Miguel Alvarenga - Noite duríssima para os Forcados ontem no Campo Pequeno, a pôr à prova o valor dos três grupos - Moita, Arronches e Académicos de Elvas -, que disputavam o tradicional Concurso de Pegas da temporada lisboeta na corrida de Homenagem ao Emigrante e ao Turismo e não tiveram a tarefa facilitada, bem pelo contrário, face à força (autênticos comboios de alta velocidade!), à dureza e à muita seriedade imposta pelos Toiros de Verdade da emblemática ganadaria Vinhas. Toiros de emoção, a exigirem, a "porem mudanças", a derrotar com violência. Felizmente, não houve feridos graves. Apenas forcados (muito) maltratados. É bem visível em todas as fotos a força e a carga brutal com que investiram os potentes e muito sérios toiros de Vinhas. Tiveram pela frente Forcados com alma e muita raça.
As duas pegas dos Amadores da Moita, que estiveram pela última vez comandados por Pedro Raposo na Catedral (despede-se em Setembro na sua praça) foram executadas por dois experientes forcados do grupo: David Solo (primeira pega da noite), o forcado triunfador da Feira da Moita do ano passado, numa rija intervenção à segunda tentativa, depois de ter sido violentamente despejado com um derrote baixo junto às tábuas; e Fábio Silva, na mais complicada pega da noite ao toiro mais difícil da corrida, o quarto, só consumada à quinta tentativa, a sesgo. Nota de valor para as valentes intervenções do primeiro ajuda do grupo nas duas pegas.
Os Amadores de Arronches pegaram o segundo toiro da corrida com Luis Marques na cara, à quarta tentativa, depois de violentos derrotes sofridos nas três primeiras. O forcado esteve valente e os ajudas fizeram os possíveis e os impossíveis frente a um toiro que complicou. A quinta pega da noite foi um hino à valentia e ao garbo de um grande forcado, Rafael Pimenta. Violentamente despejado na primeira tentativa, fez depois uma pega enorme, aguentando brutais derrotes, fechado de braços e pernas, com decisão férrea, sem desarmar. Saíu todo esfarrapado, foi ainda conduzido à enfermaria, pelo seu pé, amparado por dois socorridas da Cruz Vermelha, mas teve ainda forças para dar uma volta à arena com Miguel Moura e depois outra sózinho, com o público de pé a aclamá-lo. Não ganhou o Concurso de Pegas (júri constituído pelos cabos dos três grupos) por só ter consumado à segunda, mas teve o prémio de uma praça inteira a tributar-lhe uma das maiores ovações da noite, em respeito e reconhecimento pela sua alma enorme de Forcado de primeira!
Os Académicos de Elvas pegaram o terceiro toiro por intermédio de Paulo Maurício, que executou uma emotiva pega ao segundo intento, aguentando firme violentos derrotes; e o último com uma intervenção brilhante e tecnicamente perfeita de Gonçalo Machado, conhecido entre os amigos por "Harry Poter", um forcadão com história e méritos consagrados. Muito bem a recuar, mandando e templando a forte investida do toiro, um Vinhas premiado com volta do ganadeiro à arena, fechou-se com decisão e foi muito bem ajudado pelos companheiros, consumando a única pega da corrida à primeira - por isso mesmo premiada, justamente e apesar da divisão de opiniões do público, com o troféu que estava em disputa no Concurso de Pegas.
No final e depois de tocado o Hino Nacional, os três grupos foram calorosamente aplaudidos quando atravessaram a arena.
Em suma, uma noite duríssima para os Forcados pelo poderio dos Vinhas, com os três grupos à altura de tão difícil desafio e a marcarem com triunfo e dignidade esta sua passagem pela primeira arena do país, acompanhados,, qualquer um deles, por legiões de seguidores que se manifestaram nas bancadas a apoiar os seus grupos.
Ainda e sempre, os Grupos de Forcados na primeira linha no que diz respeito a trazer público às praças.
Fique agora com a grande reportagem e veja as sequências das seis rijas pegas que ontem marcaram esta segunda corrida da temporada em Lisboa.
Fotos M. Alvarenga