João Ribeiro Telles vai tourear sózinho seis toiros na quinta-feira na praça da Moita, na data forte da Feira Taurina, este ano com uma proposta diferente aos aficionados: um cavaleiro em vez de seis. Acredita que o público vai estar a seu lado e que vamos ter a praça "Daniel do Nascimento" cheia. Faz quinze anos de alternativa, mas diz que "isso não é nada" ao pé de tantos outros exemplos que refere, como os de João Moura, de Rouxinol, de Salvador, de Salgueiro, do seu tio António. Leva quinze cavalos, três casacas e três cavaleiros suplentes (os primos Manuel António e Tristão) para a grande noite de quinta-feira na Moita. As expectativas e as revelações de João Telles a dois dias de fazer história.
Entrevista de Miguel Alvarenga
- Dizia o velho Fernando Camacho que um toureiro se encerra com seis toiros em acto de desespero ou em tempo de consagração. Desespero, no teu caso, não existe... é então uma consagração?
- Desespero era um bocadinho não ter nada feito e atirar a moeda ao ar e ver o que acontecia... Mas aqui é o contrário, é o final de uma época que me tem corrido bastante bem e acho que é tentar mesmo que seja uma consagração e consolidação, acima de tudo.
- É curioso, e se calhar estranho ao mesmo tempo, que seja na praça da Moita, quando se esperava que o fizesses numa das "tuas" praças, Coruche, Almeirim ou Vila Franca...
- Toda a gente pensava que seria em Almeirim, ou até em Coruche (onde também toureei seis toiros em 2019) ou mesmo possivelmente em Lisboa ou Vila Franca. Foi a Moita porque, não tirando importância a nenhuma das outras que referi, só podia mesmo ser numa praça destas. Numa feira de primeira, numa praça de primeira e numa data que é a mais importante do ciclo. A Moita é uma praça onde as coisas me têm corrida muito bem nos últimos anos, fui considerado triunfador da feira dois anos seguidos, certamente que tudo isso pesou na decisão do empresário e meu apoderado Ricardo Levesinho.
- Vamos ter praça cheia na quinta-feira, João?
- Eu espero que sim, é esse o apelo que fazemos, que seja praça cheia nesta data bastante tradicional, embora seja uma corrida completamente diferente do habitual.
- Costuma ser uma corrida de seis ou três cavaleiros, sendo desta vez de um só, quem for à praça é porque gosta de ti, porque gosta de te ver, porque está ali por ti...
- Sem dúvida, mas eu acho que, para todos os efeitos, é um cartel rematado de cima a baixo, desde o sítio, a praça da Moita, os forcados do Aposento, os toiros de diversas ganadarias. Penso que é um cartel diferente do que é costume nesta data, mas tentou-se ao máximo que fosse rematado por todos os lados, pelos toiros de seis diferentes ganadarias, pelos forcados do Aposento da Moita. A nível de toiros, penso que a corrida vai muito bem rematada, não está nada "comodista"...
- Nada cómoda, queres dizer...
- Sim. Há dois toiros mais cómodos, entre aspas, que é o Passanha e o meu (Ribeiro Telles), o Prudêncio é uma ganadaria com que eu não estou muito identificado, tenho visto alguns toiros bons, toureei só um toiro desta ganadaria em Vila Franca há dois anos; e depois, as outras ganadarias dispensam qualquer tipo de apresentação.
- Vives a temporada dos teus quinze anos de cavaleiro profissional e foi uma temporada altamente internacional, começaste no México, depois Espanha, França, Portugal...
- Um dos meus sonhos era conseguir chegar com o nosso nome lá fora e a verdade é que tenho alcançado um pouco esse objectivo. Comecei a temporada no México, toureei corridas em datas e feiras importantes em França e em Espanha, o que eu defendo é mais qualidade e menos quantidade e acho que isso tem acontecido.
- O objectivo era tourear 15 corridas em Portugal na temporada dos 15 anos de alternativa, não era?
- Sim, tirando as que toureei lá fora, vamos acabar a temporada com 15 corridas em Portugal e era esse o objectivo. Nunca fui de tourear muitas corridas. Procurámos que fossem datas importantes, praças importantes e cartéis importantes.
