Miguel Alvarenga - Às vezes, a propósito da arte de que (ainda) sou escriba, impressiona-me a forma como alguns empresários tauromáquicos procuram justificar os fracassos de bilheteira nas suas touradas, alegando que o pessoal "não tem dinheiro" para ir a tantas praças ver tantas corridas.
É, pura e simplesmente, tentar enfiar a cabeça na arena. não querer admitir a realidade e, mais feio que isso tudo, é mentir. Nunca houve mas é tanto dinheiro como há hoje! Todos os dias percorro as ruas na minha Yellow Vespa e já nem se consegue circular em Lisboa com tantos carros. Não são aos milhares, são aos milhões. E, que eu saiba, aquilo não anda sem gasolina ou gasóleo, que são "líquidos" caros. Então, não há dinheiro? Há, sim senhor!
Ontem pensei nisso enquanto estava no Pavilhão Atlântico a assistir ao magnífico concerto de Roberto Carlos - único, igual a sempre! 18 ou 19 mil pessoas leva "aquilo", acho, não tenho a certeza, mas é por aí. Bilhetes a mais de 100 euros, a 95, a 80, até mais ou menos 40 ou 50. E estava esgotado há meses. Tiveram que promover um concerto-extra na véspera, porque o de ontem estava esgotado há vários meses.
As milhares de pessoas que lá vi não tinham propriamente caras de milionários, eram pessoas normais. E pagaram esses valores para ver o Rei Roberto! Não há dinheiro? Há, sim senhor.
O que justifica os fracassos de bilheteira de algumas touradas não é, há muitos e muitos anos, a falta de dinheiro do pessoal. É, antes, a falta de paciência do pessoal. Que é diferente. Muito diferente, mesmo.
Os toureiros são sempre os mesmos. Há muitos que, se os vir uma vez por ano, estão vistos e mais que vistos e revistos e não preciso de os ver mais - mas levo com eles a toda a hora, em todas as praças. Os empresários, coitados, bem sei que têm pouquíssima matéria prima para tentar inovar, mas também é verdade que não têm a imaginação que tinham os antigos e, além disso, hoje em dia quase todos são apoderados também e os cartéis montam-se com base nas trocas & baldrocas, não em consequência e por força do interesse do púbico - e muito menos em consequência do valor e dos triunfos dos toureiros. Por isso, as pessoas vão menos aos toiros. Não temos ídolos. E os cartéis que nos apresentam são todos os dias mais do mesmo.