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| Rouxinol é e continua sempre a ser, outra loiça! Dois grandes e sólidos triunfos na nocturna de ontem em Alcochete |
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| Faltou brilho à passagem de Francisco Palha ontem por Alcochete. Mesmo assim, o jovem cavaleiro conseguiu alguns ferros de excelente marca |
| Jacobo Botero: grande e arriscada actuação no seu segundo toiro |
Miguel Alvarenga - Uma trapalhada (à
portuguesa) marcou ontem o dia (atribulado para o empresário "Nené")
em Alcochete. Três toiros de Fernandes de Castro foram recusados à hora do
sorteio por falta de peso (entende-se?). O empresário optou por mandar vir três
toiros da ganadaria Palha, que chegaram a estar nos currais da praça, mas...
dois dos cavaleiros (Rouxinol e Botero, segundo informação de "Nené")
não os quiseram tourear (entende-se?). Os Palhas voltaram para casa e foram-se
buscar outros Castros. O processo não atrasou a corrida, mas terá trazido mais
cabelos brancos aos já brancos cabelos de António Manuel Cardoso
"Nené". Mas tudo se solucionou e o público quase nem deu por isso...
A praça registou uma belíssima entrada
de mais de três quartos, Alcochete voltou a ser uma festa e a verdade é que
esta Feira foi, em termos de público, um sucesso. Os anti não voltaram a dar à
costa, os aficionados acorreram por três vezes à praça, em massa, esgotando a
corrida de terça-feira e enchendo as bancadas nas outras. Assim, dá gosto - e
Alcochete teve, como sempre, outro sabor. Otro color!
A corrida de ontem era a festa dos 50
anos do Grupo do Aposento do Barrete Verde de Alcochete - e a noite foi dos
Forcados. Estavam em praça, fardados, muitos do que ao longo de meio século
escrevam, a letras de ouro, a História de Glória do grupo, incluindo o primeiro
cabo José Luis Rei, que foi, ao intervalo, quem se encarregou de descerrar a
placa que fica nos corredores da praça a perpectuar esta bonita efeméride.
As seis pegas, que anteriormente aqui
deixámos documentadas, foram seis monumentos carregados de simbolismo, de raça,
de arte e de valor, de paixão e de sentimento. Foram caras Rui Gomes, César
Nunes, João Salvação, Marcelo Loia, Daniel Santiago e Bruno Amaro - e estiveram
enormes, grandes, dignos da comemoração que se prestava aos 50 anos do seu
grupo, um grupo que tem estado esta temporada em notável destaque.
Agora os toiros. Como acontecera em
Évora, os Castros de ontem em Alcochete foram Castros "de segunda" no
que ao trapio e à apresentação diz respeito. Pequenotes, escorridos de carnes,
nada a ver com o tipo da ganadaria e muito menos com a imagem do toiro-toiro
que "Nené" tanto preza e se orgulha de sempre ter em conta.
Tiveram, no entanto, mobilidade,
"gatos na barriga" e pediram contas, não facilitando. Nisso, sim,
foram como os Castros de verdade. O primeiro, de bandeira, foi mesmo brindado
pelo director de corrida Manuel Gama (aficion e saber) com a volta à arena. E
depois o filho do ganadeiro Fernandes de Castro foi também autorizado pelo
director de corrida a acompanhar Rouxinol e o forcado Rui Gomes numa merecida e
aplaudida volta à arena.
Os restantes toiros não destoaram no que
respeita à seriedade e à forma como foram à luta, alguns deles mesmo
dificultando o labor dos cavaleiros e não facilitando em nada a vida à
forcadagem. Faltou apenas presença e apresentação. De resto, houve tudo o que
os Castros costumam ter. E costumam ser.
O "sempre-bem" Luis Rouxinol
continua a ser um verdadeiro campeão da regularidade. Nunca está mal. E ontem
voltou a estar muito bem. É um grande Toureiro e continua eternamente num
grande momento. Lide empolgante no primeiro da noite, dando ao público tudo
aquilo a que o público tem direito, fechando com um magnífico e arrojado par de
bandarilhas. No seu segundo, voltou a marcar a diferença e a obter novo
triunfo. Arte, saber e muito valor, entrega até ao fim e o eterno respeito pelo
público e pelo toiro. Chama-se a isto profissionalismo. Do melhor que pode
haver.
Francisco Palha alternou altos e baixos
na lide do seu primeiro toiro, andarilho, meio distraído e ao qual fez tudo
para prender as atenções. Teve dois bons curtos e brega acertada, mas faltou
brilho à sua presença ontem em Alcochete.
O seu segundo toiro lesionou-se depois
de Palha lhe ter cravado o primeiro comprido (brindara a lide a Vasco Pinto,
cabo dos Amadores de Alcochete, depois de ter brindado a primeira a "Nené") e apesar de já ter sido farpeado e portanto nada obrigar a que fosse
substituído, a empresa e o ganadeiro ofereceram o sobrero, que Francisco
enfrentou em último lugar. Pequenote, sem apresentação mínima para a dignidade das sérias organizações do empresário "Nené", o sobrerito era complicado, pedia contas "à séria" e Palha não lhas deu.
Jacobo Botero é um toureiro de raça e um
toureiro de valor. Ontem, andou assim-assim com o terceiro da ordem, um Castro
que não ajudava, sem contudo perder os papéis. No seu segundo, que também pedia
contas e não foi um toiro fácil, Botero esteve muitíssimo bem, arriscando,
pondo a carne no assador, cravando ousados e emotivos ferros, demonstrando que
está em forma, apesar de estar ter sido apenas a terceira corrida da sua
temporada, depois de Évora e de Lisboa, apesar de ter estado em mais uma ou
outra praça, mas a lidar um só toiro.
Compreende-se que a falta de corridas
(entende-se que um toureiro destes não toureie mais?) justificasse que a
máquina não estivesse oleada, mas a verdade é que está. Cavalos e cavaleiro em
momento alto e a garra e a vontade de sempre. O público aplaudiu, a música
tocou e Botero deu volta à arena. O jovem colombiano que um dia deixou o seu
país, a família e os amigos para trás e veio para Portugal para ser toureiro,
continua a fazer história. Mais que isso: continua a destacar-se. E nunca será
só "mais um".
Ontem, não houve nenhum espectador a
"mandar vir" com os toureiros na bancada, não houve pais de
cavaleiros a brigar, nem houve brindes como aquele de Ventura aos Telles que
tanto está para aí a dar que falar. Houve até quem já me acusasse de estar
demasiado silenciado em relação a esse incidente na corrida de terça-feira. Não
sei o que Ventura disse no brinde, nem penso que isso seja assim tão
importante. Mas tenha ele dito o que quer que fosse, também não sei se não
teria alguma razão para o fazer. Cada vez que entra em praça, assobiam-no. E
desta vez, ao que parece, os protestos até estavam bem referenciados. Enfim, a
verdade é que os ânimos já serenaram. Estamos, afinal, todos no mesmo barco e a
nossa missão deve ser a de construir e não destruir. Bebam um copo, Venturas e
Telles, que isso acaba por passar!
A corrida de ontem decorreu em bom ritmo
e o público saíu satisfeito. O empresário "Nené" está de parabéns
pelo sucesso da sua Feira - e Alcochete voltou, um ano mais, a ter outro sabor.
Assim, dá gosto!
Fotos Emílio de
Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com



