quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Uma tourada à antiga: ânimos exaltados ontem em Alcochete...

O público revoltou-se contra a atitude do director de corrida de mandar sair
Rui Fernandes. O aviso soou precisamente quando o toureiro citava o toiro a um
metro deste (foto de cima)
Mesmo sem ser autorizado a dar a volta à arena, Rui Fernandes foi no final
aclamado de pé pelo público e veio aos médios agradecer
Um espectador excitou-se e as equipas de Fernandes e Ventura revoltaram-se
Momento em que João Palha Ribeiro Telles e António Ventura quase
chegavam a vias de facto em plena trincheira...
Os ânimos só acalmaram com a chegada ao local de três soldados da GNR


Momentos de exaltação na arena, na trincheira e na bancada, marcaram ontem, quando Rui Fernandes terminava a lide do quarto toiro da corrida que decorreu em Alcochete - e que, como já aqui referimos, esgotou por completo a lotação da praça.
O toiro de Passanha era reservado, de arrancas bruscas próprias de mansidão e em nada facilitou a vida ao cavaleiro. Rui Fernandes, que estivera brilhante no primeiro da noite, fez das tripas coração para lidar e cravar os ferros. Segundo o director de corrida (que era o rígido Pedro Reinhardt, na foto - de arquivo - ao lado), Fernandes terá levado 11 minutos para cravar dois ferros. O Regulamento estipula que uma lide deve ter a duração de 10 minutos, mais 3 de bónus e que depois de cumprido esse prazo soe o primeiro aviso para o cavaleiro abandonar a praça.
Acontece que ontem o aviso soou precisamente no momento (errado) em que Fernandes citava, a um metro, o toiro, para cravar o último ferro. Rui Fernandes veio junto do local onde estava o director Pedro Reinhardt e excedeu-se: "Quer você vir pôr o ferro?". A seguir, encastou-se, entrou pelo toiro dentro e cravou um ferro "de raiva", sofrendo um "encontrão", próprio de quem ousa pisar aqueles terrenos. Dirigiu-se de imediato para a porta dos cavalos, apeou-se ainda na arena e entrou pela trincheira olhando e gesticulando contra o director de corrida.
"Excedi-me, confesso, mas as pessoas não se podem esquecer de que tenho sentimentos. Se o director de corrida me tem dado o aviso num outro momento, eu ter-me-ia ido embora. Quando muito, pedia-lhe se me deixava cravar mais um ferro e se ele não o permitisse, ia embora. Agora, dar-me o aviso e fazer-me o gesto de que excedera o tempo, no preciso momento em que eu estava concentrado diante do toiro, a um metro dele, para cravar o ferro, caramba, foi demais. Foi de má fé. Sei que não devia ter tido a reacção que tive, mas tive-a sob toda a tensão que o senhor director me criou. Eu não ando a tourear de relógio, não controlo o tempo, não dei por isso que o tempo fora excedido e excedi-me. São coisas que acontecem..." - diz Rui Fernandes.
Depois da pega - executada por João Machacaz - o público aclamou Rui Fernandes de pé, mas o director de corrida não o autorizou a dar a volta à arena. Rui limitou-se a vir aos médios agradecer as calorosas ovações. Entretanto, um espectador exaltou-se na bancada e, segundo apurámos, terá mesmo dito algumas palavras menos simpáticas dirigidas a Fernandes e também a Ventura. As equipas dos dois cavaleiros, revoltaram-se contra o dito aficionado e na trincheira, o Pai de Ventura terá quase chegado a vias de facto com o Pai de João Telles, ao que parece, por o espectador revoltado ser familiar dos Telles. Depois, Diego Ventura entrou em praça e fez questão de brindar a sua lide a João Telles e seu Pai e a Rui Fernandes, ao que se presume, numa tentativa de acalmar as hostes. Finda a corrida, elementos afectos a Fernandes e Ventura terão mesmo feito "uma espera" ao referido espectador, mas os ânimos serenaram depois da intervenção da GNR. Tudo voltou então à calmaria.
Haja calma, senhores! Alcochete tem sempre outro sabor - e tudo isto faz parte da Festa e dos sentimentos "à flor da pele" dos que nela participam e a ela assistem. Mas ainda não estamos propriamente no Far-West...

Fotos M. Alvarenga e Emílio de Jesus/Arquivo