
Cultura de Barreira
André Cunha - Graciosa, ilha de gente, terra e mar, território assente em rocha vulcânica onde um dia a lava escorreu. Só pequena de tamanho, grande em espírito e alma, caracterizada pelos seus visitantes por uma beleza com poderes relaxantes e pelo seu povo acolhedor, ordeiro e de certa forma festivo. Um pouco aquém da vizinha Terceira, ilha das mil e uma festas, mas que consegue importar tradições centenárias, e torná-las também tradição das suas gentes.
Exemplo nato são as corridas de toiros,
tanto em jeito de festejo popular e de rua, expressada nas touradas à corda,
como as touradas de praça, sendo manifestações já com grande costume por estas
bandas.
Em dois dias do ano, a Praça de Toiros
do Monte d'Ajuda enche-se de cor e brilho, decorre a Feira da Graciosa,
integrada no programa profano das Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres.
Os aficionados fazem peregrinação monte acima, até ao carismático redondel,
referido pela comunidade taurina como único, devido à sua incrível e
extraordinária localização.
Os entusiastas pretendem assistir a bons
espectáculos, montados por uma comissão que ano após ano esmera-se para que
artistas com créditos firmados a nível nacional e até mesmo internacional pisem
aquela praça. O público quer fazer parte da festa e vai preparado para bater
palmas, ouvir pasodobles, foliar e fazer barulho. Contudo, há que haver alguma
ordem, o público está inserido no festejo, circunda a acção principal que se
desenrola na arena e tem papel preponderante para o decorrer da faena. Assim
sendo, destacam-se certos pontos que merecem atenção redobrada, isto na óptica
pessoal de quem vive "in loco" e com intensidade a corrida de toiros.
Silêncio. Lidar um toiro requer arte,
sabedoria, destreza e muita concentração. Ausência relativa ou total de sons é
lei imperial para o bom decorrer da faena, visto que, um simples movimento na
bancada, uma conversa com volume acentuado, um assobio ali, uma criança a
berrar acolá, é suficiente para distrair o toiro e o toureiro. Perde-se a
concentração e pode levar a lide a descarrilar. Não se canta o fado, mas
toureia-se.
Palmas. Expressam-se como forma de
agradecimento e aprovação. Já imaginaram o bater de palmas enquanto se recita
um poema? Desagradável, para quem lê e para quem escuta com atenção. Para a
faena é semelhante, principalmente na lide apeada, pois muitas vezes durante a
sequência de passes, alguém lança o rastilho e os aplausos surgem com
intensidade, sem que o artista tenha dado o remate final.
Música. Beneficia com alegria e exulta o
espectáculo. Porém, várias vezes e contra os cânones, é banalizada. Ainda nem o
primeiro ferro foi cravado e já alguém grita: "toca a música!". Neste
ponto, o director de corrida é soberano.
Não sou doutorado ou "expert"
na matéria, apenas nutro grande interesse por tudo o que envolve a arte
tauromáquica. Em cada aficionado deve haver um embaixador da Festa Brava, este
é o meu contributo, cultura de barreira precisa-se!
Viva a Festa, viva a
aficion, viva aos toiros! Olé!
Fotos D.R.