Miguel Alvarenga - Houve toiros sérios e cavaleiros bravos, como já aqui referenciei. Mas a corrida deste sábado na Moita foi, acima de tudo, a grande festa do Grupo de Forcados Amadores do Aposento, que hoje mesmo, dia 25 de Maio, celebra o 50º aniversário da sua estreia (1975) e o festejou com um dia de antecedência para que a corrida fosse no sábado, ao contrário do que é costume nesta data da Feira de Maio, para não coincidir hoje com o Final da Taça Benfica-Sporting.
Diziam os antigos que festejar antecipadamente um aniversário dá azar. Mas ontem não deu. Exceptuando a preocupante colhida do veterano Fernando Parente, que ficou inconsciente na arena depois de sofrer uma violenta voltareta quando tentava pegar o quinto toiro da tarde, um sério e exigente exemplar de Veiga Teixeira (vencedor do prémio de apresentação), todas as pegas foram brilhantemente consumadas ao primeiro intento e algumas houve em que os intervenientes foram antigos forcados já retirados, caso da segunda da corrida, ao toiro de Conde de Murça, consumada à primeira tentativa pelo histórico João Camejo, forcado já afastado das lides há uns anos, que esteve enorme e contou com as ajudas de antigos companheiros também já retirados. Momento emotivo e alto de uma corrida que, no que aos forcados diz respeito, foi uma tarde de glória e de festa para celebrar meio século da fundação, por José Manuel Pires da Costa, daquele que é hoje um dos grandes grupos de forcados do país. A pega de Camejo foi um hino de valor e arte à nobre tradição portuguesa de pegar toiros. Uma lição para os mais novos.
Estavam presentes todos os cabos, à excepção de José Maria Bettencourt, ausente por motivos profissionais. À arena foram logo ao início da corrida, acompanhados por antigos e actuais elementos, os cabos José Manuel Pires da Costa (fundador), Manuel Vieira Duque, João Simões, Hélder Queiroz, Tiago Ribeiro, José Pedro Pires da Costa e Leonardo Mathias, que ontem se despediu, passando o testemunho a Luis Canto Moniz, 9º cabo da história do Aposento da Moita.
João Freitas foi o autor da primeira pega, ao toiro de Murteira Grave (prémio de bravura), consumando com decisão e muita técnica, bem ajudado pelos companheiros, destacando-se a rabejar o antigo cabo Tiago Ribeiro, que viria depois a rabejar mais três toiros, em intervenções muito aplaudidas.
A segunda pega foi a de João Camejo, enorme, fabuloso, como se os anos não tivessem passado, a lembrar a sua época gloriosa, outra vez a emocionar-nos com o seu poderio, a sua raça, a sua maestria. Uma pega para a história, que brindou aos filhos, com os quais deu depois a volta à arena, acompanhado pelo cavaleiro Francisco Palha. Que o deixou no centro, batendo-lhe as palmas. E a praça de pé a aplaudi-lo. Inesquecível. Quem sabe jamais esquece.
Leonardo Mathias brindou ao grupo e a sua Mulher e perfilou-se para fazer a última pega da sua carreira de quinze anos como forcado do Aposento da Moita, os último sete como cabo. Era o toiro de Varela Crujo, um toiro que pediu contas. Citou com a classe de sempre, templou a investida com arte, fechou-se com poderio, aguentou um derrote alto e dali não mais saiu, prontamente ajudado pelos seus companheiros. Pega grande a marcar com emoção o adeus às arenas. Deu a volta à arena com Tristão Telles Queiroz, seu primo direito, depois chamou Luis Canto Moniz, despiu a jaqueta e passou-lhe o testemunho com um grande e emotivo abraço, lágrimas nos olhos, a selar um ponto final numa carreira que foi de grande valor e tremenda dignidade. Mais uma volta sózinho à arena e por fim a calorosa ovação do público, com todos os forcados actuais na arena também a dizer-lhe adeus.
Depois do intervalo, a pega ao quarto toiro da corrida, da ganadaria Mata-o-Demo, foi consumada pelo novo cabo Luis Canto Moniz, que esteve bem e cheio de valor e garra, como é seu timbre. Pega notável, a marcar a estreia como cabo. Sorte que brindou primeiro ao grupo e depois aos céus, erguendo o seu barrete à memória de todos os que já nos deixaram.
O quinto toiro, de Veiga Teixeira, era um toiro exigente, sério e com poder. O veterano Fernando Parente, forcado grande nos seus tempos, saltou à arena para o pegar, mas sofreu um violento derrote na primeira tentativa, que o deixou inconsciente, vivendo-se momentos de grande angústia. Prontamente retirado de maca, com a ajuda de companheiros e de elementos dos Bombeiros, foi assistido na enfermaria e recuperou os sentidos. Não sofreu, graças a Deus, nenhuma lesão grave, e à noite já esteve presente no jantar de comemoração dos 50 anos do grupo.
André Silva foi o forcado que dobrou Parente, consumando uma valorosa e emotivo pega na sua primeira intervenção, segunda tentativa efectiva para pegar o exemplar de Veiga Teixeira. Uma vez mais, excelente actuação do antigo cabo Tiago Ribeiro a rabejar, que depois acompanhou André na volta à arena com Francisco Palha e ainda ficou sózinho na arena com todo o público de pé a tributar-lhe emotiva e bem merecida homenagem.
O último toiro, da ganadaria espanhola de Conde de la Corte, foi bem pegado por António Ramalho, que embora não tenha despido a jaqueta, anunciou no brinde que fez ao companheiro Nuno Carvalho "Mata" que seria esta a última pega da sua vida. Pega brilhante, muito aplaudida na volta que deu à arena com Tristão, também acompanhado do primeiro ajuda José Maria Ferreira, que teve notável desempenho.
Em suma, uma tarde de glória, mais uma, para o Grupo do Aposento da Moita, com muitas das suas recordadas glórias de novo fardadas e os actuais a provarem que Leonardo Mathias deixa, de facto, um grande grupo a Luis Canto Moniz.
Ficam as fotos de uma tarde histórica. Ficam os nossos Parabéns ao Aposento da Moita.
Fotos M. Alvarenga
| João Freitas na primeira grande pega ao toiro de Grave (prémio bravura), com o ex-cabo Tiago Ribeiro a rabejar como só ele sabe |
| Momento histórico: a monumental pega do veterano João Camejo (forcado retirado) ao segundo toiro, de Conde de Murça. Um hino de arte e valor! |
| A última pega de Leonardo Mathias e o momento emotivo da passagem de testemunho ao novo cabo Luis Canto Moniz. O toiro era o da ganadaria Herds. Varela Crujo |
| Quarta pega, ao toiro de Mata-o-Demo: a primeira como cabo do valoroso Luis Canto Moniz, um forcado de eleição |
| Sexta pega foi a última de António Ramalho, que disse adeus às arenas. Brindou a Nuno "Mata". O toiro era da ganadaria espanhola Conde de la Corte |
