terça-feira, 12 de setembro de 2023

Há 39 anos: estocada de Mário Coelho agitou Feira da Moita


Cumprem -se no dia de hoje 39 anos sobre a tarde histórica de 12 de Setembro de 1984, quando Mário Coelho matou na Moita o toiro "Corisco" de Ernesto de Castro.

Era a tarde de 12 de Setembro de 1984, estávamos, como hoje, em plena Feira da Moita, corrida à espanhola, com picadores, com o matador português Mário Coelho (ao tempo com 48 anos) e os espanhóis Pedro Gutiérrez Moya "Niño de la Capea" e Paco Ojeda, sendo os toiros da ganadaria de Ernesto de Castro (cartaz em baixo).


Mário Coelho deu nessa tarde um estocada fulminante ao toiro "Corisco", que deixou a praça em delírio. Cortaram as orelhas e o rabo ao toiro e o diestro passeou-as numa apoteótica volta à arena aos ombros. O primeiro matador de toiros português Diamantino Vizeu assumiu então o lugar de director de corrida, depois de a autoridade ter abandonado a praça face ao acto do matador.


"Entusiasmado por uma corrida à espanhola, cujo curro apresenta toiros com cinco anos, naturalmente em pontas, picadores e ao lado de duas figuras máximas da tauromaquia espanhola e mundial, Mário decide acabar com a vida de 'Corisco', da ganadaria de Ernesto de Castro", recorda o jornalista e escritor António de Sousa Duarte no livro biográfico do matador vilafranquense ("Mário Coelho - Um Homem Inteiro", Âncora Editores), acrescentando:


"O caso culminou com Mário Coelho sentado no banco dos réus e um Ministério Público desesperado por lhe aplicar uma pena exemplar. Mas as suas alegações na sala de audiências e a narração, entusiástica e genuína, de um acto não premeditado mas simplesmente contagiado pela emoção e pelo apoio vibrante do público terão contribuído para uma sentença apesar de tudo tolerável e não extremada".


Os dois empresários promotores da corrida, Jorge Pereira dos Santos e Manuel Bento, foram condenados em multas de 65 contos cada, como aqui nos recorda um recorte do jornal "Diário Popular" da época.


Dezassete anos depois, em Setembro de 2001, também Pedrito de Portugal matou um toiro da ganadaria de Conde Cabral nessa mesma arena da praça moitense "Daniel do Nascimento". O Tribunal da Moita, condenou-o ao pagamento de uma coima de 100 mil euros. No julgamento, foram várias as personalidades que testemunharam a favor de Pedrito de Portugal, entre as quais o político Pedro Santana Lopes, o fadista Nuno da Câmara Pereira e o jornalista Miguel Alvarenga.


Mário Coelho viria a retirar-se das arenas seis anos depois da estocada na Moita, no ano de 1990, na praça de toiros do Campo Pequeno, onde seu filho, o também matador de toiros Mário Vizeu Coelho, lhe cortou a coleta.


Mário Coelho morreu em 2020, vítima de covid.


Fotos Henrique de Carvalho Dias e D.R.



Mário Coelho com o rabo e as orelhas do "Corisco", ao lado do
seu bandarilheiro Mário Freire (primeira foto de cima) e no
momento em que era passeado em ombros na arena da Moita
Diamantino Vizeu, que assistia à corrida, assumiu a direcção
do espectáculo 

Mário Coelho (em primeiro plano) no banco dos réus, ao lado
do ganadeiro António Luis de Castro, vendo-se ainda (à
esquerda, sentados), o empresário Jorge Pereira dos Santos
e Diamantino Vizeu
Recorte do "Diário Popular" e, em baixo, o cartaz da corrida