quarta-feira, 26 de junho de 2024

Gilberto Filipe celebra 20 anos de alternativa esta 6ª feira na Monumental do Montijo: "Se não fosse toureiro, seria possivelmente um bandido!..."

Gilberto Filipe - ao tempo, apoderado por José Carlos Amorim - prestou provas para cavaleiro praticante no dia 29 de Julho de 2000 num festejo realizado em praça portátil em Loures, onde teve por companheiros de cartel os cavaleiros Joaquim Bastinhas, Rui Salvador e Miguel Fernandes e os matadores Vitor Mendes, Rui Bento Vásquez e Álvaro de la Calle, bem com o já extinto grupo de forcados Amadores de Loures.

Cumpriu o sonho e tornou-se cavaleiro profissional há exactamente vinte ano, tomando a alternativa a 28 de Junho de 2004, na Monumental do Montijo, na tradicional corrida de São Pedro

Foi apadrinhado pelo saudoso Joaquim Bastinhas (foto de cima, o momento da alternativa captado pelo saudoso Emílio), com o testemunho de Luis Rouxinol, Rui Salvador, Sónia Matias e João Pedro Cerejo e dos forcados da Tertúlia do MontijoAmadores do Montijo, com toiros de Rio Frio, de José Lupi.

E vai ser precisamente no mesmo dia 28 de Junho, a próxima sexta-feira, também na tradicional corrida das Festas de São Pedro na mesmíssima Monumental do Montijo, que Gilberto Filipe vai comemorar o 20º aniversário desse tão importante passo.

Cavaleiro exímio, bicampeão mundial de Equitação de Trabalho, Gilberto Filipe teve até aqui nas arenas um percurso de muita dignidade e notável regularidade - que é merecedor do respeito, da consideração e da admiração que granjeou neste meio.

Fomos falar com Gilberto a poucos dias do primeiro dia do resto da vida dele. Ficámos a saber que não troca por nada nenhum dos seus “dois amores”, a Tauromaquia e a Equitação de Trabalho; que gostava de continuar por cá mais vinte anos, porque era sinal que a arte tauromáquica tinha sobrevivido a todos os ataques de que tem sido vítima; e também que, se não fosse toureiro, teria sido “um bandido”

Gilberto Filipe por ele próprio. A dois dias da grande noite na Monumental do Montijo.

Entrevista de Miguel Alvarenga 

- A poucos dias da comemoração dos seus 20 anos de alternativa na mesma praça onde a recebeu, a Monumental do Montijo, considera que valeu a pena estas duas décadas nas arenas?

- Olá, Miguel, antes de mais quero agradecer-lhe esta entrevista, sinto que por vezes alguns sites ou blogues não nos dão o devido valor, a nós toureiros! O que pensamos, como trabalhamos, aquilo de que abdicamos para ser toureiros, enfim… Faço vinte anos de alternativa com muito orgulho, voltaria a viver tudo de novo, tenho a mesma ilusão com que comecei de menino, mas com mais experiência e maior segurança!

- Lembra-se concretamente das palavras que lhe disse o saudoso Joaquim Bastinhas quando nessa noite de 28 de Junho de 2004 lhe concedeu a alternativa na Monumental do Montijo?

- Lembro-me como se fosse hoje, posso transcrever: “Gilberto, pedi autorização ao director para te conceder a alternativa, pois considero que estás preparado para a tomar e já há algum tempo te considero colega e acho que orgulhas a casaca que tens vestida”.

- Recorde alguns dos melhores momentos destes 20 anos de toureio e também alguns que tenham sido menos felizes.

- Os melhores momentos que levo comigo são as amizades e as emoções sentidas em praça. Durante este vinte anos senti na pele o facto de não ser cavaleiro de dinastia, mas nunca baixei os braços. Como todos os toureiros, tive os meus petardos, dos quais me recordo, como também me recordo de grandes triunfos. São vinte anos de luta, com sonhos alcançados, mas ainda com muitos para alcançar!

