Também se chamava Emiliano, mas Zapata, o célebre líder da Revolução Mexicana de 1910. Este Emiliano chama-se Gamero, usa um bigode muito semelhante ao do seu famoso compatriota e também está a fazer uma revolução no rejoneio no seu país. É hoje o número um do toureio a cavalo (rejoneio) no México e no próximo sábado inicia no Coliseu do Redondo a sua primeira grande campanha europeia em arenas de Portugal e de Espanha. Para já, diz, “estou focado no festival do Redondo e na corrida de Abril em Beja, depois se verá o que vem a seguir”. Chegar ao Campo Pequeno, a Catedral, é um sonho e também um objectivo. “Os sonhos, com dedicação, realizam-se”, afirma o toureio mexicano, nesta que é a sua primeira grande entrevista desde que há uma semana chegou ao nosso país. Conhece os cavaleiros portugueses, alguns pessoalmente, e considera-os “grandes professores”. Tem a consciência de que o seu estilo e o seu espectáculo são diferentes, mas acredita que o público lusitano vai gostar de o ver tourear. “Acredito que quando as coisas são feitas com dedicação e alma, surge a luz que se torna mágica, e a magia é apreciada pelo mundo inteiro”, afirma. Trouxe oito cavalos, tem a quadra sediada no Redondo em casa do seu amigo e apoderado João Anão Madureira. Vamos conhecer melhor Emiliano Gamero.
Entrevista de Miguel Alvarenga
- Emiliano, rejoneador porquê? Havia antecedentes na família? E quem lhe ensinou o “abc” da equitação e do toureio?
- A minha família é charra e o meu pai era toureiro e deste modo as paixões juntaram-se, pelo cavalo e pelo toiro, ele tornou-se rejoneador e por isso desde pequeno que me senti entusiasmado pelo toureio a cavalo e ali provei os divinos méis das touradas a cavalo.
- Onde se apresentou em público pela primeira vez?
- Eu toureei com apenas 6 anos de idade numa cidade de Hidalgo no México. Naquele dia foi um sucesso retumbante, montado um cavalo chamado “Faraó”. Era um cavalo muito habilidoso e corajoso e só eu poderia montá-lo. Juntos fomos os melhores!
- E a alternativa, foi onde?
- Foi em 4 de Março de 2011, meu padrinho foi Diego Ventura e cortei nessa tarde três orelhas e um rabo. Foi em Toluca (México).
- Gerardo Trueba foi, nos ano 80, o último cavaleiro mexicano a fazer campanha em arenas portuguesas. Mas toureava mais ao estilo português e de casaca e tricórnio. Depois veio Ramón Serrano, mais ao estilo mexicano, mas também agradou. Você vem fazer uma “revolução”?
- Acredito que todos têm que fazer o que lhes vem da alma e assim fizeram, é respeitável. Não me comparo com ninguém, quero ser totalmente original e respeitar totalmente as minhas tradições e por isso não quebrei nenhuma regra do meu traje ou dos meus cavalos. É uma “Revolução Gamero” completamente nova!
- O que significa para si vir fazer campanha na Pátria do Toureio a Cavalo?
- Era o meu sonho desde criança, e sempre jurei a mim mesmo que o conseguiria realizar e que um dia viria triunfar na Pátria e na Catedral do toureio a cavalo. Hoje estou fazendo isso acontecer!
- Conhece os cavaleiros portugueses? Já actuou com alguns. Quais são as suas referências no toureio a cavalo português?
- Na verdade, conheço alguns deles pessoalmente e todos por acompanhar as suas façanhas desde criança. Todos me parecem grandes professores e admiro todos eles. Eu sei que meu padrinho Diego Ventura nasceu aqui. Melhor era impossível!
- Fale-me da tarde em que indultou um toiro na Monumental do México. O que sentiu, Emiliano?
- Aquele dia foi mais um sonho que consegui realizar, depois de fazer a minha segunda temporada europeia de sucesso, foi um dia mágico porque saiu “Gaspar”, da ganadaria Vistahermosa, um toiro muito valente e nobre com quem consegui transmitir a todos a postura o que carrego na minha alma, podendo assim salvar a vida de tão exemplar animal, que indultei, passando a ser o primeiro rejoneador mexicano a indultar um toiro na Monumental do México. Ainda hoje desfruto desse acontecimento único!
- Quantos cavalos tem em Portugal?
- Tenho oito cavalos toureiros na primeira fila e dois potros em preparação. Tenho a minha quadra no Redondo, em casa do meu amigo e meu apoderado João Anão.
- O Campo Pequeno, Catedral do Toureio a Cavalo, é um objectivo?
- O Campo Pequeno, a praça mais importante do mundo para o toureio a cavalo, sempre foi o meu objectivo e espero poder concretizar esse sonho em breve. Os sonhos, quando acompanhados de dedicação, são sempre alcançados!
- O que podem os aficionados portugueses esperar de Emiliano Gamero, já no próximo sábado, no Coliseu do Redondo?
- Venho para me entregar e dar tudo o que me move e o que tenho dentro, tentarei ser eu mesmo, deixando sair a magia da forma como sinto e interpreto o toureiro. Sei que é diferente da forma de tourear a cavalo em Portugal, mas as bases são as mesmas e acredito que o meu espectáculo vai agradar, tudo farei por isso. Envio daqui uma saudação a todos os aficionados portugueses, agradecendo a hospitalidade e o carinho que aqui tenho recebido. Até sábado!
Fotos D.R.