segunda-feira, 28 de julho de 2025

André Gonçalves em Évora: triunfou o prodígio no meio dos consagrados

Miguel Alvarenga - A realização, à mesma hora, de outras duas atractivas corridas de toiros nas praças da Figueira da Foz e das Caldas da Rainha, acrescida do facto de na Cidade-Museu se anunciarem uma vez mais os primos João Telles/Francisco Palha, que andam a correr todas as capelinhas há não sei quanto tempo, terá contribuído decisivamente para o pouco sucesso de bilheteira registado este sábado na Arena D'Évora, onde a já de si pequena praça apresentava uma desoladora moldura humana que enchia pouco mais que metade da lotação...

Crónica curta, porque pouco aconteceu para enaltecer e o que se viu, até ao sexto toiro, foi igual a muita coisa que já tínhamos todos visto antes, ou seja, foi mais do mesmo, todos benzinho mas todos iguais ao costume, ao de sempre - o que se começa a tornar cansativo e a justificar algum desinteresse do público em praças onde, pela categoria dos elencos (como era o caso de Évora), se esperavam muito maiores enchentes, se não mesmo lotações esgotadas...

Um cartel com João Ribeiro Telles e Francisco Palha, incontestavelmente duas das primeiras figuras do momento, com Guillermo Hermoso de Mendoza (que já se percebeu que não conta para o nosso campeonato como contou sempre seu pai, apesar de ser um bom toureiro) fazia antever, pelo menos aos que são mais optimistas, uma enchente. Mas ficou tudo muito aquém das expectativas. Os empresários têm que rever tudo e mais alguma coisa o mais rapidamente possível. É sempre tudo igual, as pessoas começam a perder a paciência. E os bilhetes continuam caros, apesar de o IVA (já se esqueceram disso... ou nunca se lembraram ou fizeram caso dessa diminuição?...) ter descido de 23 para 6 por cento...

Há que aplaudir, contudo, a aficionada decisão dos empresários António Alfacinha e Carlos Ferreira em contratar o jovem cavaleiro André Gonçalves, a novidade do momento, o novo prodígio que pode refrescar os cartéis e pôr um travão no eterno formato já gasto e cansativo do mais do mesmo em todas as praças... André agradeceu a oportunidade e brindou a sua actuação aos dois empresários.

Bonitos e bem apresentados, os toiros de Joaquim Brito Paes foram mais dóceis do que propriamente agressivos. Transmitiram pouco e não tinha muita força. Deixaram-se lidar sem problemas de maior e foram pelo seu caminho directos aos forcados, sem complicar nem criar quaisquer problemas. Só houve uma pega à segunda tentativa, todas as outras foram consumadas à primeira. Destacou-se o quarto, um belíssimo toiro, superiormente toureado pelo triunfador João Telles, que deu ao ganadeiro a merecida honra de acompanhar o cavaleiro e o forcado numa aplaudida volta à arena.

O que aconteceu conta-se em poucas palavras: João Telles, num momento altíssimo, foi o grande triunfador no conjunto das duas lides, esteve perfeito na primeira actuação e agigantou-se na segunda, terminando com dois ferros imponentes com o cavalo "Ilusionista", pena só que o último tenha sido tão pescado...

Francisco Palha esteve assim-assim frente ao primeiro toiro do seu lote, que recebeu sem os bandarilheiros na arena, com uma usada sorte de gaiola, que só não resultou em cheio porque o toiro não correspondeu, entrou a passo na arena, animal de investidas incertas, meio distraído. Teve música, mas não quis dar volta à arena, apesar de autorizada pelo director António Santos. No quinto toiro, esteve Palha muitos pontos acima da primeira actuação, galvanizando o público com ferros de apoteose, pisando o risco vermelho, arriscando.

Guillermo Hermoso de Mendoza andou apenas regular com o seu primeiro toiro, sem deslumbrar. No segundo, sexto da ordem, superou o que fizera na primeira lide, sobretudo com o fantástico cavalo "Berlín". Teve uma passagem digna por Évora, mas sem aquecer nem arrefecer o rumo que a temporada está a ter...