- Na quinta-feira na Moita não vais ter competidores, ou seja, vais competir contigo próprio...
- Pois é... Eu gosto destes desafios, destes "apertos" e sempre com competência máxima. Competições com outros toureiros tenho tido todas, tenho toureado vários mano-a-manos com todos os toureiros que andam mais na berra... e esta é um desafio comigo mesmo e com a minha quadra, que está num nível bastante alto e vamos aproveitar o momento!
- E depois, para fim de época, tens a corrida com "El Juli" em Coruche, depois com Morante e Talavante em Vila Franca... um fim em grande?
- Exactamente, toureio uma com o "El Juli" e o meu tio António em Coruche, outra com o Morante e o Talavante e o Rui Fernandes na "Palha Blanco" e outra que é a corrida da Família também em Vila Franca, estas duas na Feira de Outubro. Mais a encerrona de quinta-feira na Moita, posso dizer que termino a temporada com quatro corridas diferentes e que marcam. E o que eu espero é que marquem depois, no fim das corridas, tal como estão a marcar agora antes!
- Quinze anos de alternativa... quais foram os melhores momentos, João?
- Eu toureio desde miúdo, toureio desde os nove anos...
- Sim, mas de alternativa são quinze...
- Pois são. Mas quinze anos de alternativa não é nada. Ainda este domingo vi o João Moura estar como esteve, um fenómeno, a comemorar 45 anos de alternativa. Olho para os anos de alternativa do meu tio António, do Luis Rouxinol, do Rui Salvador que este ano não toureou mas que está aí e volta para o ano, do Salgueiro que voltou a tourear... olho para esses exemplos todos e reconheço que quinze anos de alternativa não são nada. Nem gosto de estar a falar de quinze anos de alternativa, porque ao pé disso, desses exemplos que referi, não significam nada... mas o que eu digo é que são quinze anos em que, desde o princípio, consegui atingir um caminho e os meus objectivos. Tive a sorte de desde amador estar nos cartéis mais importantes e aproveitar isso e, acima de tudo, nunca defraudar o nosso nome nem tão pouco as expectativas de todos os aficionados que apostaram em mim. O meu pai deixou de tourear quando eu comecei, eu respeito todas a outras opções, mas acho que esta foi uma belíssima cartada do meu pai, que muito ajudou a me lançar. E nestes quinze anos o que eu sempre procurei foi manter as corridas importantes, manter as datas importantes. Tourear é o que eu gosto de fazer, deixei de estudar por isto e quando me meto numa coisa, gosto de ser o primeiro! E as coisas, realmente, têm corrido bem.
- Quantos cavalos vamos ver na quinta-feira na Moita?
- Vou levar quinze cavalos. Tenho uns quantos novos, uns cavalos do meu ferro, tenho um do ferro do Manuel Braga que já toureou este ano algumas vezes, é um cavalo novo que pode vir a marcar. E levo os outros já conhecidos.
- A quem vais brindar as lides na Moita?
- Não gosto de coisas pensadas, sinceramente não sei, vai ser tudo natural e espero que haja alguns brindes especiais.
- Casacas, quantas vão ser?
- Em 2019 em Coruche toureei cada toiro com uma casaca, levei seis. Desta vez acho que vou levar três, uma para cada dois toiros. Tenho umas casacas novas, não sei se estarão prontas até quinta-feira, mas desta vez vão só três.
- E quem é o cavaleiro suplente?
- Em Coruche foi o meu tio António e o meu primo Manuel Bastos. Desta vez vão ser os meus primos, o Manuel outra vez, o António de Jesus e o Tristão.
- Qual o apelo que fazes aos aficionados para que te vão ver com seis toiros esta quinta-feira na Moita?
- Embora seja um só cavaleiro a tourear seis toiros, prometo que não vai ser mais do mesmo, vou tentar fazer coisas diferentes em cada toiro e conforme o toiro. O apelo que faço é o de que me acompanhem neste passo tão importante e tão diferente. Vou, uma vez mais, mostrar para o que estou e para o que venho!
Fotos D.R./Tauroleve