Miguel Alvarenga - Morreu há 52 anos, vítima de acidente na estrada, o mais famoso matador de toiros nacional e um dos nossos mais emblemáticos empresários, Manuel dos Santos. Era, ao tempo, o gestor da praça do Campo Pequeno e de muitas outras, de norte a sul do país. Nada voltou a ser como dantes depois desse dia trágico de 18 de Fevereiro de 1973. Manuel dos Santos tinha 48 anos e morreu no quarto nº 36 do já desaparecido Hospital Particular, em Lisboa, onde fora internado na véspera, depois do desastre sofrido na reta de Bombel, perto de Vendas Novas.
O acidente, ocorrido na véspera (17 de Fevereiro de 1973), deu-se perto de Vendas Novas, quando o empresário regressava de uma visita à sua ganadaria - denominada Porto Alto - em Alcáçovas, na Herdade das Almargias. Por razões nunca apuradas, a viatura em que seguia embateu de frente com um camião, provavelmente quando fazia uma ultrapassagem.
Viajavam no mesmo automóvel o filho do toureiro, Manuel Jorge Diez dos Santos, que escapou ileso; o seu antigo e fiel moço de estoques e ao tempo um dos seus braços direitos na empresa do Campo Pequeno, Manolo Escudero; e o maioral da ganadaria, Manuel Francisco Piteira Dias.
Os dois últimos tiveram morte imediata no local. Manuel dos Santos foi internado em Lisboa no Hospital Particular (já desaparecido), onde registou ligeiras melhoras na manhã seguinte, mas acabou por morrer à tarde, deixando o país em estado de choque.
O corpo do antigo matador esteve em câmara ardente na Igreja de São João de Deus, em Lisboa (na capela ao lado estava o corpo de Manolo Escudero) e a Praça de Londres transformou-se num verdadeiro mar de gente que lhe quis prestar a derradeira homenagem.
O enterro, no dia seguinte, no cemitério da Golegã, foi uma emotiva manifestação de pesar, com o povo na estrada, ao longo do percurso, aclamando Manuel dos Santos à passagem da carrinha fúnebre.
Manuel dos Santos despedira-se das arenas em Outubro de 1953 no Campo Pequeno, mas reapareceu em 1960 e manteve-se activo durante cinco temporadas, em que actuou em grande número de corridas, em todas as praças portuguesas, mas também no México. Continuou depois ainda a tourear em festivais.
Toureou pela última vez poucos meses antes da sua morte, em Setembro de 1972, num festival taurino na praça de toiros de Espinho, de que era empresário.
Nessa última tarde, Manuel dos Santos (então com 47 anos) repartiu cartel com os matadores José Júlio e Ricardo Chibanga, com o novilheiro José Augusto, os cavaleiros Manuel Conde, Luis Miguel da Veiga e Frederico Cunha e os Forcados Amadores de Santarém, então capitaneados por José Manuel Soutto Barreiros. Lidaram-se toiros das ganadarias Porto Alto e Cabral Ascensão.
No último fim-de-semana e como aqui referimos, iniciaram-se na Golegã as comemorações do centenário do nascimento do saudoso toureiro, tendo sido inaugurado um museu onde pode ser visto todo o espólio evocativo de uma carreira de muita glória.
Fotos D.R.
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O filho Manuel Jorge junto do caixão na Igreja de S. João de Deus, vendo-se atrás o crítico taurino Saraiva Mendes |
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De Lisboa à Golegã, as ruas foram um mar de gente num adeus derradeiro ao ídolo de Portugal |
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Manolo Escudero (com seu filho Vitor) era o braço-direito de Manuel dos Santos e também morreu no trágico acidente |
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Manuel dos Santos e sua Mulher, a mexicana Glória Díez |
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Manuel dos Santos era empresário do Campo Pequeno e de muitas mais praças de norte a sul do país |
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A última vez em que toureou: em Espinho, em Setembro de 1972, poucos meses antes da sua morte |