Sem papas na língua e com a verticalidade e a fontalidade que o caracterizam, o ganadeiro João Folque, proprietário da emblemática ganadaria Palha, insurgiu-se contra o "brutal tércio de varas" infringido ao seu toiro na corrida Concurso de Ganadarias do passado domingo na Monumental de Madrid, pelo picador Carlos Prieto, da quadrilha do matador Jorge Herrero, afirmando:
"Foi uma selvajaria. Aquilo é coisa para tirar o carné (carteira profissional) ao matador e ao picador. Também vos digo que o pobre do picador faz o que o matador manda, mas isso não o exonera da culpa. Não nos equivoquemos".
O "acto de selvajaria" aconteceu no domingo passado naquela que foi a última corrida em Las Ventas antes do arranque da Feira de Outono. Lidavam-se toiros de seis distintas ganadarias em concurso, entre os quais dois portugueses, o de Palha (segundo da ordem) e um de Murteira Grave.
Actuavam os matadores Rubens Sanz (que confirmava a alternativa... com 47 anos), Javier Herrero e Gómez del Pilar.
Como recorda o site "Cultoro", foi "uma corrida concurso de ganadarias que passará à história tanto pelo notável actuação de Gómez del Pilar - roçou a saída em ombros - como pelo lamentável espectáculo vivido no tércio de varas do segundo toiro da tarde".
"O protagonista involuntário foi um toiro da lendária ganadaria Palha, que sofreu um tércio de varas absolutamente desmedido das mãos do picador Carlos Prieto, da quadrilha do matador Jorge Herrero. A cena, tão grotesca como evitável, gerou uma oleada de críticas. Tal como narrou Marco António Hierro na sua crónica toiro a toiro, o excessivo castigo com o cavalo (demasiados e violentos puyazos) provocou que o animal chegasse à muleta sem uma ponta de força, o que agrava ainda mais a falta se sensibilidade e de critério demonstrada na sorte de varas", escreve o site "Cultoro".
O ganadeiro João Folque pronunciou-se sobre o assunto em declarações ao programa "El Toril" da rádio Onda Madrid:
"Não gostei nada, foi uma selvajaria. Aquilo é coisa para retirarem a carteira profissional ao matador e ao picador. Foi demencial".
Para o famoso e prestigiado criador português, o problema não foi apenas a execução do tércio de varas, mas também a falta de preparação dos toureiros anunciados:
"Não se pode anunciar numa corrida concurso, na primeira praça do mundo, um senhor com 47 anos que vem confirmar a alternativa e outro com 41 anos que toureou uma corrida em Cuéllar. Não estão preparados. Estes toiros exigem muitíssimo, tanto em técnica, como em valor".
E disse mais:
"Um toureiro pouco placeado, vê-se anunciado com um toiro de 592 quilos na primeira praça do mundo e diz: 'Ui, vai-me sair um diabo dum Palha com quase 600 quilos, há que matá-lo', e sinceramente creio que não é assim".
"Quem ficou enganado foi o público que pagou a sua entrada para ir aos toiros e lhe cortaram, lhe adulteraram, parte do espectáculo. No final, o matador vai em bicos dos pés para casa depois de receber os mínimos", acrescenta João Folque,
Na sua opinião, o castigo devia ter sido exemplar:
"O picador Carlos Prieto foi sancionado com mil euros. Mas, na minha forma de ver, o mínimo era que tivessem anunciado a sanção pelos altifalantes da praça, para que o público, assim como o picador e o seu chefe de fila tivessem conhecimento da notícia no instante".
"A sanção tinha que ser como no futebol: ficar um certo tempo parado sem tourear. Se não, não vamos a lado nenhum. Aqui, a culpa têm-na todos, menos o toiro. Apesar de tudo o que sangrou, teve classe na muleta. E apesar da sua exigência, não foi um toiro que 'comesse' ninguém..." - afirmou o ganadeiro português, a terminar.
"Um final amargo para uma tarde que devia ter enaltecido a bravura e que acabou marcada pela incompetência e o abuso no ruedo mais importante do mundo" - conclui o site "Cultoro".
Fotos "Cultoro" e Plaza 1