segunda-feira, 7 de julho de 2025

Vila Franca: Castella com vontade, mas sem toiros e com vento...

Miguel Alvarenga - Acontece quase sempre a mesma desilusão. Com excepções, claro. Morante de la Puebla, tirando aquela tristemente célebre noite do Campo Pequeno (com Manzanares), tem vindo cá tourear toiros de verdade e de ganadarias lusas. Borja Jiménez também. Aconteceu no ano passado na Nazaré (com bons toiros de Manuel Veiga) e voltou a acontecer este ano, em Maio, em Almeirim, onde esteve acompanhado por Diogo Peseiro e ambos enfrentaram toiros de Santa Maria que eram dignos de Madrid.

Mas, as excepções confirmam a regra. E a regra, infelizmente, é comermos gato por lebre quando cá se anunciam os figurões do toureio mundial. É giro vê-los ao vivo, tirar uma selfie com eles, mas já sabemos de antemão que pouco mais se vai passar. Ontem em Vila Franca foi assim. Os toirinhos não permitiram grande luzimento a Sebastián Castella, sobretudo e principalmente pelo contraste que existiu, e se sentiu, entre os de Varela Crujo que ele lidou e os de Vale do Sorraia que foram toureados pelos cavaleiros e pegados pelos forcados. O vento, por seu turno, também em nada facilitou a vida, antes pelo contrário, ao toureiro francês.

Sebastián Castella foi, em tempos, um "toureiro da terra". Ali deu os primeiros passos, ali se fez toureiro com apenas 12 anos de idade. Já não são muitos os desse tempo, mas Castella ainda mexe com o público de Vila Franca.

Mas também sabemos que tem uma série de importantes contratos pela frente, que já na próxima semana vai tourear seis toiros em Bayonne para comemorar os 25 anos de alternativa e que não ia arriscar vir a Portugal enfrentar toiros que o pudessem incomodar, que lhe pudessem fracturar uma braço ou uma perna e obrigá-lo a cancelar os importantes compromissos que o esperam do outro lado da fronteira...

A bronca no terceiro toirinho da tarde só não foi maior, presumo, por se tratar de Sebastián Castella, um "toureiro de Vila Franca". Mas largos sectores do público fizeram ouvir os seus sonoros protestos pela pequenez e insignificância do toirito de Varela Crujo, anunciado com 450 quilinhos, ainda apor cima depois de terem sido lidados dois de Vale do Sorraia com perto de 600 quilos (535 e 585, respectivamente). Castella tentou empregar-se, ou fingir que o fazia, mas não resultou. Estava nos currais um sobrero maior, mas o francês não o quis ver...

O sexto toiro tinha só mais cinco quilos (455), mas estava mais rematado e parecia "muito mais toiro". Já não houve protestos, apesar de continuar a existir um contraste muito evidente em relação aos dois toiros de Vale do Sorraia anteriormente lidados pelos cavaleiros. Desta vez, o público comeu e calou. Castella mostrou-se empenhado em deixar patente o seu (muito e reconhecido) valor e apesar de ter outra vez um toiro com pouca importância pela frente, arrimou-se, toureou, sacou bonitas séries de passes pela direita e acabou por agradar. O director de corrida não teve a necessária sensibilidade para reconhecer o esforço do toureiro e só quase no fim lhe concedeu música, o que levou Sebastián Castella, fazendo jus ao seu profissionalismo e honestidade, a prolongar a faena por mais alguns passes.

Ao início da corrida, o matador francês foi homenageado na arena pelo empresário Bernardo Alexandre e pelo cabo dos forcados vilafranquenses Vasco Pereira, que lhe ofereceram lembranças alusivas à comemoração dos 25º aniversário da sua alternativa. Já agora, cabe abrir aqui um parêntesis para aplaudir a correcção feita à aparelhagem sonora, que desta vez e ao contrário do que aconteceu na primeira corrida, permitiu entender tudo o que se disse, nomeadamente quando se anunciou que o toureiro francês ir ser homenageado e quando se informou que ia ser guardado, no princípio, um minuto de silêncio em memória do inesquecível rejoneador Rafael Peralta.

Outra nota final para recordar que esteve na praça - e na arena - trajado de luces o nosso matador Nuno Casquinha, que foi ontem o sobressalente de Castella. Sem chegar a abrir o capote... Bom sinal por um lado, pena por outro...

Fotos M. Alvarenga


Empresa e GFA de Vila Franca homenagearam Castella pelos
seus 25 anos de alternativa














Primeira intervenção do matador francês provocou sonoros
protestos do público pela pequenez e insignificância do toiro...



















No último, "um bocadinho mais toiro" que o primeiro, Castella
deu um ar da sua graça... mas não passou daí