Miguel Alvarenga - Andrés Romero (fotos de cima) "rebentou ontem com o quadro" na Nazaré e armou um verdadeiro alvoroço na lide dos seus dois toiros, causando enorme reboliço nas bancadas (praça cheia, mais de três quartos da lotação preenchidos) sobretudo no sexto, deixando o público em total euforia e sagrando-se grande triunfador da primeira corrida que deu o arranque à Temporada de Verão na carismática praça do Sítio - onde assistir a uma tourada tem, de facto, um sabor diferente e único! - confirmando que não é mesmo por acaso que o referem como "furacão". "Furacão" de verdade! Mais importante ainda: toureando com verdade, a rigor, sem martingalas, sem folclores baratos. Romero toureou, bregou, lidou a rigor os dois sérios toiros do Engº Jorge de Carvalho. A ganadaria foi muito justamente premiada, pela seriedade, pela verdade, pela emoção e pelo perigo que transmitiram os seis toiros (mais complicados os dois de Rouxinol) com volta à arena no sexto, protagonizada pela ganadeira Raquel de Carvalho, filha do nosso Engenheiro.
Andrés Romero é hoje o rejoneador mais aclamado pela aficion lusitana, mas é também um dos melhores cavaleiros que marcam actualmente presença nas nossas praças - doa a quem doer, é um facto indesmentível. Públicos como o da Nazaré, onde desfruta já de imenso cartel por memoráveis triunfos anteriores, exigem-no nos cartéis. Ontem deixou enorme ambiente para a sua próxima presença na capital, a 4 de Agosto na corrida internacional que será a segunda da temporada lisboeta.
Os toiros do Engº Jorge de Carvalho contribuíram - e de que maneira o fizeram! - com a sua presença, o seu trapio, a sua seriedade e sobretudo com as complicações que impuseram (mal da Festa se os toiros fossem colaborantes e facilitões) para o grande sucesso da corrida, que foi uma daquelas que fazem aficionados e marcam uma temporada. O público sentiu o perigo, afligiu-se com o risco - e a principal essência da Festa é mesmo essa. Não são as corridas de toiros "bonzinhos" e "amáveis" que fazem crescer a aficion - são estas. Os cinco primeiros impuseram, exigiram, pediram contas e "tinham mudanças". Não foram fáceis, antes pelo contrário, mas os toiros não são para ser fáceis. São para dificultar e pôr à prova o valor dos toureiros e dos forcados. O último, o único amarelo, foi um toiro de bandeira! Cavaleiros e forcados estiveram à altura de um curro de excelência.
Os dois toiros de Luis Rouxinol, primeiro e quarto, mas principalmente o primeiro, foram as favas da noite, toiros complicados, reservados, a arrear fortíssimo no momento da reunião, quase a saltar para cima dos cavalos, adiantando-se, a provocar alguns toques nas montadas, mas toques daqueles que só levam os toureiros que pisam os terrenos de risco que Rouxinol pisa sempre.
Valeram a experiência e a maestria do cavaleiro na duas lides, superando e ultrapassando sempre as dificuldades que os oponentes lhe impuseram. O público esteve com Luis Rouxinol, que ao início da corrida foi homenageado pelo presidente da Confraria de Nossa Senhora da Nazaré, Nuno Batalha, e por Rui Pedro Bento, da empresa Doses de Bravura, promotora das corridas nesta praça, pelos seus 35 anos de alternativa.
No quarto toiro e apesar das complicações que este impôs, Rouxinol nem sequer abdicou do par de bandarilhas (imponente) e do ferro do palmo, com que terminou uma lide de tremendo valor, com a raça e a afirmação de todos os tempos. Um Senhor Toureiro, ontem, hoje e sempre!
Francisco Palha está num momento altíssimo, é um toureiro de risco, com maturidade e já muita maestria. Os seus dois toiros também nada facilitaram, antes pelo contrário. Palhinha esteve soberbo a lidar e a tourear o segundo da noite. E teve depois uma actuação magistral no quinto, a que deu a volta com saber e inteligência, pisando terrenos proibidos, empolgando a cada ferro, arriscando ao máximo, triunfando forte. Uma lide de muita cátedra, a reafirmar Francisco Palha como um dos melhores cavaleiros do momento.