- Vai celebrar esta importante efeméride no dia exacto em que passam vinte anos e na mesma praça onde recebeu a alternativa, mas nesta temporada tão especial não estará no Campo Pequeno, nem em Abiul, sua terra. Que sensação, Gilberto? Sente-se injustiçado? Acha que ainda não lhe reconheceram o seu valor ao fim de tantos anos?

- Não me sinto injustiçado e tão pouco acho que seja uma questão de não reconhecerem ou reconhecerem o meu valor, mas sinto-me triste, apenas isso, sinto-me triste. Gostaria de estar presente na praça de Abiul, pois tenho uma forte ligação a essa praça e a essa terra, os meus dois avós são de Abiul, uma parte da praça está edificada num terreno que era do meu avô, temos casa em Abiul e muiots familiares aí também. No entanto, os elementos da Junta de Freguesia acharam que a minha presença não seria uma mais valia para a feira, nem tiveram em conta que possa ser motivo de orgulho para os abiulenses terem um toureiro com 20 anos de alternativa com sangue de Abiul nas veias a festejar na praça onde viu a sua primeiro corrida, em 1986 pela mão do meu pai e do meu avô. Respeito a decisão dos elementos da Junta de Freguesia. No entanto, resta-me trabalhar e esperar que no futuro possa sentir novamente o calor desse público em praça. Quanto ao Campo Pequeno, já sabia que seria muito difícil estar presente, pois somente com quatro datas e muitos compromissos seria difícil a empresa me contratar.

- Festeja na sexta-feira os 20 anos de toureiro profissional ao lado dos representantes de três das principais famílias taurinas nacionais. É uma honra para si ter tais figuras na sua festa?

- Respeito todos os meus colegas sem olhar a nomes, todos os que se põe em frente a um toiro merecem respeito. No entanto, confesso que é um orgulho para mim ver-me anunciado no meio de famílias tão importantes no mundo tauromáquico.

Com o seu apoderado e amigo Leandro Flores

- Paralelamente ao toureio, é Bicampeão Mundial de Equitação de Trabalho. Qual das artes é a preferida?

- Graças a Deus, sou reconhecido internacionalmente devido à equitação de trabalho, amo a disciplina e vivo 24 horas diárias a pensar nos cavalo; no entanto, as sensações a tourear são únicas! Não se consegue descrever, é como explicar a alguém o inexplicável. Ambas se complementam e a evolução de uma levou-me ao aperfeiçoamento da outra, penso que sou muito melhor toureiro hoje devido à equitação de trabalho, e o que me diferencia dos outros cavaleiros de equitação de trabalho está directamente ligado à minha experiência como toureiro. Amo as duas e não consigo viver sem elas!

- Se pudesse voltar atrás nestes vinte anos, o que mudava?

- O que sou hoje devo à aprendizagem destes anos, aos erros, aos triunfos e aos fracassos. Se pudesse voltar atrás, não seria propriamente mudar nada, mas gostaria que os meus avós fossem vivos e vissem o que o neto está a conseguir depois de tantos anos.


- Se não fosse toureiro…

- Se não fosse toureiro, possivelmente seria um bandido… pois na minha infância as companhias não eram as melhores e eu sempre fui um pouco rebelde, o querer ser toureiro fez-me focar e lutar por algo e afastar-me da vida normal de um miúdo rebelde!

- Mais vinte anos nas arenas, Gilberto?

Gostaria muito, seria sinal de que a tauromaquia tinha sobrevivido a esta luta dos animalistas anti-touradas.

- O que podem os aficionados esperar de Gilberto Filipe na noite desta sexta-feira na Monumental do Montijo?

- Os aficionados podem esperar o mesmo de sempre, que irei dar a cara como sempre dei sem me esconder no triunfo ou no fracasso. Ainda só toureei este ano um festival, no entanto tenho treinado com regularidade e só peço a Deus que as coisas corram como têm corrido nos treinos e que o público saia satisfeito. 

Fotos M. Alvarenga, Emílio de Jesus/Arquivo, Gonçalo Gago Photo/Montijo Arena/Facebook e Henrique de Carvalho Dias 

As primeiras lides - como cavaleiro amador