Fernando José (texto e fotos) - “Fez-se história na Nazaré”: esta uma das frases que se ouvia este sábado à noite nas bancadas da mítica praça de toiros do Sítio da Nazaré.
Lotação esgotada, ambiente de excelência que nem a chuva alterou, um curro de toiros muito bem rematado, uma salutar competição e rivalidade entre os três cavaleiros e emocionantes e rijas pegas dos três grupos de forcados fizeram a "história" da corrida inaugural da temporada na Nazaré.
Abriu praça Marcos Bastinhas recebendo o toiro no centro da praça dobrando-se muito bem, de imediato cravou dois compridos de valor, mas foi logo no primeiro curto de muito boa nota que de pronto "aqueceu" as bancadas com o público a reagir com fortes aplausos.
A lide continuou com boa brega, terminando com dois palmitos e um salto do cavalo recordando as noites de seu saudoso pai - que sempre teve um carinho especial nesta praça.
Na segunda actuação (quarto toiro), o ginete de Elvas, já deveras entusiasmado, assinou a lide da noite - começou por receber à porta da gaiola o melhor toiro, um bonito "castanho" cheio de pata, elevou o nível com reuniões perfeitas e ajustadas, mudou de cavalo, mas sempre com grande entrega terminando com um par de bandarilhas e um palmito. Saiu com duas voltas à praça acompanhado do forcado deixando os aficionados rendidos à sua actuação. E no final foi passeado em ombros.
Para a lide do segundo toiro da noite entrou em praça João Ribeiro Telles, um "regresso merecido" acrescido de motivação depois de ter conquistado o importante troféu "Rojão de Ouro" em Mejanes, França.
O cavaleiro da Torrinha começou bem, cedo mostrou as suas qualidades numa faena bem conseguida com reuniões bem ajustadas cheias de valor, adornadas com boa brega. Terminou com um violino rematado de seguida por um vistoso e aplaudido palmito.
Na sua segunda actuação, o toiro "exigiu" mais, mas ficaram na retina dois ferros de grande valor. Fica como nota final uma referência positiva à passagem - e ao regresso a esta praça - pela Nazaré de João Telles com nota muito alta.
Para o terceiro da ordem saiu à praça o triunfador da temporada passada, Luís Rouxinol Júnior. A cumprir sete anos de alternativa, o jovem cavaleiro teve pela frente um toiro exigente que não lhe permitiu grandes veleidades, no entanto fica a nota para dois muitos bons ferros curtos e uma enorme alegria na sua lide.
Já a encerrar a noite, Rouxinol Júnior "fechou a porta com chave de oiro", entendeu bem o toiro, esteve pleno de perfeição, cheio de entusiasmo, entrega, o público esteve com ele, lidando a toque de música e palmas e este retribuiu com uma série de bons curtos e bonitos pormenores de arte equestre misturados com muita alegria.
No que toca às pegas, estas não foram tarefas fáceis para os rapazes das ramagens, os toiros de Varela Crujo pediram contas.
Saltou à praça pelos Amadores da Azambuja, Hugo Mendes que executou a sorte à segunda tentativa com nobreza. No segundo toiro deste grupo, o seu irmão Ruben Mendes "assinou" a pega da noite com uma primeira ajuda primorosa de Alexandre Mafra, a levarem a praça ao rubro. No final, Ruben Mendes saiu em ombros com Marcos Bastinhas, levados pelos homens da Tertúlia "Aí tá o bicho!".
Pelos Amadores de Coimbra, para a cara do primeiro toiro foi o valoroso cabo Pedro Silva, que executou uma monumental pega ao "2º andar", mas o astado acabou por derrotá-lo de forma violenta. Na segunda tentativa, o toiro repetiu com dois fortes derrotes, levando o forcado à enfermaria, felizmente sem consequências de maior. A dobrar o valente cabo, a pega foi executada por André Macedo. Na sua segunda intervenção (quinto toiro), os forcados de Coimbra pegaram à segunda tentativa por intermédio de João Cavaleiro.
Do norte do Alentejo veio o terceiro grupo, os Amadores de Monsaraz, que pegaram o seu primeiro toiro por intermédio de André Mendes à terceira, com muito boas segundas ajudas. Para fechar a noite, João Ramalho pegou com galhardia à segunda tentativa.
Dirigiu muito bem a corrida a directora técnica Ana Pimenta, assessorada pelo médico veterinário José Luis Cruz.
Fica uma saudação para José Luís Zambujeira, representante da ganadaria Varela Crujo Herdeiros, pelo curro de toiros que levou à Nazaré, que embora com um comportamento desigual, tinham uma notável apresentação.
Uma nota final para a Banda de Azambuja - que bem abrilhantou a bonita noite de toiros.
Está cumprida a primeira corrida com um grande olé para a parceria entre a Confraria de Nossa Senhora da Nazaré e a empresa Doses de Bravura de Rui Bento, com uma equipa magnífica onde sobressai seu filho Rui Pedro - que puseram a "fasquia" no mais alto nível e ficaram com uma responsabilidade enorme para o segundo espectáculo que se realiza a 3 de Agosto, uma corrida mista com António Telles, Telles Filho, o matador espanhol Borja Jimenez, grande triunfador de Las Ventas e que ainda há poucos dias somou mais um grande triunfo em La Línea lidando seis toiros de Victorino a solo, ao qual se junta o promissor novilheiro Tomás Bastos. E os forcados de Vila Franca.
Fica uma questão… quantos dias faltam para ser de novo colocado o cartaz “lotação esgotada”?
Mais logo, não perca os melhores momentos dos três cavaleiros e as seis pegas dos três grupos em praça.
