Miguel Ortega Cláudio/"Tauronews" - Na ilha dos vulcões adormecidos… ontem, dia de São João do ano 24, houve uma erupção chamada João Moura Jr…
Existem dias em que se acende a chama do toureio, ali houve a raça intercalada com momentos de arte fantásticos e geniais.
Existem dias… em que, quem esteve presente numa praça de toiros, guardará na sua memória para todo o sempre os momentos vividos na arena! Existem dias em que nos emocionamos, ficamos arrepiados, ficamos orgulhosos de ser aficionados… Existem dias em que o toureio é a mais bela das artes deste nosso mundo…
Mas para isso acontecer tem que haver a conjugação de dois elementos, um toiro e um homem. João Moura Jr. foi o homem que pintou um dos mais belos quadros que vi numa arena a tourear a cavalo…
Tenho pena, meus caros, que só os privilegiados que tiveram a sorte de assistir a esta segunda corrida das Sanjoaninas pudessem usufruir desta obra… Uma verdadeira apoteose Mourista invadiu a alma e o coração dos presentes!
Novamente uma enchente de público nas bancadas, presenciou a segunda corrida de Feira, um mano-a-mano entre os cavaleiros Tiago Pamplona e João Moura Jr. e os forcados de Alcochete e da Tertúlia Tauromáquica Terceirense.
Foram lidados seis toiros da ganadaria Rego Botelho, toiros que vendem caro as suas lides e pegas… toiros que fazem pensar cavaleiros, bandarilheiros e forcados. Toiros que fazem o público estar atento e entender que estar diante de um toiro é para poucos… corrida de matizes e interesse! É verdade que nenhum foi completo, mas a perfeição é quase impossível de alcançar. Todos tiveram a virtude de humilhar nos capotes, mas faltou-lhes entrega e finais… hoje em dia fundamentais para o toureiro.
O primeiro é manso, com querença em tábuas, mas sem maldade de maior. Humilhou e mostrou classe nos lances que lhe foram administrados.
O segundo é imponente, sério, fixo… pensa, mas vem a mais… tudo que se lhe faz tem importância!
O terceiro foi o mais terciado da corrida, mas teve um comportamento de “homem”, faltou-lhe a entrega dos bravos.
Em quarto lugar, quanto a mim, saiu o mais complicado da corrida… pensou em demasia, foi agarrado ao piso e também não rompeu.
O quinto, em termos de apresentação, foi o mais toureiro dos seis, também teve a qualidade dos bons nos lances ao qual foi submetido, mas teve um comportamento intermitente.
Jabonero foi o sexto, toiro encastado onde os haja, por diante tinha emoção e quando carregava depois do ferro tinha vibração.
Tiago Pamplona abriu a tarde diante de um toiro que desde o início escolheu os terrenos de dentro. Cravou dois compridos a tentar interessar o de Rego Botelho na montada. A ferragem curta no início da lide foi deixada a sesgo, sendo de boa nota dadas as condições do seu oponente. Lidou com elegância. Mais dois ferros de boa nota foram cravados no morrilho do toiro.
Na lide do terceiro, Pamplona realizou uma grande lide, diante do encastado R.B. Dois bons compridos, lidando de bonitas maneiras. Na série de curtos houve emoção e verdade no momento das sortes, cravando de frente e ao estribo ferros de bela nota. Destaque maior para o terceiro, citou de terra a terra, partiu recto e cravou como mandam as regras. Finalizou a sua actuação com dois palmitos de belo efeito, sendo o segundo cravado em terrenos de muito aperto.
No quinto, a lide teve algumas intermitências… dois bons compridos faziam antever que novamente Tiago iria triunfar em tarde de homenagem ao Senhor seu pai, João Carlos Pamplona, pelos seus 40 anos de alternativa. No início da série de curtos o toiro começou a ficar mais agarrado ao piso não se empregando no momento da reunião, dificultando muito a lide ao cavaleiro, que teve que passar algumas vezes em falso. Mesmo assim, os dois últimos curtos foram de boa nota.
João Moura Jr., diante do sério e imponente primeiro toiro do seu lote, cravou dois bons compridos, lidando com eficiência. Nos curtos abriu o livro e a obra realizada foi brilhante. Ao mesmo tempo, intercalou a emoção com momentos artísticos fantásticos. Grande foi o seu primeiro curto mas o remate… soberbo, levando o toiro embebido nas sedas do cavalo num ladeio brilhante e rematando por dentro de forma genial.
