Miguel Ortega Cláudio/"Tauronews" - As corridas de toiros na bonita Salvaterra representam a história e tradição deste povo toureiro e cavaleiro, habituado a enfrentar a dureza do campo, do Tejo e da charneca. Desde os tempos mais remotos que a história da vila de Salvaterra de Magos está ligada às lides taurinas, ao culto ao toiro, forcados, campinos e toureio a pé. Nas armas do seu brasão, Salvaterra leva como figura maior um toiro! Por ali, a Festa Brava faz parte da cultura destas gentes.
Na sexta-feira, 26 de Julho a sua centenária praça de toiros recebeu a segunda corrida da temporada de 24. Muito público, três quartos de casa, respondeu à chamada de um cartel muito bem montado, duas figuras consagradas e um jovem que desponta, três grupos de forcados a comemorarem efemérides neste ano e um curro de toiros da mítica ganadaria Prudêncio.
Rezam cartazes antigos espalhados por várias tertúlias e museus quando se anunciavam os toiros a lidar em tardes ou noites de corrida o seguinte dito: “Serão lidados seis arrobados toiros da ganadaria…” - sexta-feira, quem foi a Salvaterra reviveu esse dito! Da Herdade de Palhavã, marcados a fogo com o ferro da Casa Prudêncio, sairam pela porta dos sustos seis negros toiros, compostos de cara e com muito peso… 622 quilos de média deu a corrida! Alguns demasiado “arrobados”, outros suportaram bem o peso e deram emoção à noite.
O primeiro, o mais leve dos seis, 585 quikos, ao rematar na trincheira ficou desembolado, foi mandado recolher para ser novamente embolado e saiu o que estava destinado a quarto lugar. Toiro este grande, alto e algo basto de tipo, foi manso! Queria fugir à “luta”, mas quando atacado de frente acometia ao cavalo com agressividade e emoção.
O segundo estava parco de forças… Teve uma saída vibrante mas cedo se lhe acabou o gás e veio a menos.
Em terceiro lugar saiu um toiro que teve alguma entrega de início mas também veio a menos com o decorrer da lide.
Acapachado de cara foi o encastado e vibrante quarto.
Nobre e com som foi o quinto, metendo bem a cara nos capotes.
O sexto toiro também foi um toiro interessante, foi fixo e mostrou seriedade.
João Moura Jr. veio a por todas a Salvaterra e agarrou um triunfo importante nesta noite! Na sua primeira lide houve a emoção através da arte, entrega e personalidade. Na lide do quarto executou uma lide muito artística, em que se destacou a elegância e o bom toureio a ladear, levando sempre o toiro ligado à montada. Foram duas lides onde se cria aficoin pelas emoções vividas, havendo um par de ferros que ficarão na memória de quem os viu.
No seu primeiro toiro a firmeza, coragem e a entrega conseguiram governar uma acomentida do toiro, à primeira vista, ingovernável… Moura mostrou muito valor e triunfou com um toiro com que poucos o fariam… Cravou os compridos com solvência, rematando bem as sortes. Nos curtos entendeu o de Prudêncio de princípio a fim, é verdade que o primeiro curto ficou descaído mas a maneira como se arrancou… parecia uma flecha… Desculpam a má mão no momento de cravar. Os restantes curtos puseram Salvaterra em polvorosa… Moura lidou e escolheu os terrenos do toiro com muita inteligência, atacou o manso nos seus terrenos e este quando se sentia comprometido arrancava para colher tudo, João com uma valentia imensa cravou grandes ferros, o último é daqueles que se contarão por muitos anos… simplesmente genial!
No seu segundo também João teve uma inteligência enorme para limar as “arestas cortantes” do de Prudêncio… Até pareceu fácil o realizado na arena de Salvaterra. Cravou dois bons compridos, nos curtos cravou ao piton contrário, rematando as sortes com bonitos ladeios e recortes toureiros na cara do toiro. O terceiro foi soberbo, Moura cita, o toiro pensa, escarva e arranca com tudo, o cavaleiro aguenta e crava no centro da arena… levando depois o toiro toureado nas crinas do cavalo. Olé!
João Ribeiro Telles também vinha com sede de triunfo se no primeiro as coisas não rodaram a 100 por cento, porque o da Herdade de Palhavã se parou rapidamente, medindo muito no momento da sorte.
No quinto João, puxou dos galões e aproveitou as qualidades nobre do oponente, receitando-lhe uma grande lide, onde houve preparações de ferros cheias de sabor toureiro e remates fantásticos das sortes.
