

Miguel Alvarenga - Condicionada pelo
pouco jogo dado pelos toiros de Passanha, bruscos e violentos nas investidas, a pedir contas - destacaram-se, como bons, o terceiro
e o sexto, precisamente os dois que tocaram a João Telles - a corrida de ontem
à noite em Alcochete, segunda da Feira e que registou lotação esgotada (não
acontecia ali há quinze anos), ficou muito aquém das expectativas que a
rodeavam, apesar de termos visto bons momentos de toureio por parte dos três
cavaleiros e rijas pegas pelos dois grupos de forcados. Soube a pouco...
esperava-se mais.
Não faltou, isso não, picardia entre os
cavaleiros - e ontem foi João Ribeiro Telles, bafejado com o melhor lote (mas
isso não justifica os seus dois grandes triunfos, que se ficaram a dever ao
excelente momento que está a atravessar, nunca fui daqueles que dizem que um
toureiro esteve bem só e exclusivamente porque o toiro era bom, João esteve
mesmo muitíssimo bem), o grande triunfador da noite.
Bem a lidar, a bregar, emotivo a cravar
e ousado nos terrenos que pisou, João Telles não teve uma falha. Foi tudo bem
feito e o público levantou-se por várias vezes, como que impelido por molas.
Não o fez no primeiro toiro, mas no segundo fechou a sua actuação com dois
vistosos "violinos", em jeito de desplante a complementar uma lide
brilhante. E não para alcançar o triunfo fácil. Esteve, na verdade, acima da
média. E a posicionar-se como um dos eleitos nesta temporada de 2015.
Rui Fernandes abriu a corrida com uma
emplgante actuação no primeiro Passanha. O toiro não colaborou, mas o toureiro
obrigou-o a investir, mercê de grande brega e de muito porfiar. O primeiro
ferro curto foi um assombro, nem se entende como o cavalo entrou e saíu de tão
apertado terreno, foi o ferro da noite e os que se seguiram voltaram a ter a
marca de um toureiro que está moralizado, pronto para todos os desafios e
montado para fazer frente a todos os toiros.
O seu segundo era reservado, tinha
bruscas arrancadas e Rui Fernandes fez tudo o que estava ao seu alcance para
cumprir. O público estava com ele, não havia um
único protesto, quando soou o aviso mandado tocar pelo director de corrida Pedro
Reinhardt dando conta de que o tempo terminara. Nem 8, nem 80. Reinhardt é o
mais sério dos directores de corrida e o único que leva a lei à letra, mas nem
tanto ao mar, nem tanto à terra, caramba. Ontem pareceu mesmo perseguição... E o pouco condescendente que foi para com Rui Fernandes, acabou depois por o ser em demasia (não que o toureiro não o merecesse, mas...) para Telles, permitindo-lhe exceder e voltar a exceder o tempo em mais dois ferros. Ou há moralidade, ou mamam todos, amigo Pedro Reinhardt...
Tanto na lide de Fernandes (mais esforçada pela má qualidade do toiro, mas de desmedido valor), como na de João Telles, o público estava com os toureiros. E Reinhardt não quis ver isso no caso de Fernandes, só o viu com Telles?
O aviso soou no preciso momento em que o
toureiro, concentrado, citava um toiro a um palmo deste para deixar o último curto.
Fernandes reagiu pela negativa, revoltado com o que se pode chamar a falta de
senso e de oportunidade do director de corrida - que foi o único que não
entendeu que ninguém, no público, queria ver o cavaleiro dali para fora... Fernandes não esteve bem na reacção que teve, mas Reinhardt esteve ainda pior na atitude que tomou. Anda tudo com os "nervos a ferver", penso que seja do calor. Bebam qualquer coisinha fresca, meninos, refresquem os ânimos. Para tentar destruir-nos já bastam os anti-taurinos (que ontem e, a propósito, não ousaram voltar a aparecer ali para as aficionadíssimas bandas de Alcochete).
O público virou-se contra Reinhardt -
que ontem fez, neste caso e nesta atitude, o papel do "estraga a
festa" - e Rui Fernandes saíu da arena exaltado e a barafustar, depois de
se ter apeado à porta dos cavalos. Na bancada, um espectador revoltou-se contra
o cavaleiro e deu-se um verdadeiro pandemónio entre tábuas (de que já aqui se
falou). Enfim, uma tourada dentro de outra tourada...
Algo longe do seu melhor, mais por culpa
do pouco jogo dos toiros do que dele, Diego Ventura não pôde ontem repetir a
noite triunfal (que todos esperavam) do "mano-a-mano" com "El
Juli" em Lisboa. Mesmo assim e com fraca matéria prima para se luzir,
deixou ver o grande toureiro que é. No seu primeiro toiro "abriu o
compêndio" e desenhou uma lide emotiva, recorrendo-se dos seus fantásticos
cavalos, com ferros de grande qualidade e recortes fantásticos de brega.
No segundo, pior que o primeiro,
arriscou ao máximo, esteve notável a lidar e cravou ferros ousados. A lide não
foi redonda pela pouca qualidade do toiro e Ventura não quis dar a volta.
Os Passanhas, muito bem apresentados,
não bateram nos forcados, limitando-se a ir pelo seu caminho, com nobreza e sem
derrotar muito, mas permitindo pegas rijas.
Pelos Amadores de Évora pegaram os
experientes Dinis Caeiro (à primeira), João Pedro Oliveira (à primeira e ao seu melhor estilo) e
Martim Caeiro (à terceira). Pelos Amadores de Alcochete, foram ontem caras o
cabo Vasco Pinto (à primeira, que foi segunda, visto ter dobrado João Pedro
Sousa, que se lesionou), João Machacaz (à segunda) e Nuno Santana (à primeira,
numa grande pega, como sempre).
Destaque para o desempenho dos peões de
brega Nuno Oliveira, João Curto, Paco Cartagena e João Prates
"Belmonte", os que mais se evidenciaram quer na brega, quer na colocação para as pegas.
Execepção feita à desnecessária cena com
o cavaleiro Rui Fernandes, Pedro Reinhardt esteve correcto na direcção da
corrida. E foi assim uma corrida de que tanto se esperava e que acabou por
frustrar as expectativas daqueles que esgotaram a praça e lhe deram um ambiente
tão solene desde a primeira hora. Amanhã há mais em Alcochete!
Fotos Armando
Alves/www.forcadilhasetoiros.com