O terceiro curto levantou o público dos assentos, cravou com verdade, arrepiando os presentes. No remate que se sucedeu, houve a magia do toureio! Templou e toureou o toiro num ladeio acompassado soberbo, rematando por dentro num palmo de terreno com se de um passe de trincheira se tratasse. Público em júbilo!
Na lide do quarto da tarde, os compridos tiveram boa nota, havendo uma brega a tentar interessar o toiro, que por vezes fazia o papel do desentendido. Nos curtos, o segundo teve uma intensidade grande, despertando o público. A brega foi inteligente, escolhendo bem os terrenos e as distâncias do oponente. Mais um par de curtos de boa note se seguiram e um palmo também de excelente nota a rematar esta actuação.
Diante do sexto da tarde houve momentos de toureio a cavalo quase indescritíveis… houve emoção, mas ao mesmo tempo momentos de arte sublimes, houve um triunfo absoluto por parte de João Moura Jr. O público pregou por vezes saltos dos assentos pelo visto naquela arena.
Dois compridos a começar a função para avaliar as condições do oponente. Cravou um primeiro curto, mas no remate houve uma “meia verónica” de olé rotundo! Os curtos que se seguiram tiveram a emoção de quando um homem joga a sua vida diante de um toiro que quando se arranca é para o comer… A bravura de um toiro e a valentia de um homem!
Depois vieram as mourinas… na preparação da primeira houve “houve toureio de capote” a cavalo deixando o toiro colocado no sítio que o João quis. Genial! A mourina deixou o público em delírio absoluto. A pedido do respeitável, o João acedeu a cravar outra mourina, o jabonero arrancou de tal forma violenta que gelou as almas dos presentes, mas, num acto de génio, Moura recortou-lhe a acometida no centro da arena… novo apontamento importante desta lide. Finalizou então esta sua obra com nova mourina e com um remate de tal forma que nem adjectivo me surge…. Saiu em apoteose, com um público rendido e emocionado com o seu toureio.
Bem os bandarilheiros que actuaram esta tarde mas houve dois a destacar: João Pedro “Açoriano” e o magnífico Duarte Alegrete.
No capítulo das pegas, a tarde foi emocionante, havendo momentos que puseram ao rubro o público que enchia a bancadas da Monumental de Angra.
Abriu a tarde Henrique Teixeira Duarte, dos Amadores de Alcochete, que esteve enorme! Na primeira tentativa suportou um derrote demolidor para cima… que tirou o cara e o primeiro ajuda. O Henrique parecia magoado de um ombro e o Pedro Oliveira saiu mesmo para a enfermeira. Recomposto, o forcado da cara voltou a bater as palmas ao violento toiro, realizando uma brutal sorte de caras.
João Dinis pegou o terceiro da tarde numa pega limpa ao primeiro intento, em que houve uma boa reunião e o grupo ajudou bem.
Fechou a intervenção dos Amadores de Alcochete o grande Manuel Pinto - e outro dos momentos da tarde foi realizado por este forcado das terras do Verde Barrete. O Manel citou e toureou o toiro de forma bonita, recuou na perfeição, fechou-se bem de pernas e braços, havendo boas ajudas, grande pega à primeira tentativa.
Pelo grupo da Tertúlia Tauromáquica Terceirense abriu a tarde Bernardo Belerique, que esteve grande diante de um toiro muito bruto e violento… O Bernardo teve uma alma enorme e quatro vezes lhe bateu as palmas suportando derrotes demolidores… saiu lesionado e foi dobrado por João Silva.
Francisco Marques pegou o quarto da tarde numa boa pega à primeira tentativa. Despediu-se neste toiro Nelson Furtado, debaixo de estrondosa ovação.
Fechou a tarde Carlos Vieira, numa grande pega de caras, com o grupo a ajudar de forma coesa.
No início da corrida foi guardado um minuto de silêncio em memória do antigo forcado João Hermínio, fundador do Grupo da Tertúlia Terceirense, que ontem celebrava o seu 51º aniversário.
Dirigiu a corrida Leandro Pires, sendo médico veterinário José Vielmino Ventura.
Foto Facebook/João Moura Jr./cortesia Francisco M. Mira