domingo, 7 de agosto de 2022

Nazaré: corrida de "loucos", até que...


Moura Jr. e Bastinhas marcaram noite de apoteose ontem
na praça da Nazaré

Hugo Teixeira - A corrida de toiros realizada ontem na praça da Nazaré voltou a registar uma excelente casa (três quartos fortes da lotação preenchidos), tendo o público sido brindado com duas enormíssimas lides de João Moura Jr. e outras duas de estrondo de Marcos BastinhasRouxinol Jr. só não seguiu o mesmo caminho porque, enfim… Já conto tudo!

O segundo festejo da temporada na praça do Sítio da Nazaré voltou a ser uma aposta ganha pela Confraria de Nossa Senhora da Nazaré, proprietária da praça e da empresa Doses de Bravura, de Rui Bento, responsável pela organização das corridas.

Praça cheia, um curro de toiros de Passanha que serviu muito bem (até ao sexto - que estava condicionado fisicamente) e grandes pegas dos grupos de forcados de Montemor e Vila Franca de Xira


João Moura Jr. foi à Nazaré rubricar duas actuações de sonho. Está num momento extraordinário e isso viu-se logo no seu primeiro, deixando a fasquia bem alta com ferros compridos bem desenhados e acompanhados de boa brega.


Nos curtos, ao segundo ferro, escutou música graças à forma como atacava o oponente de praça a praça, entrava nos seus terrenos e rematava as sortes. Uma lide de “loucos”, tendo ficado logo ali escrito que a noite era de grande competição.


No seu segundo, a bitola manteve-se, com bons quiebros, cavalos que mais pareciam muletas na cara dos toiros e a cravar em curto. Duas lides soberbas que culminaram com duas mourinas (neste segundo do seu lote) que enlouqueceram as bancadas.


Moura Jr. está num grande momento, onde quer que toureie vai para competir e ganhar - e isso ficou bem patente ontem na Nazaré.

 

Marcos Bastinhas não se deixou intimidar pelo “terramoto mourista” e no primeiro do seu lote assinou também o “tratado de guerra” que visava uma noite de forte competição.


Recebeu o seu primeiro à porta dos curros, dobrou-se com o oponente nos médios, colocou dois bons compridos e seguiu "viagem" rumo a uma série de curtos com ligeiras batidas e com piruetas a rematar as sortes.

Ao fim do segundo curto escutou música e para a história fica ainda uma grande pirueta na cara do toiro e um vistoso par de bandarilhas cravado por dentro.


Já no seu segundo, o de Elvas apanhou um pequeno susto quando o seu cavalo de saída escorregou, enquanto se dobrava nos médios com o oponente. Nada de grave, felizmente!


Seguiu “viagem” com uma alegria contagiante e com o “selo Bastinhas”, tendo depois cravado dois compridos e desenhado curtos de praça a praça, com piruetas a adornar as sortes. Um soberbo ferro de palmo por dentro e outro de seguida com vários adornos, remataram a lide.

No final apeou-se do cavalo nos médios sob forte ovação. Já na volta com o forcado, foi obrigado no final a ir aos médios agradecer as ovações.

 

A mesma sorte já não teve Luis Rouxinol Júnior. No primeiro do seu lote, que deu “passaporte” para o ganadeiro Diogo Passanha poder dar volta ao ruedo, Rouxinol Jr. andou irregular na cravagem dos compridos, tendo desenvolvido depois uma lide em crescendo, tendo a mesma atingido o ponto alto no terceiro curto, entrando no patamar da música como forma de agradecimento ao labor do toureiro. Entre adornos e bons remates das sortes, o de Pegões terminou a sua primeira atuação com um ferro de palmo.


E dizia eu que Luís Rouxinol Jr. não teve sorte. Aliás, saiu prejudicado numa noite onde a sua inspiração também não esteve presente. O segundo do seu lote, mal saiu à praça, foi fácil observar que trazia consigo alguns condicionamentos físicos, mas o veterinário Jorge Moreira da Silva e a diretora do festejo, Ana Pimenta, assim não o entenderam e a lide seguiu o seu caminho...


Com falta de toiro (a perder as mãos) no momento de cravar, a lide de Rouxinol Jr. saiu prejudicada, condicionada e com pouco brilho, situação que o público entendeu na perfeição, tendo puxado pelo toureiro constantemente, aplaudindo-o.


Uma lide que, mesmo assim, teve alguns pormenores de brega e um bom curto a fechar. Não deu para mais e a inspiração do toureiro também não estava nos seus dias. Acontece aos melhores.


No capítulo das pegas, a noite foi de sortes bem vistosas, tendo ficado bem patente que os grupos de Montemor e de Vila Franca de Xira são formações de elevado nível e que sabem honrar os seus pergaminhos.


Por Montemor, foi solista José Maria Cortes Pena Monteiro (irmão do cabo), num pegão ao primeiro intento, mostrando um par de braços impressionante.


Francisco Borges, que comemorava o seu 30º aniversário natalício, teve de puxar de toda a sua experiência para vencer a contenda ao segundo intento, com um toiro cá atrás a pedir contas e um grupo a ajudar no espírito de sacrifício e de camaradagem.


A noite fechou para a formação alentejana com uma pega cheia de conhecimento e de saber estar de Vasco Carolino, ao primeiro intento.

 

Já por Vila Franca a noite foi mais tranquila, com um lote mais “sereno”.


Rafael Plácido pegou com galhardia e eficiência ao primeiro intento, tendo também pegado ao primeiro intento Pedro Silva, que rubricou uma vistosa pega.


O último toiro mereceu ainda uma valente tentativa de João Matos, mas não foi novamente à cara do toiro porque esse agravou a lesão que já tinha quando saiu dos curros para ser lidado por Luís Rouxinol JúniorBronca por parte do público ao veterinário Jorge Moreira da Silva e à delegada técnica do festejo, Ana Pimenta.


Uma cena que poderia ter sido evitada e que de certa forma manchou uma grande noite de toiros na Nazaré, com um bom curro de Passanha, a deixar-se bem, embora algo dispare de apresentação.

Uma noite de “loucos”, com uma primeira parte, principalmente, alucinante e que poderia ter sido coroada do principio ao fim com grandes êxitos.


Fica para a próxima.


Fotos Fernando José


Ganadeiro Diogo Passanha premiado com volta à arena com
Luis Rouxinol Jr. e Francisco Borges (Montemor)
Noite de grandes pegas pelos consagrados grupos de Montemor
e Vila Franca. Na foto, os dois cabos ao início da corrida
Último toiro (visivelmente diminuído) originou no final uma
bronca do público ao veterinário Moreira da Silva e à directora
Ana Pimenta. Uma cena que podia ter sido evitada...