Andrés Romero esteve ontem superior, foi o que mais arrebatou o publico, deixando a praça virada do avesso e os aficionados de pé a pediram mais ferros. E, repito, tudo isso sem folclores, é importante que se destaque. Com toureio de verdade, com emoção em todas as sortes, com ferros verdadeiramente notáveis. O primeiro curto no sexto toiro foi aquilo a que se chama um "ferrão".
Noite grande, também, para os forcados de Portalegre, das Caldas da Rainha e Académicos de Coimbra, três grupos que podem não estar tão rodados como alguns da chamada primeira fila, mas que demonstraram ontem, com toda a raça e toda a emoção, que não há, não houve nunca, grupos de primeira e grupos de segunda. Cinco pegas à primeira e só uma à segunda, frente a toiros de verdade, dos que não permitem deslizes, toiros "com motor", a exigir, a impor seriedade. E os três grupos estiveram em grande plano, quer pelos forcados de cara, quer pelos prontas e decisivas intervenções em conjunto a ajudar.
Por Portalegre pegaram Ricardo Cardana à primeira e Gonçalo Costa à segunda; pelo grupo das Caldas foram caras Joaquim Lino e António Appleton, ambos à primeira; e pelos Académicos de Coimbra pegaram João Gonçalves e Martim Rodrigues, também ambos ao primeiro intento. Já a seguir, vamos mostrar-lhe as sequências das seis grandes pegas.
Tiveram ontem muito trabalhinho os seis bandarilheiros das quadrilhas dos cavaleiros, quer a receber e a bregar os toiros (sem intervenções em demasia, apenas as necessárias), quer depois a colocá-los para os forcados. Nota (muito) alta para Manuel dos Santos "Becas" e João Bretes (de Rouxinol), Armando Alves "Pagã" e Diogo Malafaia (de Palha), Paco Moreno e Cláudio Miguel (de Romero).
A corrida, que deu um arranque triunfal à temporada da Nazaré, onde se seguem no mês de Agosto mais três corridas muito bem montadas e ainda uma quinta e um espectáculo cómico-taurino em Setembro, foi também um triunfo de Rui Bento e da sua empresa Doses de Bravura - para quem vão os meus aplausos.
Actuando de acordo com as circunstâncias (alegria, envolvimento absoluto do público, com entusiasta participação na festa, tornando diferente as touradas nesta praça), dirigiu muito bem o espectáculo o competente director de corrida José Soares, que esteve ontem assessorado pelo conceituado médico veterinário José Luis da Cruz, sendo cornetim Álvaro Pequicho.
Assistiram à corrida várias personalidades e muitos aficionados de solera (mais logo, não percam todas as fotos dos Famosos), havendo que destacar a sempre honrosa presença do Padre Vitor Melícias, a quem os forcados de Portalegre brindaram a quarta pega da noite.
Com noites como a de ontem, dá gosto ir aos toiros!
Fotos M. Alvarenga
Dá gosto ver uma praça cheia, como esta. E um público tão entusiasta como é este da Nazaré, onde tudo é diferente! |
Toiros do Engº Jorge de Carvalho impuseram ontem o risco e a seriedade que são as verdadeiras essências da Festa. Na foto, o bandarilheiro Manuel dos Santos "Becas" |
Ganadeira Raquel de Carvalho deu volta à arena no sexto com Andrés Romero e o forcado Martim Rodrigues, dos Académicos de Coimbra |
Luis Rouxinol impôs a sua maestria frente aos dois toiros mais complicados da noite |
Foi com esta emoção e este risco, pisando estes terrenos, que Francisco Palha se reafirmou ontem, uma vez mais, com um dos grandes e bons Toureiros do momento! |
"Furacão" Romero virou a Nazaré do avesso! |