Marcos Tenório Bastinhas regressa no
sábado às arenas, na praça alentejana de Nisa, depois do grave acidente sofrido
em Julho do ano passado em Albufeira, quando foi atingido na cara pelo cabo de
uma bandarilha e só por milagre não perdeu o olho esquerdo. O jovem cavaleiro,
filho do Maestro Joaquim Bastinhas, considera "uma vitória" ter
superado todas as adversidades, agradece à Família e aos amigos todo o apoio
que lhe deram nas horas difíceis por que passou e confessa que nunca na vida
lhe passou pela cabeça que poderia não voltar a tourear. O regresso,
considera-o "um momento fantástico, mas também de muita
responsabilidade". O seu estado de espírito é de "enorme satisfação", quando
faltam menos de 48 horas para voltar a vestir-se de toureiro.
Entrevista de Miguel Alvarenga
- Oito meses depois do acidente que te
obrigou a parar no ano passado, faltam dois dias para o regresso, já no próximo
sábado na arena de Nisa. Que sentimento, Marcos?
- O sentimento é de satisfação, como não
poderia deixar de ser. Como toureiro vou voltar a fazer aquilo que mais gosto:
tourear! Como homem é para mim uma vitória este regresso.
- Porquê?
- Superei as adversidades que a vida
levanta e põe à prova as nossas capacidades psicológicas de superar as
adversidades. Estou tremendamente motivado e ilusionado por voltar a pisar as
arenas, compartir cartel com os companheiros, sentir o público, lidar o toiro.
Como vê, são muitas sensações bonitas. Será um momento fantástico, mas também
de muita responsabilidade.
- Alguma vez pensaste que não voltarias
a tourear?
- Sinceramente, nunca! Senti, sim, uma
enorme raiva por estar ali parado numa cama do hospital, sem poder tourear e a
perder as corridas nas quais tanta ilusão depositara e para as quais também
tinha trabalhado imenso. Nestes momentos é a raiva e a revolta que se apoderam
de nós. Até as dores passam a plano secundário. Felizmente tive uma família ao
meu lado que me entendeu e apoiou sempre. O meu Pai como toureiro, a minha Mãe
como esposa de um toureiro e também, claro, como pais, assim como a minha
Mulher, foram também fundamentais na minha convalescença, assim como no plano
anímico. A eles aproveito para agradecer a grande família que são e eles dedico o meu regresso às arenas.
Mas como disse no início, nunca pensei que não voltaria a tourear. Pelo
contrário, os meus pensamentos e as minhas ganas estavam, sim, focados sempre
no regresso. E quanto mais depressa melhor!
- Sentes que estás finalmente a 100 por
cento, Marcos?
- Pelo menos assim me tenho entregado ao
trabalho e à preparação da temporada. A ilusão é imensa e a quadra, apesar de
estar preparada, não é por isso que deixo de treinar mais. Sou exigente para
comigo e para com os cavalos, mas acima de tudo respeito o público - sobretudo
todo esse público que me apoiou e acarinhou durante os meses difíceis que vivi.
Sem dúvida que estou preparado, não a 100 por cento, porque há sempre algo mais
que queremos fazer, algo mais que a nossa ambição quer alcançar e, como sabe, a
ambição dos toureiros não tem limites, porque só assim se chega aos êxitos. A
motivação, essa, está a 200 por cento!
- A crítica foi unânime em eleger o
Maestro Joaquim Bastinhas, teu Pai, como grande e absoluto triunfador da última
temporada. Um comentário, Marcos...
- Foi unânime, como bem disse. Tanto o
público, imprensa, aficionados, profissionais, elegeram ou deram ou destacaram
o meu Pai como a figura da passada temporada. Isso orgulha-me, ver uma figura
do toureio consagrada com uma carreira tão brilhante, a tourear com tanta
ilusão, com tanta raça, com tamanha alegria e valor, como se fosse um jovem
acabado de chegar ao toureio! É absolutamente e só um enorme toureiro, que ama
a profissão, que desafia qualquer um, que está para competir - e que acredito
não ser fácil levar-lhe a palma - evidentemente que é um orgulho ter o apelido
Bastinhas, é importante tê-lo ainda hoje, quando necessário, como professor,
mas é uma enorme responsabilidade! Acredito que o meu Pai é uma referência do
toureio a cavalo para todos nós.
- Estás anunciado para o Campo Pequeno,
a 4 de Junho, com dois "monstros" do toureio a cavalo, João Moura e
Pablo Hermoso. É o teu primeiro grande desafio na capital?
- Sem dúvida. Mas qualquer corrida no
Campo Pequeno é sempre um grande desafio para os toureiros. Estamos a falar da
primeira praça de Portugal e na mais importante do mundo para o toureio a
cavalo. O cartel é "monstro" - é para este e para todos, que me
preparo os 365 dias do ano. Sem dúvida que são dois grandes toureiros, mas eu
cá estou também, para demonstrar e provar que o meu toureio está à altura dos
desafios, que me colocam e queiram colocar.
- A quem vais brindar no sábado a lide
do teu regresso às arenas?
- Reservo a resposta para esse
momento...
Fotos Emílio de Jesus e D.R./@Marcos Tenório Bastinhas