Esperou o seu primeiro na porta dos curros mas o toiro estava remisso a sair… Realmente os toureiros são feitos de outra casta esperar dez minutos, montado num cavalo por um toiro de 685 quilos e se adicionarmos que esteve sempre de sorriso na cara… é obra! Lá saiu o arrobado toiro a abrir e querer comer tudo… O João ainda apanhou um susto com o toiro a acometer ao cavalo com violência, felizmente sem consequências. Cravou dois compridos, destaque para o segundo. Nos curtos, de grande nota foi o primeiro, mas daí em diante o toiro disse que não tinha mais disponibilidade para acometer ao cavalo. Houve um par de passagens em falso, cravando os ferros da ordem com eficiência mas sem o luzimento que o cavaleiro pretendia para esta lide.
No quinto da ordem recebeu o seu oponente de bonitas formas toureiras, cravou dois bons compridos e houve remates de belo efeito. Nos curtos, houve bons momentos de brega, cravou grandes ferros, rematando os mesmos sempre com graça toureira. Depois com o cavalo Ilusionista cravou mais dois ferros, melhor o primeiro mas o remate do segundo foi magnífico.
António Ribeiro Telles Filho é um cavaleiro único, que deve ser esperado e compreendido, mas sem lhe dar passaporte sem data… Este ano já me emocionei um par de vezes com o seu toureio, aliás no Montijo realizou uma das lides da temporada. Quando se sente a gosto diante do toiro transpira para as bancadas confiança, bom toureio e aquilo que poucos têm, arte…
Ontem, é verdade que o seu primeiro toiro não terá sido de maneira nenhuma o sonhado… António andou sobrado nos compridos e o primeiro curto teve boa nota… depois houve um toque na montada e a lide veio a menos… trocou de cavalo e os ferros foram cravados com eficiência mas com pouca história. O director de corrida concedeu-lhe volta à arena mas o cavaleiro só quis agradeceu nos médios.
Diante do sexto da corrida a lide teve matizes de interesse, cravando os compridos com solvência, lidando com eficácia um toiro que mostrava pronto ao cite. Nos curtos houve vários momentos em que o toureio realizado na arena teve sabor com a sua marca mas a coisa acabou por não ser redonda. Destaco o grande terceiro ferro, andou bonito a lidar e o palmo e o remate do mesmo com que fechou a sua actuação deixou-me vontade de voltar a ver brevemente.
Convidou a empresa da praça de toiros de Salvaterra três grupos de forcados que comemoram anos este ano a pegarem esta corrida, Amadores da Chamusca (50 anos); Aposento da Chamusca (40 anos) e Clube Taurino Alenquerense ( 20 anos). Foram homenageados durante o intervalo na arena por estas efemérides.
Toiros da Casa Prudêncio e pegas são sinónimo de emoções fortes na arena ainda para mais com o peso dos exemplares desta noite. Mas havendo algumas pegas em que as coisas não correram como o desejado, houve outras em que o estandarte do forcado amador foi bem elevado nesta noite.
Abriu praça João Narciso pelos Amadores da Chamusca, à terceira tentativa, toiro com derrotes contínuos durante a viagem, tirando o forcado da cara nas duas primeiras tentativas. Já com ajudas mais carregadas o problema foi resolvido com o grupo a ajudar bem.
Grande pega de Miguel Santos ao quarto da corrida, citou bonito, recuando na cara como mandam as regras, fechou-se de pernas e braços, ajudando coesamente o grupo.
O cabo do Aposento da Chamusca, João Saraiva, foi para a cara do segundo da ordem, pegão à primeira tentativa, pondo a praça de pé. O toiro arrancou forte, o João aguentou a investida e um par de derrotes, o Prudêncio quis fugir ao grupo mas os segundas e terceiras entraram a tempo e a pega foi realizada à primeira tentativa.
Vasco Coelho dos Reis esteve enorme nas três tentativas que fez ao quinto da corrida! Bem a citar e a receber para se fechar na cara do oponente mas os derrotes e alguma falha nas ajudas fizeram que a pega só fosse realizada à terceira tentativa.
Pelo Clube Alenquerense abriu a noite Joaquim Brás à terceira tentativa, com ajudas carregadas. Destaco a enorme da valentia do forcado da cara que depois de “valentes sovas” nunca voltou a cara e citou sempre com ganas de resolver o problema imposto pelo toiro.
A noite fechou com uma boa pega realizada por Diogo Trindade à primeira tentativa, bem o forcado da cara e grupo a ajudar.
Dirigiu a corrida Ricardo Dias, sendo o médico veterinário José Luis Cruz.
Foto D.R./João Moura Júnior/Facebook