Miguel Alvarenga - Não é assim tão difícil fazer as coisas bem feitas, com verdade, sem mentiras, conquistando público de ano para ano e reafirmando uma praça como a de Paio Pires, no Seixal, a dois passos de Lisboa, como uma das mais importantes do país. Isso mesmo que acabam de ler: uma das praças mais importantes do país. Pela verdade, repito, com que os dois antigos forcados que a gerem, Nelson Lopes e António José Casaca, promovem esta corrida anual, que já se impôs no calendário taurino nacional como um dos mais importantes, duros e emotivos Concursos de Ganadarias do país. Não tarda, será mesmo o primeiro! Alguém tem dúvidas? Eu não tenho.
Aqui, em Paio Pires, onde duas vezes por ano se vive um ambiente que lembra os tempos de antigamente (nesta corrida e na que em Junho organiza o cavaleiro Rui Fernandes, e eu insisto que Paio Pires ainda aguentava uma terceira corrida todos os anos!), a Festa é uma coisa saudável, com verdade, com imensa seriedade, sem aldrabices, sem ratoeiras, sem brincadeiras como as que acontecem, infelizmente, noutras praças que se dizem "mais importantes" - e não o são. Pena, por exemplo, que o Campo Pequeno não tenha por ano um corridão tão sério como este de Paio Pires...
Ontem, viveu-se uma vez mais uma noite de grandes e fortes emoções. Houve risco, houve perigo, suspiros nas bancadas, tensão entre tábuas. E tudo isso pela simples razão de que sairam à arena Toiros de Verdade, com trapio, com apresentação, alguns com bravura, todos a exigir, a pedir o Bilhete de Identidade aos toureiros e aos forcados. Noites destas fazem falta à Festa. E fazem bem à Festa. Dão-lhe saúde e mostram que este espectáculo não é uma coisa fácil. Tem risco. Tem perigo. Tem emoção. Mas às vezes isso não acontece... Ontem, aconteceu.
Dos valentes Forcados de Lisboa e Vila Franca, protagonistas de uma "Batalha" duríssima na importante arena de Paio Pires, já disse tudo anteriormente.
Dos cavaleiros, direi que se destacou Miguel Moura em duas lides brilhantes e de grande maturidade aos toiros de Canas Vigouroux e Partido de Resina, este mais reservado e com teclas. O de Vigouroux ganhou o prémio de apresentação e podia (devia) ter ganho também o de bravura. O público estava disso convencido, daí a divisão de opiniões com que recebeu a informação de que era para o toiro de Prudêncio o prémio de bravura. Miguel Moura esteve muito bem nas duas lides e foi, no conjunto das suas actuações, o triunfador da corrida de ontem em Paio Pires.
Luis Rouxinol Júnior andou regular, sem grande euforia, na lide do segundo toiro da noite, de Dolores Aguirre, um toirão algo reservado e de fortes e emotivas investidas. Esteve melhor na lide do quinto toiro da noite, o exemplar da ganadaria Casa Prudêncio vencedor do prémio de bravura, aproveitando o cavaleiro as investidas alegres e francas do oponente para brilhar na cravagem dos ferros. No final, abusou com um ferro a mais, um palmito a mais e ainda um par a mais.
Joaquim Brito Paes demonstrou vontade e raça, mas não esteve ontem brilhante em Paio Pires. Não deu volta à arena em nenhum dos seus toiros. Lidou em terceiro lugar um manso de Veiga Teixeira que não lhe permitiu luzir-se, apesar de ter demonstrado raça e apontado bons ferros. E fechou praça com uma actuação mais emotiva e mais brilhante ao toiro espanhol de Campos Peña. Um senão, apenas: pediu no fim para cravar mais um ferro e acabou por apontar três, com dois falhanços, perante a passividade do director de corrida...
Nota altíssima para o desempenho dos seis bandarilheiros intervenientes, sobretudo na brega dos toiros para os forcados. Aplausos para Jorge Alegrias e João Bretes (quadrilha de Miguel Moura), Ricardo Alves e João Martins (de Rouxinol Jr.) e Luis Brito Paes e Diogo Fernandes (de Brito Paes).
Dirigiu a corrida o diligente Tiago Tavares, que esteve ontem assessorado pelo médico veterinário Jorge Moreira da Silva.
Ao intervalo, o Paio Pires Futebol Clube homenageou Joaquim Santos, antigo Presidente da Câmara do Seixal, grande apoiante da recuperação desta praça de toiros.
Como já tem tem acontecido em anos anteriores, as lides foram alternadamente abrilhantadas pelo conjunto de guitarras do fadista João Chora e pela fadista Marisa Ferreira, e pela Banda da Sociedade Filarmónica Progresso "Matos Galamba" de Alcácer do Sal.
A praça registou uma enchente a rondar a lotação esgotada - ou mesmo mais, uma vez que muitos espectadores se aglomeram em cima, no chamado peão, para assistir à corrida, não o fazendo na bancada nos seus lugares.
E para o ano havemos de voltar! Paio Pires tem, na realidade, um sabor muito especial. Diferente. Faz lembrar a aficion que se vive na Ilha Terceira, tão diferente e tão saudável do estado a que chegou a Festa neste Portugalzinho das Toiradas... Hoje e amanhã estaremos em Abiul. Que fica também no mesmo hemisfério destas duas localidades taurinas acima referidas. Onde a Festa se respira também muito saudavelmente
Depois conto.
Fotos M. Alvarenga
Grande ambiente e praça cheia ontem em Paio Pires |
João Chora, Marisa Ferreira e João Ferreira (viola): houve Fado a abrilhantar as lides alternado com a Banda (em baixo) |