terça-feira, 13 de março de 2018

Referendo hoje em Coimbra para decidir futuro da Garraiada da Queima das Fitas: a posição de António Cortesão em defesa da Tauromaquia


Realiza-se hoje na Universidade de Coimbra o referendo para votar sim ou não à realização da tradicional Garraiada da Queima das Fitas e António Cortesão, ex-aluno da UC e antigo cabo dos Forcados Académicos de Coimbra assume a sua posição a favor da Garraiada neste artigo, sem papas na língua, dado à estampa no blog "Sortes de Gaiola" e que aqui publicamos com a devida vénia.

Apesar de já não estudar na Universidade de Coimbra, não podia deixar de dar a minha opinião sobre o referendo que se vai realizar hoje na Universidade em que estudei, e sobretudo sobre uma série de eventos que envolveram a campanha.
Quanto à Garraiada enquanto espectáculo não há muito a acrescentar aos argumentos apresentados ao longo dos dias de campanha pelos que tal como eu apreciam esta actividade, e como tal só tenho a dizer que votaria SIM sem reservas. Quanto ao facto de se querer erradicar um evento tão querido por todos os jovens que cresceram em meios rurais onde existe a tradição tauromáquica, entristece-me a visão da atual direção da AAC, que acredita que a Academia é apenas e só de jovens oriundos de certas zonas do país e pretende marginalizar todos os estudantes das mencionadas zonas rurais. A AAC era uma instituitição onde outrora havia lugar para todos e se respeitavam as tradições das várias zonas do país, uma instituição que visava unir todos os jovens portugueses que tinham optado por estudar em Coimbra. O facto da actual direção da AAC querer marginalizar os estudantes das aldeias do Ribatejo, Baixo Mondego, Raia, e de todas as terras da margem sul onde as largadas são uma tradição fortemente enraizada é obviamente algo que me entristece, mas está longe de ser o ponto mais baixo da situação.
O mais repugnante do comportamento da actual Direção da AAC começa precisamente pelo tópico cirúrgico que escolheram para levar a referendo. A Direção da AAC nunca realizou qualquer referendo, nem referente a eventos culturais nem em qualquer outra matéria. A título de exemplo, os privilégios dos membros da Direção da AAC, tidos como completamente inauditos por muitos dos alunos, não são nem nunca foram submetidos a qualquer escrutínio. Os dirigentes da AAC estão imunes ao regime da prescrição, gozam de uma época especial de exames a que nem os trabalhadores-estudantes têm direito, e no geral têm mais direitos e menos obrigações que os restantes alunos. Este tema nunca foi nem nunca irá a referendo não só porque é evidente que a larga maioria dos estudantes acham repugnante este regime de excepção, como também porque muitos dos dirigentes que organizam o referendo, mesmo com as cadeiras que fazem na época do cacique, já deviam ter prescrito. Também nunca se realizou qualquer referendo em matéria de manifs anti-governo ou pró-governo porque os tachos de assessor não caiem das árvores. Todos conhecemos um antigo dirigente da AAC que organizou tantas manifs e protestos contra os partidos da oposição que hoje mama como um vitelo da teta do Estado, como assessor do atual governo, sem nunca ter tido qualquer outro ofício que não fosse o de cacique da AAC.
Até aqui nada de novo, é o lado mais miserável do caciquismo académico a vir ao de cima como infelizmente ocorre tanta vez. O que é novo é compactuarem com a participação expressa de um Partido Político na campanha, e pedirem a docentes para se pronunciarem no debate. A não participação expressa e em nome próprio de Partidos Políticos na campanha, e a recusa em recorrer ao temor reverencial que os docentes incutem nos alunos, eram mesmo as últimas duas coisas que emprestavam alguma dignidade aos atos eleitorais da AAC. Já na minha altura, o comum dirigente associativo da AAC era um inútil que passava anos sem fazer uma cadeira e vivia para o cacique, e os atos eleitorais estavam repletos de situações vergonhosas. Todavia, havia mínimos de decência democrática. Foram esses mínimos que se perderam desta vez e que independentemente do resultado do referendo, mancharão para sempre a imagem da AAC a nível democrático. Desde que acabei o Curso que não acompanho a vida política da AAC mas com certeza que a atual direção é a "lista de continuidade" (é sempre). É de certeza uma lista de continuidade porque levaram a tendência de degradação democrática da AAC à sua conclusão lógica. A AAC foi paulatinamente passando de bastião da democracia a escola de vícios do colarinho branco/ fábrica de caciques dos partidos da Assembleia, e a simbólica participação do Presidente do IPC na campanha do Não, campanha essa organizada abertamente por um Partido da AR, são as últimas duas flores que faltavam para compôr o ramalhete. Os caciques da AAC já não fazem campanha eleitoral nas eleições da dita Instituição para um Partido, já as fazem pelo Partido, e quanto ao lambebotismo de ir buscar Professores, está ao nível da mais reles politiquice a aparecer numa capa do "Correio da Manhã".
Alguém tem que sustentar o exército de antigos dirigentes da AAC que hoje ocupam gabinetes sortidos de vários ministérios, comissões, institutos e etc.

António Cortesão

Foto D.R.