sábado, 29 de junho de 2013

Pêro Pinheiro, ontem: triunfou David Gomes num "areal" impróprio para o toureio...

No conjunto das duas actuações, o triunfo maior foi ontem alcançado
pelo praticante David Gomes. Na foto de baixo, o momento em que Ana Rita
se protegia do toiro com as mãos, depois de aparatosa queda provocada
pelo péssimo estado do piso da arena. Inconcebível e inaceitável... mas em Portugal
continuamos todos a brincar às toiradas, sem profissionalismo...


Miguel Alvarenga - O estado fatal do piso da arena, uma autêntica praia imprópria para a prática do toureio, condicionou ontem a entrega e o comportamento dos cavalos, dos toureiros e dos toiros na corrida nocturna que se realizou em praça portátil na localidade de Pêro Pinheiro, freguesia do concelho de Sintra, organizada pela empresa "Toiros +" - e a que o público não acorreu, preenchendo menos de metade das bancadas.
O destaque maior vai para o jovem cavaleiro praticante David Gomes, com duas actuações vibrantes e arriscadas (devido, repito, as péssimas condições do piso), incompreensivelmente "silenciado" na primeira pelo director de corrida Pedro Reinhardt, que lhe recusou a música, vá lá saber-se por quê.
Exímio equitador - também ele, como o seu companheiro e amigo David Oliveira, ex-campeão da modalidade de Equitação do Trabalho - e muitíssimo bem "apetrechado" com uma quadra de bons cavalos variada e portentosa, o jovem David Gomes galvanizou as bancadas, executou o toureio frontal, atacou quando o toiro hesitou na investida, provocou e recriou-se nos adornos e nos remates, terminando a sua última exibição com um perfeito par de bandarilhas.
Aqui está, pois, um toureiro jovem que pode - e deve - arejar os cartéis tão pouco imaginativos dos nossos empresários e conquistar um lugar importante no nosso panorama taurino.
Não foi fácil para os toureiros e sobretudo para os cavalos, "aguentarem-se" nas lides, face à total impraticabilidade do piso da arena.
Rui Salvador valeu-se da sua veterania - um posto! -, pôs "a carne no assador" com a sua usual ousadia e sacou todo o partido, com saber e maestria, a dois toiros que também "se travaram" quando sentiram que escorregavam e não estavam "a jeito" num areal daqueles...
Irreverência e alta empatia com o público caracterizam o toureio da jovem cavaleira Ana Rita, mercê da importante rodagem que vem fazendo em arenas de Espanha. Ontem em Pêro Pinheiro, com dois toiros que se pararam no centro da arena e recusaram "ir à luta", reservados e "cautelosos" com o chão que pisavam, a valente toureira arriscou tudo o que havia para arriscar e conseguiu, pela sua desmedida entrega, conquistar as gentes.
Caíu por duas vezes. Uma, porque o cavalo escorregou, longe do toiro. A outra, quando cravava um ferro em sorte de "violino" e o cavalo voltou a escorregar, desta vez na cara do toiro, que investiu sobre ela, causando momentos de algum pânico na praça.
Também Salvador e Gomes viveram momentos de apuro, com os cavalos a escorregar, tendo o jovem praticante indo mesmo "ao tapete" com a montada, sem contudo chegar a "desmontar-se", prosseguindo a lide.
Os grupos de forcados de Lisboa e Monforte também não tiveram a vida facilitada. Os toiros praticamente não andaram nas lides e guardaram as suas forças para "desfazer" a arte dos rapazes das jaquetas e dos barretes. Pegas duras e rijas, com os dois grupos coesos a ajudar, nem sempre obtendo o brilhantismo desejado, mas sem ser por culpa deles...
Resta lamentar, uma vez mais, as péssimas condições que ontem foram dadas aos toureiros e aos toiros para executarem o seu labor - com um piso daqueles, mais propício a banhistas e surfistas que propriamente a toureiros, não se pode triunfar. Ninguém viu? Ninguém tratou antes de verificar o piso? Nem a organização, nem a direcção da corrida, nem sequer os toureiros e seus apoderados? As coisas, em Portugal, infelizmente, continuam a ser "à balda"... E se ontem não aconteceu uma tragédia em Pêro Pinheiro, foi só por que Deus não quis... Ficou a imagem de uma preocupante falta de profissionalismo - de todos, sem excepção! - neste cada vez "mais a brincar" Portugalzinho das toiradas... que já nem Reais são.
José Lavrador, que tem uma aficion sem limites, estreou ontem a sua ganadaria Fontembro, procedente da famosa divisa de Cabral Ascenção e que este ano lidará ainda mais uma corrida em Oliveira do Bairro. Toiros bonitos e bem apresentados, bem apresentados demais até para uma praça portátil, mas cujo comportamento não deu para avaliar com profundidade, dado que os animais se retrairam e ficaram altamente condicionados pela má condição do piso. Mesmo assim, revelaram alguma codícia e noutras circunstâncias ter-se-iam empregue de outra forma, acredito. Foi pena uma estreia assim...
Exceptuando o facto - que ninguém entendeu - de não conceder música no primeiro toiro a David Gomes, Pedro Reinhardt dirigiu com o habitual acerto a corrida, bem abrilhantada pela Filarmónica da Nazaré, uma banda de bons aficionados e bons músicos. Nota alta, ainda, pra o esforçado desempenho de todos os bandarilheiros, com destaque para José Bartissol, Adriano Marques e Joaquim Oliveira.
Os forcados apresentaram-se de luto e houve pegas brindadas ao Céu, em memória de José Maria Cortes, por quem foi guardado no início da corrida um minuto de silêncio, seguido de forte ovação.

Não perca, já a seguir: todas as fotos de Emílio de Jesus desta corrida e a impressionante sequência da aparatosa colhida de Ana Rita, que só por milagre não teve consequências de maior.

Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com