É jovem, é político, candidato do Chega à Presidência da Câmara Municipal do Barreiro, cidade que foi nos tempos da revolução um dos maiores baluartes do Partido Comunista, e é aficionado e defensor da Tauromaquia. Gonçalo Nuno Camacho não é um jovem “politicamente incorrecto”. Incorreto é este país onde ele nasceu e que ele quer mudar. Damos voz a um jovem que merece ser ouvido.
Entrevista de Miguel Alvarenga
- O Gonçalo é um jovem, não foi eleito deputado pelo Chega, ao que sei, por pouco mais de 300 votos, é candidato à presidência da Câmara do Barreiro, cidade que foi nos tempos da revolução um dos grandes baluartes do Partido Comunista, e é taurino, isto é, é a favor das corridas de toiros. É uma atitude, uma afirmação, politicamente incorrecta?…
- Depende muito do espectro político onde se coloca a pergunta. Actualmente, ser a favor da tauromaquia é, para certa esquerda urbana e radical, um sacrilégio. Mas para quem defende a tradição, a identidade nacional e a liberdade cultural, apoiar a Festa Brava não é politicamente incorreto - é ser coerente com aquilo que somos enquanto povo. No meu caso, e no caso do partido a que pertenço, o Chega, não há qualquer hesitação. A tauromaquia é uma tradição portuguesa e, por isso mesmo, deve ser respeitada, defendida e promovida. Não é uma questão de gosto pessoal, é uma questão de identidade nacional. A esquerda tenta transformar tudo numa batalha ideológica entre o “moderno” e o “arcaico”, mas o que está em causa aqui é muito simples: ou estamos do lado das nossas tradições ou estamos do lado da sua destruição. Eu escolho defender aquilo que nos torna portugueses. E mais: num concelho como o Barreiro, historicamente dominado pelo comunismo e pela esquerda, afirmar isto é também uma forma de dizer que a mudança não é apenas trocar de rosto é mudar de mentalidade. E isso começa por recuperar a ligação às raízes.
- O Chega não é um partido com posições anti-taurinas, tem até muitos dirigentes e deputados que são aficionados, mas também não assume uma posição a favor. Li por alto, mas não me parece que no seu programa eleitoral existisse qualquer apoio expresso à tauromaquia. Estou enganado?
- Sim, está enganado. O Chega tem uma posição clara e assumida a favor da tauromaquia. E não se trata apenas de palavras soltas ou de declarações de ocasião trata-se, simplesmente, de coerência política. No programa eleitoral de 2025, está escrito, preto no branco, que o partido defende "a valorização e promoção das tradições culturais e etnográficas portuguesas", referindo explicitamente "festas populares, touradas e romarias” como manifestações que devem ser protegidas contra a instrumentalização ideológica de minorias radicais. Ou seja, não há espaço para dúvidas nem leituras ambíguas. A tauromaquia está incluída no conjunto das tradições que o partido considera parte essencial da
identidade nacional. Para além disso, o Chega já provou no Parlamento que não são apenas intenções no papel. Temos votado contra propostas que pretendem restringir ou abolir as touradas como propostas do PAN ou do BE e temos assumido a defesa da Festa Brava com clareza e frontalidade sempre que ela é atacada. Pessoalmente sou aficionado e não tenho qualquer problema em afirmá-lo. Porque mais do que uma questão de gosto, é uma questão de identidade. O Chega é o único partido com representação parlamentar que não se envergonha da nossa cultura nem tenta escondê-la por medo do politicamente correto. E por isso mesmo, é também o único que tem condições para defender a tauromaquia até às últimas consequências dentro e fora do Parlamento.
- De onde lhe veio essa afición pela Festa Brava?
- Sem entrar por caminhos filosóficos embora a tauromaquia os permita, diria que tudo começou na infância. As festas populares nas terras vizinhas ao Barreiro marcaram-me. Apesar de o Barreiro já não ter a afición que teve em tempos, ainda existem bastiões dessa tradição viva como a Moita, Alcochete ou o Montijo. Foi nessas festas, com as largadas e garraiadas, que me aproximei do ambiente taurino. Esse primeiro contacto despertou o “bichinho”, como se costuma dizer. Depois, com o tempo, fui travando amizade com outros jovens e adultos que partilhavam essa paixão pela Festa Brava. Comecei a ir a praças, a ver corridas com mais atenção e a compreender que a tauromaquia é muito mais do que um espetáculo é um ritual cultural carregado de simbolismo, coragem e respeito pela tradição. Hoje, não sou apenas espectador, sou defensor. E acredito que muitos jovens, se tiverem oportunidade, também se vão reconhecer nessa herança cultural.
- Que cargos ocupa actualmente o Gonçalo na estrutura do Chega?
- Actualmente, sou coordenador concelhio da Comissão Política Concelhia (CPC) do Chega no Barreiro, lidero a Juventude Distrital de Setúbal e, a nível autárquico, sou autarca na Assembleia de Freguesia de Santo António da Charneca. Cargos estes que carrego com muito orgulho e sempre com o objetivo único de servir o meu país.
- O último resultado eleitoral deu uma subida muito grande ao Chega. Nas próximas legislativas será por fim a vitória?
