Miguel Alvarenga - Tal como há um ano, a corrida Concurso Ibérico de Ganadarias realizada na noite passada na acolhedora e bem cuidada praça de Paio Pires (Seixal) foi uma dura "batalha" para os dois grupos de forcados - Lisboa e Vila Franca - por obra e (das)graça dos poderosos, muito bem apresentados e exigentes toiros das seis ganadarias que disputaram os prémios de bravura (ganho pelo toiro de Prudêncio) e de apresentação (muito justamente atribuído do exemplar de Canas Vigouroux).
Uma organização séria e de grande prestígio a cargo dos antigos forcados Nelson Lopes e António José Casaca, do Departamento Taurino do Paio Pires Futebol Clube, proprietário a recuperada praça.
Três toiros portugueses (Canas Vigouroux, Veiga Teixeira e Prudêncio) e três espanhóis (Dolores Aguirre, Partido de Resina e Campos Peña) deram água pela barba aos forcados, em nada facilitaram o labor dos cavaleiros, mas proporcionaram uma noite de grandes emoções ao púbico. Houve perigo, houve risco e houve seriedade. Noites destas fazem bem à Festa. E fazem falta para continuarmos a acreditar que a tauromaquia ainda é um espectáculo de emoções, de alto risco e, sobretudo, um espectáculo sério.
Por ironia do sorteio, os Amadores de Lisboa pegaram os três toiros nacionais e os três espanhóis couberam aos Amadores de Vila Franca.
Bravo, cheio de poder e com um trapio e uma presença dignos de Madrid, o primeiro toiro da noite foi o de Canas Vigouroux, com 575 quilos. Nuno Fitas, forcado experiente, foi o eleito pelo cabo Pedro Maria Gomes para fazer a primeira pega da noite em representação do Grupo de Lisboa.
Nuno Fitas fez duas tentativas e acabou desmaiado na arena, sendo retirado de maca e levado para o Hospital Garcia de Orta, de onde teve alta já de madrugada, como anteriormente informámos, não tendo sofrido, felizmente, nenhuma lesão. Foi dobrado por Tiago Silva, que consumou a pega na sua segunda intervenção, quarta tentativa efectiva para pegar este primeiro toiro da noite, com uma grande primeira-ajuda.
Poderoso, algo reservado, exigente e com teclas, o segundo toiro foi o de Dolores Aguirre e pesou 602 quilos. Saltou à arena para o pegar o cabo do Grupo de Vila Franca, Vasco Pereira. Muito bem a receber e a recuar, templando a investida, sofreu violentos derrotas e depois de duas tentativas saíu de cena, pelo seu próprio pé, a coxear, sendo transportado ao Hospital Garcia de Orta, em Almada.
Foi o valente Guilherme Dotti quem consumou a pega, na sua segunda tentativa, que foi também a quarta efectiva nesta segunda pega da corrida. Pega muito dura e emotiva, a um toiro "carregado de força", que motivou que saltassem à arena muitos mais forcados, incluindo vários do Grupo de Lisboa, para ajudar a que fosse consumada. Uma pega mista, com (muitos) elementos dos dois grupos em praça.
O terceiro toiro foi o de Veiga Teixeira, bonito, mas manso, com 635 quilos. A pega foi enorme, executada à primeira pelo poderoso Duarte Mira, dos Amadores de Lisboa, com excelente técnica e espectacular intervenção de todos os companheiros nas ajudas. Pega emotiva e poderosa, que fez o público levantar-se das bancadas, dando o forcado a volta à arena sózinho, por que o cavaleiro Joaquim Brito Paes ficou entre tábuas. Grande forcado este Duarte Mira - que será em 2026 o futuro cabo dos Amadores de Lisboa, quarto em mais de 80 anos, depois do fundador Nuno Salvação Barreto, de José Luis Gomes e de Pedro Maria Gomes, cabo actual.
Duarte Mira brindou a sua pega ao cavaleiro Rui Fernandes, em reconhecimento pelo importante contributo que tem dado para a elevação desta praça de Paio Pires com a organização anual de uma primeira corrida no mês de Junho.
Em noite duríssima para os valentes forcados dos dois grupos, os Amadores de Vila Franca fizeram também uma pega à primeira, a quarta da corrida, ao toiro espanhol de Partido de Resina (ex-Pablo Romero) com 610 quilos, por intermédio do valoroso Lucas Gonçalves, um dos forcados que mais se tem destacado nesta temporada. Pega brilhante, com técnica e perfeição, brindada ao Grupo de Lisboa.
Daniel Batalha, outro forcado poderoso e sempre tecnicamente perfeito, defendeu a jaqueta dos Amadores de Lisboa, com a habitual perfeição e o grande poderio de sempre, pegando à segunda tentativa, depois de sofrer na primeira um violento derrote, o toiro de Casa Prudêncio, com o peso de 540 quilos, que venceu o prémio de bravura. Dedicou a sua pega a todas as empresas patrocinadoras desta corrida.
A última pega da noite, ao toiro da ganadaria espanhola Campos Peña, com muita pata e o peso de 546 quilos, foi executada pelo jovem forcado Miguel Faria (filho do antigo cabo Jorge Faria), com garbo e brilhantismo, ao terceiro intento, depois de nas duas primeiras tentativas ter sofrido fortes derrotes.
Fique com as sequências das seis pegas nesta que foi mais uma dura "batalha" em Paio Pires - uma data e uma corrida que já ganharam força e grande significado no calendário taurino nacional como uma das duras e mais sérias da temporada.
Fotos M. Alvarenga
GFA de Lisboa, sob o comando de Pedro Maria Gomes |
GFA de Vila Franca de Xira, capitaneado por Vasco Pereira |
Nuno Fitas fez duas tentativas para pegar o toiro de Canas Vigouroux, desmaiando e sendo transportado ao hospital. Não sofreu, felizmente, nenhuma lesão |
Tiago Silva "dobrou" Nuno Fitas, pegando o primeiro toiro na sua segunda intervenção, quarta tentativa efectiva |
O cabo Vasco Pereira (V. Franca) saíu pelo seu pé, a coxear, após duas tentativas para pegar o potente toiro de Dolores Aguirre |
O valente Guilherme Dotti "dobrou" o seu cabo com uma emotiva pega na sua segunda intervenção, quarta tentativa efectiva, com ajudas de forcados do seu e do Grupo de Lisboa. Uma pega "mista" |
Enorme e poderosa a pega do futuro cabo do Grupo de Lisboa, Duarte Mira, ao primeiro intento, ao toiro de Veiga Teixeira, dedicada ao cavaleiro Rui Fernandes |
Lucas Gonçalves (V. Franca) na quarta grande pega da noite, à primeira, ao toiro de Partido de Resina, brindada ao Grupo de Lisboa |
O experiente Daniel Batalha pegou o toiro de Prudêncio à segunda |
Última pega, ao toiro de Campos Peña, foi consumada à terceira por Miguel Faria (Vila Franca) |