já aqui referenciei. Mas a corrida deste sábado na Moita foi, acima de tudo, a grande festa do Grupo de Forcados Amadores do Aposento, que hoje mesmo, dia 25 de Maio, celebra o 50º aniversário da sua estreia (1975) e o festejou com um dia de antecedência para que a corrida fosse no sábado, ao contrário do que é costume nesta data da Feira de Maio, para não coincidir hoje com o Final da Taça Benfica-Sporting.

Diziam os antigos que festejar antecipadamente um aniversário dá azar. Mas ontem não deu. Exceptuando a preocupante colhida do veterano Fernando Parente, que ficou inconsciente na arena depois de sofrer uma violenta voltareta quando tentava pegar o quinto toiro da tarde, um sério e exigente exemplar de Veiga Teixeira (vencedor do prémio de apresentação), todas as pegas foram brilhantemente consumadas ao primeiro intento e algumas houve em que os intervenientes foram antigos forcados já retirados, caso da segunda da corrida, ao toiro de Conde de Murça, consumada à primeira tentativa pelo histórico João Camejo, forcado já afastado das lides há uns anos, que esteve enorme e contou com as ajudas de antigos companheiros também já retirados. Momento emotivo e alto de uma corrida que, no que aos forcados diz respeito, foi uma tarde de glória e de festa para celebrar meio século da fundação, por José Manuel Pires da Costa, daquele que é hoje um dos grandes grupos de forcados do país. A pega de Camejo foi um hino de valor e arte à nobre tradição portuguesa de pegar toiros. Uma lição para os mais novos.

Estavam presentes todos os cabos, à excepção de José Maria Bettencourt, ausente por motivos profissionais. À arena foram logo ao início da corrida, acompanhados por antigos e actuais elementos, os cabos José Manuel Pires da Costa (fundador), Manuel Vieira Duque, João Simões, Hélder Queiroz, Tiago Ribeiro, José Pedro Pires da Costa e Leonardo Mathias, que ontem se despediu, passando o testemunho a Luis Canto Moniz, 9º cabo da história do Aposento da Moita.

João Freitas foi o autor da primeira pega, ao toiro de Murteira Grave (prémio de bravura), consumando com decisão e muita técnica, bem ajudado pelos companheiros, destacando-se a rabejar o antigo cabo Tiago Ribeiro, que viria depois a rabejar mais três toiros, em intervenções muito aplaudidas.

A segunda pega foi a de João Camejo, enorme, fabuloso, como se os anos não tivessem passado, a lembrar a sua época gloriosa, outra vez a emocionar-nos com o seu poderio, a sua raça, a sua maestria. Uma pega para a história, que brindou aos filhos, com os quais deu depois a volta à arena, acompanhado pelo cavaleiro Francisco Palha. Que o deixou no centro, batendo-lhe as palmas. E a praça de pé a aplaudi-lo. Inesquecível. Quem sabe jamais esquece.

Leonardo Mathias brindou ao grupo e a sua Mulher e perfilou-se para fazer a última pega da sua carreira de quinze anos como forcado do Aposento da Moita, os último sete como cabo. Era o toiro de Varela Crujo, um toiro que pediu contas. Citou com a classe de sempre, templou a investida com arte, fechou-se com poderio, aguentou um derrote alto e dali não mais saiu, prontamente ajudado pelos seus companheiros. Pega grande a marcar com emoção o adeus às arenas. Deu a volta à arena com Tristão Telles Queiroz, seu primo direito, depois chamou Luis Canto Moniz, despiu a jaqueta e passou-lhe o testemunho com um grande e emotivo abraço, lágrimas nos olhos, a selar um ponto final numa carreira que foi de grande valor e tremenda dignidade. Mais uma volta sózinho à arena e por fim a calorosa ovação do público, com todos os forcados actuais na arena também a dizer-lhe adeus.

Depois do intervalo, a pega ao quarto toiro da corrida, da ganadaria Mata-o-Demo, foi consumada pelo novo cabo Luis Canto Moniz, que esteve bem e cheio de valor e garra, como é seu timbre. Pega notável, a marcar a estreia como cabo. Sorte que brindou primeiro ao grupo e depois aos céus, erguendo o seu barrete à memória de todos os que já nos deixaram.

O quinto toiro, de Veiga Teixeira, era um toiro exigente, sério e com poder. O veterano Fernando Parente, forcado grande nos seus tempos, saltou à arena para o pegar, mas sofreu um violento derrote na primeira tentativa, que o deixou inconsciente, vivendo-se momentos de grande angústia. Prontamente retirado de maca, com a ajuda de companheiros e de elementos dos Bombeiros, foi assistido na enfermaria e recuperou os sentidos. Não sofreu, graças a Deus, nenhuma lesão grave, e à noite já esteve presente no jantar de comemoração dos 50 anos do grupo. 

André Silva foi o forcado que dobrou Parente, consumando uma valorosa e emotivo pega na sua primeira intervenção, segunda tentativa efectiva para pegar o exemplar de Veiga Teixeira. Uma vez mais, excelente actuação do antigo cabo Tiago Ribeiro a rabejar, que depois acompanhou André na volta à arena com Francisco Palha e ainda ficou sózinho na arena com todo o público de pé a tributar-lhe emotiva e bem merecida homenagem.

O último toiro, da ganadaria espanhola de Conde de la Corte, foi bem pegado por António Ramalho, que embora não tenha despido a jaqueta, anunciou no brinde que fez ao companheiro Nuno Carvalho "Mata" que seria esta a última pega da sua vida. Pega brilhante, muito aplaudida na volta que deu à arena com Tristão, também acompanhado do primeiro ajuda José Maria Ferreira, que teve notável desempenho.

Em suma, uma tarde de glória, mais uma, para o Grupo do Aposento da Moita, com muitas das suas recordadas glórias de novo fardadas e os actuais a provarem que Leonardo Mathias deixa, de facto, um grande grupo a Luis Canto Moniz.

Ficam as fotos de uma tarde histórica. Ficam os nossos Parabéns ao Aposento da Moita.

Fotos M. Alvarenga










João Freitas na primeira grande pega ao toiro de Grave (prémio
bravura), com o ex-cabo Tiago Ribeiro a rabejar como só ele sabe


















Momento histórico: a monumental pega do veterano João
Camejo (forcado retirado) ao segundo toiro, de Conde de
Murça. Um hino de arte e valor!






























A última pega de Leonardo Mathias e o momento emotivo da
passagem de testemunho ao novo cabo Luis Canto Moniz. O
toiro era o da ganadaria Herds. Varela Crujo













Quarta pega, ao toiro de Mata-o-Demo: a primeira como cabo
do valoroso Luis Canto Moniz, um forcado de eleição












Fernando Parente, outro grande forcado já retirado, foi retirado
de maca ao tentar pegar o quinto toiro, de Veiga Teixeira. Graças
a Deus, não sofreu nenhuma lesão grave e à noite já marcou
presença no jantar do grupo












André Silva dobrou F. Parente e pegou o toiro de Veiga Teixeira
na sua primeira tentativa. Tiago Ribeiro voltou a rabejar como os
melhores e no final acompanhou André na volta à arena e ficou
depois sózinho nos tércios, recebendo calorosa ovação do público











Sexta pega foi a última de António Ramalho, que 
disse adeus às arenas. Brindou a Nuno "Mata". O
toiro era da ganadaria espanhola Conde de la Corte