quarta-feira, 14 de março de 2018

Coimbra foi uma lição?...



Miguel Alvarenga - O Conselho de Veteranos terá agora uma última palavra a dar sobre a realização ou não da tradicional (centenária) Garraiada da Queima das Fitas de Coimbra, que costuma ter lugar na praça (sempre cheia) da Figueira da Foz, mas a realidade é que ontem ficou bem expresso o "Não" dos estudantes num referendo cujo resultado foi maioritariamente desfavorável aos aficionados.
Num universo de 24 mil alunos, houve 5.638 votos, o que significa uma abstenção muito próxima dos 20 mil. Onde estavam esses estudantes que não votaram? Seriam favoráveis à tradição da Garraiada, mas mandaram o referendo às urtigas?
Pelo contrário, os anti foram em força às urnas e venceram com a esmagadora maioria de 70%.
Coimbra foi uma lição? Se calhar, foi. E, por isso, é preciso que nos acautelemos. Talves seja preciso que deixemos de cruzar os braços e que nos façamos à vida de uma vez por todas, ou seja, que vamos à luta. Os anti-taurinos estão organizados - e bem organizados -, são activos, mostram os seus dentes e as suas garras. Nós encolhemos os ombros, deixamos andar. Um dia pode ser tarde.
Todas as quintas-feiras protestamos, entre dentes e em silêncio, pelas ruidosas (pequenas) manifestações que eles fazem à porta do Campo Pequeno. Mas o Campo Pequeno foi reinaugurado há 12 anos, há 12 anos que eles fazem aquela brulheira e, que me lembre, posso estar esquecido, nunca vi os aficionados convocarem à mesma hora e no mesmo local uma manifestação em prol da arte tauromáquica.
Dir-me-ão que a maior manifestação contrária que podemos fazer é encher o Campo Pequeno, esgotá-lo mesmo, como tem acontecido tantas vezes - mas não chega.
Ontem, apenas 26,7% dos estudantes votou a favor da Garraiada. Os tempos mudam-se e as vontades também, já dizia Camões. Pode até ser que seja verdade, pode até ser que a esmagadora dos estudantes que hoje andam por Coimbra sejam contra a tradição tauromáquica e queiram acabar com uma manifestação centenária como a Garraiada.
Mas isso assusta. Imaginem que se fazia um referendo a nível nacional para saber se os portugueses dizem "sim" ou "não" às corridas de toiros - e o resultado era idêntico ao de ontem em Coimbra. Já pensaram nisso?
Nós por cá... todos bem?
Os adeptos da Festa Brava são demasiado moles face à dureza dos anti. Quando se faz uma entrega de troféus, comparecem exclusivamente os vencedores. Os outros ficam em casa, em lugar de virem expressar, como se impunha, o seu apoio a quem ganhou, a quem foi distinguido. Quando os anti se manifestam e fazem barulho, nós calamo-nos.
Temos (temos, acho eu...) uma Federação ProToiro que tem (tem, acho eu...) por missão defender a Festa, acredito que ande a fazer um trabalho (de bastidores) notável, mas era preferível que nos prestasse contas do que faz, em lugar de agir estilo sociedade secreta, em silêncio e sem que se sinta.
Temos muitas tertúlias que dão prémios e organizam colóquios (muitas vezes para discutir apenas o sexo dos anjos...). Temos muitos empresários, muitos toureiros, muitos ganadeiros, muitos forcados e imenso público aficionado - mas raramente se entendem, olham muito para o seu umbigo e quase nunca dão as mãos em defesa da arte de que vivem.
No ano passado, estou a lembrar-me, a empresa do Campo Pequeno fez a apresentação de um livro (belíssimo) sobre os 125 anos da praça e ao acto compareceram apenas meis dúzia, se tanto, de toureiros, as primeiras figuras estiveram-se borrifando, não vieram.
À união e à meticulosa organização dos anti-taurinos, nós respondemos (respondemos?) sempre com uma desorganização e uma desunião total. E assim não vamos longe...
Coimbra, ontem, foi mesmo uma lição. Que ao menos sirva como um aviso à navegação. É que um dia pode já ser muito tarde...

Fotos D.R.