- O resultado das últimas eleições foi a confirmação de algo que já se sentia nas ruas há muito tempo: o povo está farto. Farto da degradação dos serviços públicos, da imigração descontrolada, do facilitismo, do compadrio e da ausência total de rumo. O Chega afirmou-se como a única força política com coragem para dizer o que os outros não dizem e para enfrentar o sistema sem pedir licença. Acredito que nas próximas legislativas essa tendência se vai intensificar. Estamos a crescer, não porque temos mais meios, mas porque temos razão. Representamos uma maioria silenciosa que começa finalmente a erguer a voz. O sistema partidário está falido e a alternativa é clara: ou continuamos no mesmo caminho que nos levou à estagnação e à decadência, ou damos ao país uma ruptura real. O Chega é hoje a última esperança de Portugal. A última linha de defesa da portugalidade.
- O Chega é um partido de um só homem, André Ventura?
- Não, de forma alguma. O Chega tem rosto, sim, mas mais do que isso, tem doutrina, tem fundamentos, tem visão histórica. Reduzir o Chega a um nome é não compreender a sua essência. O que nos move não é o culto da personalidade é o culto da pátria. É a convicção de que Portugal precisa de uma rutura radical com o sistema que o arrastou até ao abismo, e que essa ruptura tem de ser feita com base em ideias, em valores, em princípios civilizacionais e não em jogos partidários ou ambições pessoais. O Chega representa um pensamento político coerente e profundamente ideológico: somos patriotas, porque acreditamos que Portugal tem de mandar em si próprio; somos conservadores, porque acreditamos que a tradição é a continuidade viva de um povo, não um empecilho ao progresso; somos nacionalistas no sentido mais nobre do termo porque colocamos Portugal acima de qualquer interesse estrangeiro ou ideologia globalista. Somos, em suma, o último partido que defende a portugalidade de forma frontal e sem vergonha. A nossa juventude, os nossos autarcas, os nossos militantes todos têm uma chama acesa no coração: a de restaurar Portugal. Não apenas como Estado, mas como civilização. Como projecto histórico, como alma europeia, como povo com destino. A portugalidade não é um conceito vago é umamissão histórica, é o deverde continuar a obra dos nossos antepassados, de defender a nossa cultura, a nossa fé, a nossa língua, os nossos símbolos e os nossos heróis. O Chega é, neste momento, a última esperança de Portugal. A última barreira contra a destruição da identidade nacional, contra a fragmentação social, contra a decadência moral e contra a rendição política. Se falharmos, resta-nos o caos, o desmembramento, a submissão. Mas se vencermos e venceremos podemos iniciar o renascimento do V Império: não como nostalgia, mas como projecto espiritual e civilizacional que devolva a Portugal o seu papel no mundo. O Chega não é de um homem só. É de todos os que ainda acreditam em Portugal. E, por isso mesmo, é um partido de extrema necessidade a última trincheira antes da ruína total, e o primeiro pilar de uma nova era para a nossa pátria.
- O Campo Pequeno, primeira praça de toiros do país, tem neste momento na sua programação apenas quatro corridas de toiros por ano. Pode-se alterar essa situação?
- Diria que tanto se pode como se deve. Mas a questão não se resolve apenas com mais corridas, é mais profunda. Se olharmos para outras praças de primeira categoria, vemos o mesmo cenário: temporadas muito curtas, com quatro ou cinco corridas por ano. Isto tem causas múltiplas, mas uma das principais, na minha opinião, é o custo dos bilhetes. No caso do Campo Pequeno, os mais baratos andam entre os 15 e os 20 euros. Noutras praças, os preços sobem facilmente para 25 ou 30 euros, mesmo em sectores ao sol ou nas bancadas superiores. Para uma família, ou para um jovem que queira assistir regularmente, isso torna-se incomportável. E isto leva-nos ao verdadeiro problema: antes de pensarmos em duplicar ou triplicar o número de corridas, temos de repensar a forma como vamos formar novos aficionados e fidelizar os que já existem. É preciso que as pessoas sintam que a tauromaquia é acessível, que pertence a todos e não apenas a uma elite. A meu ver, o Estado e as autarquias êm aqui um papel decisivo: devem reconhecer o valor cultural da tauromaquia e criar condições para o seu acesso seja através de campanhas de promoção, de incentivos culturais ou de parcerias com o ensino. Se queremos garantir que a Festa Brava tem futuro, temos de começar por trazer os jovens para as bancadas. A cultura só vive se for transmitida. E a tauromaquia merece essa transmissão.
- Como é que um jovem vê neste momento o futuro do seu país?
- Com preocupação, mas também com consciência. A minha geração cresceu a ouvir que devia calar-se, conformar-se e emigrar. Cresceu com o Estado a prometer muito e a falhar em tudo. Hoje, olhamos à volta e vemos um país envelhecido, desordenado, sem identidade e sem ambição. Os jovens são afastados da política, da cultura e ensinados a esquecer quem são. Mas a verdade é que há cada vez mais jovens a despertar. Jovens que não aceitam este rumo de decadência. Que não querem ser peões de uma ideologia progressista que despreza a pátria, a autoridade, o mérito e a história. Eu faço parte desses jovens. Não me acomodei nem me resignei. Entrei no combate político precisamente porque acredito que Portugal pode voltar a ser uma nação forte, respeitada e orgulhosa de si própria. O futuro do país depende da coragem que tivermos agora. E é por isso que não me calo. Porque há valores pelos quais vale a pena lutar. E Portugal é um deles.
Fotos D.R.