sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Alcochete: toiros para cá, toiros para lá, Rouxinol foi outra loiça e os Forcados foram os reis da noite!

Rouxinol é e continua sempre a ser, outra loiça! Dois grandes e sólidos triunfos
na nocturna de ontem em Alcochete
Faltou brilho à passagem de Francisco Palha ontem por Alcochete. Mesmo assim,
o jovem cavaleiro conseguiu alguns ferros de excelente marca
Jacobo Botero: grande e arriscada actuação no seu segundo toiro
José Luis Rei, primeiro cabo do Grupo do Aposento do Barrete Verde, descerrando
a placa que perpectua a celebração de ontem, sob o olhar do também antigo cabo
Luis Cebola (pai). Em baixo, momento de grande emoção: praça de pé a aplaudir
João Salvação e Cebola, no terceiro toiro da noite



Miguel Alvarenga - Uma trapalhada (à portuguesa) marcou ontem o dia (atribulado para o empresário "Nené") em Alcochete. Três toiros de Fernandes de Castro foram recusados à hora do sorteio por falta de peso (entende-se?). O empresário optou por mandar vir três toiros da ganadaria Palha, que chegaram a estar nos currais da praça, mas... dois dos cavaleiros (Rouxinol e Botero, segundo informação de "Nené") não os quiseram tourear (entende-se?). Os Palhas voltaram para casa e foram-se buscar outros Castros. O processo não atrasou a corrida, mas terá trazido mais cabelos brancos aos já brancos cabelos de António Manuel Cardoso "Nené". Mas tudo se solucionou e o público quase nem deu por isso...
A praça registou uma belíssima entrada de mais de três quartos, Alcochete voltou a ser uma festa e a verdade é que esta Feira foi, em termos de público, um sucesso. Os anti não voltaram a dar à costa, os aficionados acorreram por três vezes à praça, em massa, esgotando a corrida de terça-feira e enchendo as bancadas nas outras. Assim, dá gosto - e Alcochete teve, como sempre, outro sabor. Otro color!
A corrida de ontem era a festa dos 50 anos do Grupo do Aposento do Barrete Verde de Alcochete - e a noite foi dos Forcados. Estavam em praça, fardados, muitos do que ao longo de meio século escrevam, a letras de ouro, a História de Glória do grupo, incluindo o primeiro cabo José Luis Rei, que foi, ao intervalo, quem se encarregou de descerrar a placa que fica nos corredores da praça a perpectuar esta bonita efeméride.
As seis pegas, que anteriormente aqui deixámos documentadas, foram seis monumentos carregados de simbolismo, de raça, de arte e de valor, de paixão e de sentimento. Foram caras Rui Gomes, César Nunes, João Salvação, Marcelo Loia, Daniel Santiago e Bruno Amaro - e estiveram enormes, grandes, dignos da comemoração que se prestava aos 50 anos do seu grupo, um grupo que tem estado esta temporada em notável destaque.
Agora os toiros. Como acontecera em Évora, os Castros de ontem em Alcochete foram Castros "de segunda" no que ao trapio e à apresentação diz respeito. Pequenotes, escorridos de carnes, nada a ver com o tipo da ganadaria e muito menos com a imagem do toiro-toiro que "Nené" tanto preza e se orgulha de sempre ter em conta.
Tiveram, no entanto, mobilidade, "gatos na barriga" e pediram contas, não facilitando. Nisso, sim, foram como os Castros de verdade. O primeiro, de bandeira, foi mesmo brindado pelo director de corrida Manuel Gama (aficion e saber) com a volta à arena. E depois o filho do ganadeiro Fernandes de Castro foi também autorizado pelo director de corrida a acompanhar Rouxinol e o forcado Rui Gomes numa merecida e aplaudida volta à arena.
Os restantes toiros não destoaram no que respeita à seriedade e à forma como foram à luta, alguns deles mesmo dificultando o labor dos cavaleiros e não facilitando em nada a vida à forcadagem. Faltou apenas presença e apresentação. De resto, houve tudo o que os Castros costumam ter. E costumam ser.
O "sempre-bem" Luis Rouxinol continua a ser um verdadeiro campeão da regularidade. Nunca está mal. E ontem voltou a estar muito bem. É um grande Toureiro e continua eternamente num grande momento. Lide empolgante no primeiro da noite, dando ao público tudo aquilo a que o público tem direito, fechando com um magnífico e arrojado par de bandarilhas. No seu segundo, voltou a marcar a diferença e a obter novo triunfo. Arte, saber e muito valor, entrega até ao fim e o eterno respeito pelo público e pelo toiro. Chama-se a isto profissionalismo. Do melhor que pode haver.
Francisco Palha alternou altos e baixos na lide do seu primeiro toiro, andarilho, meio distraído e ao qual fez tudo para prender as atenções. Teve dois bons curtos e brega acertada, mas faltou brilho à sua presença ontem em Alcochete.
O seu segundo toiro lesionou-se depois de Palha lhe ter cravado o primeiro comprido (brindara a lide a Vasco Pinto, cabo dos Amadores de Alcochete, depois de ter brindado a primeira a "Nené") e apesar de já ter sido farpeado e portanto nada obrigar a que fosse substituído, a empresa e o ganadeiro ofereceram o sobrero, que Francisco enfrentou em último lugar. Pequenote, sem apresentação mínima para a dignidade das sérias organizações do empresário "Nené", o sobrerito era complicado, pedia contas "à séria" e Palha não lhas deu.
Jacobo Botero é um toureiro de raça e um toureiro de valor. Ontem, andou assim-assim com o terceiro da ordem, um Castro que não ajudava, sem contudo perder os papéis. No seu segundo, que também pedia contas e não foi um toiro fácil, Botero esteve muitíssimo bem, arriscando, pondo a carne no assador, cravando ousados e emotivos ferros, demonstrando que está em forma, apesar de estar ter sido apenas a terceira corrida da sua temporada, depois de Évora e de Lisboa, apesar de ter estado em mais uma ou outra praça, mas a lidar um só toiro.
Compreende-se que a falta de corridas (entende-se que um toureiro destes não toureie mais?) justificasse que a máquina não estivesse oleada, mas a verdade é que está. Cavalos e cavaleiro em momento alto e a garra e a vontade de sempre. O público aplaudiu, a música tocou e Botero deu volta à arena. O jovem colombiano que um dia deixou o seu país, a família e os amigos para trás e veio para Portugal para ser toureiro, continua a fazer história. Mais que isso: continua a destacar-se. E nunca será só "mais um".
Ontem, não houve nenhum espectador a "mandar vir" com os toureiros na bancada, não houve pais de cavaleiros a brigar, nem houve brindes como aquele de Ventura aos Telles que tanto está para aí a dar que falar. Houve até quem já me acusasse de estar demasiado silenciado em relação a esse incidente na corrida de terça-feira. Não sei o que Ventura disse no brinde, nem penso que isso seja assim tão importante. Mas tenha ele dito o que quer que fosse, também não sei se não teria alguma razão para o fazer. Cada vez que entra em praça, assobiam-no. E desta vez, ao que parece, os protestos até estavam bem referenciados. Enfim, a verdade é que os ânimos já serenaram. Estamos, afinal, todos no mesmo barco e a nossa missão deve ser a de construir e não destruir. Bebam um copo, Venturas e Telles, que isso acaba por passar!
A corrida de ontem decorreu em bom ritmo e o público saíu satisfeito. O empresário "Nené" está de parabéns pelo sucesso da sua Feira - e Alcochete voltou, um ano mais, a ter outro sabor. Assim, dá gosto!

Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com