A noite, já de si bem quente, foi incendiada em fim de festa pelo jovem cavaleiro (rejoneador?) luso-mexicano André Gonçalves, 16 anos, que lidou em sétimo lugar um novilho pouco fácil, exigente, mas manso e sem chama, da ganadaria Maria Guiomar Cortes de Moura

André iniciou esta sua segunda apresentação em público, depois da auspiciosa estreia em Paio Pires no mês passado, com algumas indecisões e um empurrão contra as tábuas. Mas não se deixou ir abaixo, pelo contrário, cresceu diante das dificuldades e superou-as com segurança, com tranquilidade, cabeça fria e jeitos de toureiro batido

Tem uma rara intuição, fez uma vez mais jus à referência que lhe é atribuída como novo prodígio do toureio a cavalo e voltou a dizer, se dúvidas ainda existissem, que vai mesmo ser um caso

Tem maneiras, sabe tourear, denotando uma enorme segurança e uma deslumbrante maturidade, monta primorosamente, tem uma belíssima quadra de cavalos e se na sua primeira corrida em Paio Pires já demonstrara que não chegou aqui só para ser mais um, em Évora deixou uma nova mensagem de esperança e de certeza. A forma adulta com que resolveu a papeleta e se impôs diante de um novilho-toiro que não o estava a ajudar, deixou bem claro que André Gonçalves vai mesmo chegar longe - e dele, não tarda, vão ouvir falar muito.

Fazia falta ao panorama taurino nacional uma novidade como esta: é sempre tudo igual, salvo raríssimas excepções. André Gonçalves é uma dessas poucas excepções. Nem sei mesmo se neste momento haverá outra...

Próxima corrida do novo prodígio: 14 de Setembro em Sobral de Monte Agraço

Bom desempenho, sem exageros de capotazos (alguns protestos do público cada vez que entravam os subalternos em cena...), dos bandarilheiros que coadjuvaram as lides.

Pegaram os forcados de Évora e os de Coruche. Sem complicações de espécie alguma, como já contei atrás. 

Pelos anfitriões foram forcados de cara Henrique Burguete à primeira; Rafael Silva também à primeira; Martim Lobo à segunda, com uma extraordinária primeira-ajuda; e Afonso Santos à primeira na última pega ao novilho de Guiomar Moura, que, num bonito gesto, o Grupo de Évora quis repartir com o de Coruche. A pega foi brindada ao jovem cavaleiro André Gonçalves.

Pelo Grupo de Coruche pegaram João Laranjinho, o cabo João Prates e António Tomás, os três ao primeiro intento, muito bem e com os companheiros a ajudar em força.

Os toiros foram todos recolhidos a cavalo pelos campinos, nem delongas nem demoras, muito bem.

Na direcção de corrida esteve, bem e com toda a rectidão, António Santos, assessorado pelo médico veterinário Carlos Santana.

No final, à saída da praça, todos falavam de André Gonçalves.

Fotos M. Alvarenga



João Telles muito bem com o primeiro toiro


Henrique Burguete (Évora) na primeira pega da noite




Francisco Palha com o segundo toiro da corrida



Segunda pega consumada por João Laranjinho (Coruche)


Guillermo Hermoso apenas regular com o terceiro toiro

Rafael Silva (Évora) na terceira pega 





Lide superior de João Telles ao quarto bom toiro de B. Paes





Excelente pega do cabo João Prates (Coruche) e ganadeiro
Joaquim Brito Paes premiado com volta à arena com o forcado
e o triunfador João Ribeiro Telles




Lide "à Palha" no quinto toiro!











Rija pega de Martim Lobo (Évora) ao segundo intento



Guillermo Hermoso muito bem com o cavalo "Berlín" no sexto
toiro da corrida




Grande pega do experiente António Tomás (Coruche)











E depois veio a novidade! Público ao rubro com André Gonçalves!







Novilho de Guiomar Moura pegado por Afonso Santos (Évora)
com ajudas também do Grupo de Coruche