sexta-feira, 21 de abril de 2023

Guerrilhas empresariais servem-se do drama de Daniela

Daniela com o pai e a irmã mais nova, antes e depois do
incidente que a deixou tetraplégica

Miguel Alvarenga - É comovente, é inquietante e ninguém pode ficar indiferente. Pode acontecer a qualquer um de nós, pode acontecer a um dos nossos filhos.

Daniele Silvestre, jovem de Alcainça, ali para os lados da Malveira saloia, tinha 21 anos naquela noite em que estava com amigos e amigas numa discoteca em Alverca. Era uma jovem alegre, bonita e saudável, que nunca tivera qualquer problema grave de saúde.

Subitamente, sentiu um braço dormente e depois o outro, quis agarrar no telemóvel e já não conseguiu. Os amigos levaram-na rapidamente ao hospital. E este foi o acidente que a deixou tetraplégica, amarrada a uma cadeira de rodas. Clinicamente, designa-se por enfarte medular. Eu não imaginava que se pudesse passar uma coisa assim.

É a favor da Daniela - que tem tido presenças várias em programas de televisão -, que precisa de uma nova e mais moderna cadeira de todas, que o empresário António Pedro Vasco organiza no próximo dia 1 de Maio um festival taurino em Livramento (Mafra), há muito anunciado e que teve mesmo, pelas razões que o justificam, a condescendência da Associação Portuguesa de Empresários Tauromáquicos (APET), uma vez que ficou decretado que os festivais taurinos só podem ocorrer até ao dia 25 de Abril e este será uma semana à frente.

Tudo bem, até aqui. Todos de acordo e todos dispostos a esgotar a praça portátil no próximo dia 1 de Maio - para ajudar a Daniela.

Subitamente, há dois dias, surgiu nas redes sociais um outro cartaz de uma corrida de toiros a realizar no dia 8 de Junho (Corpo de Deus) na Malveira... alegadamente também a favor da Daniela.

Infelizmente e à custa da tragédia da Daniela, vieram à tona guerrilhas empresariais. Sem sentido algum.

Anunciar quinze dias antes da realização do festival de Livramento um outro festejo para Junho com os mesmos objectivos, não é apenas uma falta de respeito, é, sobretudo, uma falta de ética.

Não se realizavam corridas de toiros na Malveira há dez anos e na última temporada o empresário António Pedro Vasco devolveu a tradição aos aficionados locais voltando a promover uma corrida na terra. Este ano volta a promover outra a 13 de Agosto. Mas, entretanto, aparece esta a 8 de Junho, promovida por outro empresário - Florindo Ramalho -, anunciada com grande antecedência e em vésperas do festival que se realiza em Livramento a favor da Daniela. Talvez para baralhar as hostes...

Daniel, pai da Daniela, foi contactado ao de leve pela organização dessa corrida na Malveira. É um homem a leste do mundo taurino. Pensou, confessou depois, que lhe estavam a falar do mesmo espectáculo (Livramento) de que lhe têm falado nos últimos tempos.

Alertado depois para o facto de se tratar de um outro espectáculo, contactou os organizadores e solicitou-lhes (esta semana) que retirassem do cartaz a fotografia da filha e as intenções expressas de também ser em seu favor este outro festejo.

A trapalhada - mais uma... - é fruto de guerrilhas empresariais entre António Pedro Vasco e Florindo Ramalho, conta quem sabe.

Ganha quem com isto? Não ganha ninguém. E ainda pode perder a Daniela. Que neste momento só pode estar no mundo para ganhar e vencer a fatalidade que lhe bateu à porta.

Em baixo, o cartaz do festival de 1 de Maio em Livramento e também o anúncio da outra corrida a 8 de Junho na Malveira.

Fotos D.R.