O génio do toureio a cavalo está de volta às arenas, não propriamente como antigamente, em que somava trinta ou quarenta corridas por ano, mas para participar pelo menos em cinco, que serão cinco acontecimentos para marcar a temporada. João Salgueiro toureia já no próximo domingo 1 de Maio no Cartaxo numa grande corrida de confronto de dinastias, em que reparte cartel com seu filho João Salgueiro da Costa, com Rui Fernandes e com o sobrinho deste, o jovem Duarte Fernandes. A oito dias da corrida, João Salgueiro falou ao “Farpas” das suas expectativas para a temporada da reaparição e sobretudo para essa primeira corrida no Cartaxo.
Entrevista de Miguel Alvarenga
- Porquê João um regresso às arenas este ano, pelo menos com mais força do que tem acontecido nas últimas temporadas? É um regresso definitivo?
- Bom, digamos que este ano é um regresso com mais força. Nos últimos anos toureei pouco, como sabes. Toureei na Chamusca, toureei em Monforte na comemoração do aniversário da alternativa do Paulo Caetano, toureei na Barquinha, foram acontecimentos de ocasião. Desta vez vou tourear quatro ou cinco corridas e aquilo que eu gostaria era de tourear todos os anos algumas corridas, não com a frequência com o fazia antigamente com campanhas de trinta ou quarenta corridas, quem está agora no momento de fazer isso é o meu filho, e não eu. Mas gostava de todos os anos marcar presença em quatro ou cinco eventos, enquanto se justificar, enquanto o público o quiser e enquanto os empresários também assim o entenderem. E se fosse benéfico para a Festa, acho que era bom que isso acontecesse. Não se trata, portanto, de um regresso em força, nem sei se será um regresso definitivo, mas espero que Deus me dê saúde para poder continuar a tourear.
- Como encaras esta corrida de domingo no Cartaxo, este confronto de dinastias?
- A corrida de domingo no Cartaxo é uma corrida que eu encaro com um misto de responsabilidade, de alegria, de achar que se está a fazer um grande trabalho, foi um desafio de uma nova associação que pretende elevar a praça do Cartaxo ao mais alto nível e aceitei-o com todo o gosto. A intenção e o trabalho que tem estado a ser desenvolvido por todos é no sentido de fazer sempre grandes espectáculos na praça do Cartaxo para que seja uma praça onde os aficionados queiram ir e as figuras querem lá ir tourear. Penso que há um volte-face importante na forma como esta nova associação está a gerir a praça do Cartaxo, não quero dizer com isso que tenha sido mal gerida anteriormente, mas penso que há hoje uma outra ambição destas gentes do Cartaxo e eu não posso deixar de estar com eles, é a minha terra, vivo aqui, sou de Valada do Ribatejo, que é do concelho do Cartaxo e não podia deixar de estar ao lado deles na tentativa de, como disse, elevarmos o mais alto possível esta praça. Por isso, este confronto de dinastias para mim também é especial, porque tenho uma relação de grande empatia e de admiração pelo Rui Fernandes e pela sua família, em especial uma grande amizade com o seu pai há muitos anos e uma grande admiração como toureiro pelo Rui. E já há algum tempo que vínhamos falando em querer fazer este bonito cartel, surgiu aqui no Cartaxo, achámos que era o momento de o fazer, penso que vai ser um acontecimento único. A trajectória do Rui Fernandes todos a conhecemos e admiramos, o seu sobrinho promete muito, assim como o meu filho, penso que estão reunidos todos os ingredientes para que o público se possa divertir com um grande espectáculo. O Rui Fernandes, por mais estranho que pareça, ao longo da sua grande trajectória, nunca toureou no Cartaxo, por isso fará no domingo o seu debute nesta praça. E o facto de eu reaparecer no Cartaxo vai ser também importante, sinto que as pessoas estão a aderir à corrida. Vai ser uma bonita tarde de toiros. Diferente, pelo menos.
- Mesmo afastado das arenas e toureando apenas pontualmente, tens montado, sentes-te preparado?
- Sim, tenho montado sempre, tenho a minha coudelaria, que levo com o meu filho, temos os cavalos do ferro da casa e isso deu-me sempre muita ilusão para continuar a montar. Há semanas em que monto menos, outras em que monto mais, mas nunca deixei de o fazer e de tourear vacas, fui estando sempre em forma. Por isso, sinto-me preparado e agora, desde que decidi fazer estas corridas nesta temporada, tenho intensificado mais os treinos, a responsabilidade é maior. É diferente montar sem estar a tourear e montar, como agora, com o objectivo de ter uma corrida. Mas sempre estive preparado para, de repente, tourear um festival, uma corrida, um evento qualquer.
- Este ano vamos ver-te no Cartaxo, depois em Lisboa, em Coruche e na Ilha Terceira. Mais alguma corrida em perspectiva?
- Essas corridas de que falaste já estão marcadas, sim, vou ao Cartaxo, a Lisboa, a Coruche e à Ilha Terceira. Poderá haver pelo menos mais uma corrida que ainda não está divulgada, mas não quero ser eu a divulgá-la, os empresários é que têm que o fazer, mas posso adiantar que pode haver mais uma corrida no final da temporada. Vão ser cinco, não mais do que isso.
- O facto de as empresas estarem a apostar forte no regresso de um toureiro com o teu “calibre” pode significar que não existem hoje toureiros da craveira de um João Salgueiro e por isso é preciso recorrer de novo a ti?…
- Penso que as empresas têm sempre interesse em toureiros que marcaram de alguma maneira a Tauromaquia. Eu sinto-me bem, sinto-me preparado, sinto-me ainda novo para poder corresponder. Os toureiros nunca são demais, somos todos diferentes, temos todos o nosso sítio e o nosso espaço na Festa. Por isso, todos os toureiros são benvindos, penso eu. O facto de eu reaparecer este ano também é uma novidade, porque tenho toureado pouco nas últimas temporadas, penso que será uma agradável surpresa e um aliciante para o público e para as empresas verem-me novamente. Mas, respondendo à questão, o meu regresso não significa, de forma alguma, que não haja bons cavaleiros neste momento. Há até muitos!
Fotos D.R. e Emílio de Jesus/Arquivo