Carlos Patrício Álvares (Chaubet) -
Felizmente que Amieira e Portel estão situadas no Alentejo profundo, numa zona
que parece não interessar aos que querem mandar na nossa Tauromaquia. As
pessoas fazem o que consideram ir enriquecê-la sem estar a pedir licença a
ninguém. Caso não fosse assim, possivelmente lá viria a ANGF e os grupos seus
associados, que não foram convidados para a iniciativa, reunidos em assembleia,
(nada se faz sem ser assim, dizem...) a inventarem penalizações para a Junta de
Freguesia da Amieira e para a Câmara de Portel.
Ao tempo escrevia no "Olé" e
foi esse semanário, sempre atento ao que se vai passando no nosso meio taurino,
o único ou, pelo menos, o primeiro, a dar a notícia. Estava em construção, na
Amieira, um Monumento alusivo ao Forcado.
Agora, que tanto se fala de forcados e
há mais gente a falar num Monumento em sua homenagem, lembrei-me desse
existente em frente da Praça de Toiros da Amieira, aldeia ribeirinha da
barragem do Alqueva. Até à data, pela descrição e fotografia que li e vi, a
mais espetacular escultura alusiva aos forcados. Fiquei agradavelmente
surpreendido ao ler a notícia. Sem espalhafato ou vaidosas exibições, Amieira e
Portel, demonstravam bem o apreço e respeito que nesta região têm pelo Forcado.
A tal, certamente não é alheio o êxito
que o Grupo de Forcados de Cascais, constituído quase exclusivamente por
rapazes da zona, têm obtido. É aliás, na fotografia de uma pega feita por este
grupo, que se baseia o Monumento. Da autoria do fotógrafo Fernando Henriques,
patenteia bem a violência do toiro, a valentia e determinação do conjunto do
Grupo. Houve depois os escultores António e Francisco Charneca que, inspirados
nessa fotografia, esculpiram uma obra de grande impacto e beleza, que realça
ainda com mais expressão o que é uma verdadeira pega e a voluntariedade dos
homens que a executam.
Estão pois de parabéns: o grupo de
Forcados Amadores de Cascais, cujo comportamento inspirou e despoletou todo
este interesse; o fotógrafo Fernando Henriques por ter apanhado um momento tão
expressivo da atuação do grupo; e os escultores António e Francisco Charneca
por, com a sua arte, terem sabido sublimar o que a fotografia transmite.
Tenho afirmado que o desejo de pegar
toiros, a pega, nasceu da apetência que o português tem pelo perigo, pela
aventura. É no Povo que se encontra a sua génese. É ele que mais a admira. O
Monumento em Amieira é prova disso. Noutras terras de Portugal, de maior
relevância, com pergaminhos ancestrais no meio da forcadagem, não existe nada
com igual imponência.
Fotos D.R. e M. Alvarenga