sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Padilla, o novo ídolo de Lisboa e a história dos que o foram antes

40 anos depois de "Capea" e Ruiz Miguel, Juan José Padilla consagrou-se ontem
indiscutivelmente como o novo ídolo da aficion do Campo Pequeno!
Francisco Rivera "Paquirri" fotografado em 1969 no Campo Pequeno pelo então
jovem aficionado Miguel Alvarenga
"Niño de la Capea" no Campo Pequeno, anos 70, em mais uma Corrida da
Imprensa, com os jornalistas Miguel Alvarenga e José Sampaio
Pedro Gutiérrez Moya "Niño de la Capea" no Campo Pequeno com o saudoso
Fernando Camacho, o último dos grandes taurinos deste país
Anos 70, no restaurante lisboeta "O Polícia", depois de mais uma Corrida da
Imprensa no Campo Pequeno, fotografados por João Carlos D'Alvarenga: "Niño
de la Capea" e Francisco Ruiz Miguel, os dois últimos grandes ídolos da aficion
de Lisboa, há quarenta anos
Francisco Ruiz Miguel e Miguel Alvarenga no restaurante
"O Polícia", em Lisboa, depois de uma das célebres Corridas
da Imprensa nos anos 70 no Campo Pequeno...
... e os dois numa foto actual
Francisco Román "Currillo": sem nunca ter sido
uma figura do toureio em Espanha, foi durante
alguns anos um dos mais aplaudidos ídolos do
público do Campo Pequeno
Cartaz com as figuras contratadas para a temporada de 1974 no Campo Pequeno
Noites de ouro do toureio a pé nos anos 70 no Campo Pequeno: "Paquirri" e
a apresentação em Lisboa de Júlio Robles
Agosto de 1973: Dámaso González e "Currillo", "dois grandes de Espanha
frente-a-frente"
no Campo Pequeno
Cartaz de uma corrida em 1978, com Chibanga e Dámaso González, que era
anunciado sempre que vinha como "o toureiro que empolgou Portugal" (cartaz
em baixo à esquerda). "Paquirri" (cartaz em baixo à direita) foi ídolo de Lisboa
no final dos anos 60, início da década de 70



Miguel Alvarenga - Quarenta anos depois de "Niño de la Capea" e Francisco Ruiz Miguel terem protagonizado a última grande parelha de matadores que foram ídolos do Campo Pequeno (e que enchiam a praça cada vez que cá vinham), Lisboa encontrou finalmente um sucessor: Juan José Padilla proclamou-se na última quinta-feira (ontem) como indiscutível ídolo da aficion lisboeta. Foi a sua segunda actuação na capital, depois da estreia em Julho e voltou a sair em ombros pela porta grande, o que o acaba de consagrar como o novo e incontestado ídolo do público de Lisboa e do Campo Pequeno.
Há quarenta anos que Lisboa não tinha um ídolo no toureio a pé, depois dos célebres anos de 40 em que o mexicano Gregório García parava o trânsito na capital e depois de o famoso Curro Romero, no início da década de 60, ter uma tarde percorrido aos ombros da multidão eufórica o percurso que separa a praça de toiros do Campo Pequeno do Hotel Avenida Palace no Restauradores.
Francisco Rivera "Paquirri" foi o grande ídolo da aficion de Lisboa nos últimos anos da década de 60, início dos anos 70. Era anunciado com pompa e circunstância e era capa do programa de mão sempre que vinha a Lisboa. O empresário Manuel dos Santos e José Cardal tinham um saber especial de como se promoviam figuras. A "Paquirri" seguiu-se nos anos 70 um outro toureiro que passou a ser anunciado nos cartazes como "o toureiro que empolgou Portugal", chamava-se Dámaso González. Veio e fartou-se de vir ao Campo Pequeno, enchendo sempre a praça e competindo com os grandes matadores lusos da altura, especialmente com José Falcão e Ricardo Chibanga - que ontem foi brindado com calorosa e prolongada ovação quando Padilla lhe dedicou a sua segunda faena.
Ainda nos anos 70, já na recta final dessa década e no período que antecedeu a entrada em força no Campo Pequeno da dupla "Niño de la Capea"/Ruiz Miguel, houve um jovem matador que chegou também a atingir, como todo o mérito, o estatuto de ídolo do Campo Pequeno. Foi Francisco Nuñez Ramón "Currillo".
Pedro Gutiérrez Moya "Niño de la Capea" e Francisco Ruiz Miguel foram os dois últimos grandes ídolos do Campo Pequeno, ainda no início dos anos 80. Chegaram a tourear mais que uma vez juntos naquela que era a mais esperada corrida da temporada lisboeta, a da Imprensa, sempre na primeira quinta-feira de Agosto, mista, organizada pelos jornalistas José Sampaio e Raul Nascimento.
Veio a seguir a nova época de ouro do toureio a cavalo com a aparição do fenómeno João Moura e de todos os cavaleiros que com ele vieram reforçar o painel de ginetes nacionais e a verdade é que o toureio a pé começou a perder força e raras começaram a ser as corridas mistas, até desaparecerem por completo.
O incremento dado pela actual empresa do Campo Pequeno ao toureio a pé nos últimos dez anos e que praticamente só "pegou" forte na última temporada depois do enorme sucesso de "El Juli" em Lisboa, acabou por levar também outras empresas, casos de Paulo Pessoa de Carvalho e Ricardo Levesinho e, mais recentemente, Rafael Vilhais (que este ano também contribuiu de forma decisiva para reforçar o ressurgimento do toureio a pé fazendo em Salvaterra a apresentação do matador peruano Roca Rey), entre outros, a (re)apostar no toureio a pé. E a verdade é que já este ano, graças a Morante e Álamo e depois a Padilla, Lisboa voltou a viver a paixão pelo toureio a pé como não acontecia há quatro décadas.
O trabalho está feito. Agora basta dar-lhe continuidade e não deixar que tudo morra outra vez.

Fotos Frederico Henriques/@Campo Pequeno, João Carlos D'Alvarenga/Arquivo e D.R.