terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

"O Diabo" nasceu há 39 anos

Com Vera Lagoa num dos muitos jantares de aniversário de "O Diabo", que se
realizavam todos os anos nesta altura, vendo-se ao fundo o Dr. Magalhães dos
Santos (cronista televisivo de raro sentido de humor) e José Miguel Júdice (meio
encoberto por Miguel Alvarenga, atrás)
Vera Lagoa e Fernando Camacho, o rei dos apoderados, em 1982 no
Restaurante "Tavares" (Lisboa) quando realizámos um beberete para
apresentação da página "O Diabo ao Quite", que durante muitos anos
reparti com o saudoso Dr. Fernando Teixeira


Miguel Alvarenga - No dia de hoje, há exactamente 39 anos (10 de Fevereiro de 1976), saía para a rua o primeiro número do jornal "O Diabo" - um título que pertencera anteriormente ao Partido Comunista (na clandestinidade), onde escreveu Álvaro Cunhal e que na altura renascia dirigido por Maria Armanda Falcão, a indomável Vera Lagoa, à frente de uma equipa de grandes nomes do Jornalismo, entre os quais Carlos Martinho Simões, o capitão António Ramos (que fora dedicado ajudante de campo do General Spínola e era também um fantástico jornalista), Rui Romano (o afamado repórter da RTP), Mateus Boaventura, Navarro de Andrade, Rui Tovar (um ícone televisivo do desporto, recentemente falecido também), o cartoonista Augusto Cid e o fotógrafo Fernando Ricardo. Da equipa inicial fazia ainda parte a minha Mãe, Maria Manuela, que era secretária de Redacção, a Lígia (eterna secretária de Maria Armanda), o jovem Luís (o paquete) e dois putos estagiários: eu, então com 18 anos e o Valdemar Paradela de Abreu (sobrinho do famoso editor do livro "Portugal e o Futuro" de Spínola), mais tarde jornalista da SIC. No primeiro número de "O Diabo" (aqui ao lado) assinei um artigo sobre a morte de Mestre João Núncio, que partira umas semanas antes, no final de Janeiro de 1976.
"O Diabo" durou duas semanas: ao segundo exemplar, foi "democraticamente" suspenso pelo Conselho de Revolução, mercê do histórico Editorial de Vera Lagoa sobre o então presidente da República, General Costa Gomes, "O Senhor Gomes de Fezes". Com o título suspenso, duas semanas depois pusémos na rua o jornal "O Sol" (também aqui ao lado) e logo no primeiro número fomos, também "democaticamente", brindados com uma bomba que destruíu toda a entrada do jornal, não causando ferimentos em ninguém por ter rebentado à hora do almoço, quando a Redacção estava vazia.
A Maria Armanda caíu à cama e ao hospital, com problemas cardíacos e o jornal parou, reaparecendo mais tarde no Porto e regressando depois a Lisboa, à Rua Alexandre Herculano, onde funcionou durante muitos anos. Nesse interregno estive no semanário "A Rua", de Manuel Maria Múrias (de que cheguei a ser Chefe de Redacção e onde tive também a honra de trabalhar ao lado de grandes profissionais, de que recordo António Maria Zorro, José Valle de Figueiredo, Luis Sá Cunha, Ruy Miguel, António Lopes Ribeiro, o célebre apresentador do "Museu do Cinema" na RTP e tantos mais) e em 1980 regressei a "O Diabo", onde estive mais quinze anos, chegando a ser Chefe de Redacção e director do semanário "O Crime", também propriedade de Vera Lagoa. N' "O Diabo" reparti durante anos a página "O Diabo ao Quite" com o saudoso Dr. Fernando Teixeira e em "O Crime" nasceu a célebre coluna "Farpas" (assim baptizada por Vera Lagoa e José Manuel Teixeira). Tive nesses anos a honra e o orgulho de "repartir Redacção" com nomes tão famosos como os de José Rebordão Esteves Pinto (marido da Maria Armanda), José Manuel Teixeira (com quem tanto aprendi), José Miguel Júdice, António Marques Beça, Jaime Nogueira Pinto, Carvalho Soeiro, José Leite, Nuno Rogeiro, Nuno Rebocho e muitos, muitos mais - entre os quais o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, que ali assinou muitos anos uma das mais polémicas colunas políticas sob o pseudónimo de Agapito Pinto.
"O Diabo" foi um jornal de referência e defendeu casos famosos como os da morte de Sá Carneiro e Amaro da Costa (Camarate), o Caso "Angoche", o célebre assassinato de António Ramalho no Ralis em 11 de Março (que Vera Lagoa celebrizou nas suas crónicas à mãe de Ramalho, "Antónia! Antónia!"), o processo das "FP-25 de Abril" (em que trabalhei a fundo, com constantes ameaças de morte dos terroristas...), o assassínio de Evo Fernandes (líder da Resistência Moçambicana, a Renamo) na Serra da Malveira - e tantos outros.
39 anos depois do primeiro dia (eu tinha 18 anos e iniciava ali a minha carreira jornalística), recordo-o como se fosse hoje e jamais esquecerei todos os ensinamentos que recebi de Vera Lagoa - a minha grande e saudosa Mãe no Jornalismo!

Fotos D.R.