terça-feira, 28 de outubro de 2014

A história (única!) da minha "bebedeira" com Manzanares

Momento único: uma tarde passada em casa do Maestro Júlio Robles, em Maio
de 1997 em Vecinos (Salamanca). Em baixo, sentados, da esquerda para a direita:
o novilheiro José Ramón Martín, Júlio Robles e Rui Bento. Em pé: Paco Pallarés,
Miguel Alvarenga, Amadeu dos Anjos e José Maria Manzanares
Já vivi momentos fantásticos, mas este foi único... há 17 anos em Salamanca, em
casa do também já falecido Júlio Robles, fotografados muitos copos depois... com
o Maestro Manzanares
Poucos anos depois da célebre "bebedeira" em Salamanca, reencontrei Manzanares
em casa de Paulo Caetano, em Monforte, numa tarde em que seu filho José Maria
ali toureou num festival. Levei as famosas fotos e Manzanares autografou-as, como
aqui se documenta, na presença de meu Pai e do empresário e apoderado Jacinto
Alcón, antigo gerente da Monumental de Badajoz
A reportagem em Vecinos (Salamanca) foi manchete do jornal "Farpas" na sua edição
nº 27, em 29 de Maio de 1997, já lá vão 17 anos...



Miguel Alvarenga - Já cá ando há uns "500 anos" e espero andar por mais 500. Não vou morrer tão cedo - acreditem! - mas se morresse (mera hipótese no campo das mais remotas hipóteses...) garanto que já vivi experiências únicas e irrepetíveis. Esta foi uma delas (e o Rui Bento, bem como o Maestro Amadeu dos Anjos e o meu companheiro de crítica Domingos da Costa Xavier lembram-se bem dela..) e aconteceu, como aqui atrasado recordei, em casa do também já falecido Maestro Júlio Robles, em Vecinos, localidade a 29 quilómetros de Salamanca, em Maio de 1997, já lá vão 17 anos, num dia em que ali fui assistir a um festival taurino que ficou cancelado pela chuva e que foi "substituído" por esta tarde única.
Entre os toureiros que iam actuar nesse festival, estavam Rui Bento e, apenas e somente, o Maestro José Maria Manzanares (pai), matador histórico, pai do "figurão" de hoje que tem o mesmo nome e também do rejoneador Manuel Manzanares, que em Abril do ano passado se apresentou em Beja e em Agosto toureou no Campo Pequeno.
Por quê, não sei, mas a verdade é que Manzanares, no pequeno grupo que ali estava - e de que fazia parte o falecido matador Paco Pallarés, que toureou no Campo Pequeno na fatídica tarde de 16 de Outubro de 1966, em que morreu, vítima de colhida, o cavaleiro Joaquim José Correia "Quim-Zé" - "engraçou" comigo.
Feitas as contas - e que a fotos bem documentam - mais cerveja para aqui, mais uísque para ali, acabei por ser protagonista de um caso único: poucos ou mesmo nenhuns se podem dar ao luxo de ter apanhado, na vida, uma valente "bebedeira" com um toureiro tão famoso como este. Eu apanhei (e ele também!) e guardo o momento como um dos mais incríveis que vivi neste atribulado mundo dos toiros! Às tantas, já nem sabia se era verdade, se estava a sonhar. Eu, ali, num sofá, com o Maestro Manzanares a confidenciar-me segredos da sua vida, a "cair" em cima de mim? Pode lá ser possível... mas foi!
A reportagem foi manchete do jornal "Farpas" na edição nº 27 em 29 de Maio de 1997: "Exclusivo: As Confissões de Manzanares". O toureiro, retirado das arenas, garantia que regressaria no dia em que também voltasse "Niño de la Capea", um dos seus grandes rivais dos tempos de ouro que ambos protagonizaram em muitas praças de Espanha.
Poucos anos depois, quando seu filho veio tourear um festival a Monforte, o meu Pai e o famoso apoderado Jacinto Alcón (entre outros) testemunharam em casa de Paulo e Dita Caetano este meu reencontro com Manzanares. Levei as fotos da "bebedeira" e ele autografou-me uma delas (está aí em cima), sem contudo deixar de comentar: "Hombre, se me lembro! Que dia louco! Só te vou autografar uma, para guardares, porque não posso fazê-lo em todas... foi um dia de loucos, Miguel!" - riu-se. A história fica aqui retratada em fotos. Documentos reais.
Mais tarde, reencontrei-o em Beja, em Abril do ano passado, quando ali se apresentou o seu filho rejoneador, Manuel Manzanares e também em Almendralejo. E voltámos a recordar aquela tarde que era sempre ponto alto de uma recordação única.
Em Agosto do ano passado, quando Manuel se apresentou em Lisboa, lá em baixo da trincheira, Rui Bento apontou para mim e perguntou a Manzanares se se lembrava... "Se me lembro, que tarde, meu Deus!".
Todos terão hoje, certamente, momentos para lembrar das suas, ainda que curtas, como as minhas, vivências com aquele que foi uma das maiores figuras do toureio de sempre. Eu guardo esta tarde fantástica em Salamanca, em casa do também saudoso Júlio Robles. Foi uma tarde de copos. Paciência. Mas foi única.
Até sempre, Maestro Manzanares!

Fotos Ana Botelho Moniz e Emílio de Jesus