Sevilha aplaudiu-lhe a arte em duas ocasiões. As arenas de Espanha que pisou na temporada passada, a primeira como novilheiro com picadores, consagraram a nova grande promessa do nosso toureio a pé. É de Monforte, chama-se João Silva, anuncia-se como “Juanito” - e começa a dar que falar. Em fim de ano e com um novo à porta, o jovem toureiro fala ao “Farpas” e confessa os seus sonhos. Tem objectivos, tem a seu lado um apoderado influente, Joaquín Domínguez, sabe o que quer e para onde vai. Em 2017 quer chegar a Madrid, consolidar-se como número-um no escalafón dos novilheiros. E gostava de receber a alternativa das mãos do Maestro Ponce, com o testemunho de Talavante. Pode arrancar em Março do ano que vem na Feira de Olivença. E quer muito voltar ao Campo Pequeno, onde no ano passado teve uma estreia acidentada, cortando uma mão no ferro de uma bandarilha. Vamos ouvir “Juanito”.
Entrevista de Miguel Alvarenga
- Que balanço, “Juanito”, do primeiro ano como novilheiro com picadores? Aconteceu tudo o que sonhavas?
- Acho que os meus sonhos vão muito mais para lá de uma temporada, são dia-a-dia de sacrificio e treino para ser figura, onde quero chegar. Esta temporada cumpriram-se os objectivos que tanto eu como a minha equipa tínhamos planeado, a primeira temporada com picadores, de rodagem, tourear o máximo possível para rodar e triunfar, para que este ano que vem possa estar em todas as principais feiras de Espanha o mais "cuajado" possível para triunfar forte e ser o número-um do escalafón.
- 2017 será a temporada da tua afirmação em Espanha? Que perspectivas?
Juntamente com o meu apoderado e toda a equipa estamos a preparar um "Inverno" duro, de forte preparação, já que esta temporada será decisiva e especial pelos "palcos" tão importantes em que estarei anunciado, nas principais feiras de Espanha e França e por isso a cada dia preparo-me mental e físicamente para ser o melhor e poder triunfar em todos esses sítios, sacar o meu melhor toureio que levo dentro para emocionar o público e ao mesmo tempo "arrear" .
- Desde Vitor Mendes que mais nenhum matador português “vingou” em Espanha. Tens essa noção? Podes ser o novo ídolo de Portugal em Espanha?
- Sim, claro que tenho, para isso treino e me sacrifico todos os dias, é um sonho que quero que seja uma realidade e a cada dia o vejo mais perto. A temporada de 2017 vai confirmar isso se Deus quiser, quero que os grandes aficionados portugueses voltem a encher as praças pelo toureio a pé e quero ser protagonista e testemunha disso. Vai chegar!
- Não houve conversações ou não houve vontade? Porque não voltaste este ano ao Campo Pequeno, depois da acidentada estreia em 2015?
- Num início houve conversações por parte do meu apoderado e da empresa, mas não houve acordo, ou desinteresse por parte da empresa. Em 2015 quando vieram falar comigo estava sem picadores (e triunfei em todos os sítios importantes por onde passei), sem apoderado porque estava na escola, para tourear a novilhada e eu aceitei, o ambiente que se gerou através da novilhada acho que foi muito positivo apesar do acidente que sofri ao cortar uma mão no ferro de uma bandarilha. A empresa, como tinha surgido o acidente, o qual me impediu de continuar a faena logo no meu primeiro novilho, mostrou interesse depois em me contratar para a seguinte temporada de 2016, o que não aconteceu. Tenho um grande carinho por Lisboa, é uma das praças dos meus sonhos, onde mais me ilusiona tourear e quero-o fazer da melhor forma e com as melhores condições para triunfar. Tanto o meu apoderado Joaquin Domínguez, como eu, temos boa e intocável relação com a empresa, com o Maestro Rui Bento e esperamos que na próxima temporada esteja presente na Capital do Toureio Português, num ano que será muito especial e decisivo na minha carreira e que é também o ano do 125º aniversário da praça do Campo Pequeno.
- Quem são os teus ídolos no toureio?
- Tento tirar o máximo partido de cada um e dos melhores extrair o máximo que possa aportar ao meu toureio, sempre a arrear e em novilheiro. Os meus ídolos são os Maestros Talavante, “El Juli" e o capote de José Garrido, bem como Paco Ureña, entre outros.
- Para quando a alternativa de matador de toiros? E qual era o cartel ideal?
- Penso sempre no presente em cada tarde que afronto, mas confesso que será um dia sonhado, depende como fosse esta temporada, talvez no fim dela ou quando se proporcionar e quando me sentir capaz de competir com as figuras e que tenha ambiente para o fazer, para dar esse passo tão importante. O Maestro Enrique Ponce e Talavante seria um cartel que me faria ilusão.
- O toureio a pé esteve alguns anos “adormecido” entre nós, apesar da existência de novos matadores e de valores que existem. Concordas que renasceu o gosto dos aficionados pelo toureio a pé, sobretudo depois dos êxitos dos matadores espanhóis em Lisboa?
- Sim acho que tem sido uma mais valia para o início desse Renascimento, mas agora só espero e o que resta é dar continuação a fazer o mesmo com os toureios portugueses, como eu e todos os que estão a começar a despontar tanto a nível de novilheiros como matadores, misturando figuras mundiais com toureiros emergentes como o estão a fazer em Espanha, há que criar esse interesse e já que há toureiros a despontar, as empresas são as que têm que apostar e dar o seguinte passo.
- Já toureste duas vezes em Sevilha, é um público especial?
- Sim, cada público é especial e o de Sevilla mais, são toreristas e apreciam o toureio de arte, temple e repousado, com "hondura" e profundidade, com o qual me identifico e tento fazer a cada dia que piso esse albero ou outro.
- Que sonhos e que objectivos para alcançar?
- O que sonho a cada dia, poder um dia chegar a ser figura, e marcar uma época no toureio, e, a curto prazo, que cada vez que toureie as pessoas saiam da praça a falar de “Juanito”.
- Quais os projectos, certamente já delineados pelo teu apoderado Joaquín Domínguez, para a próxima temporada?
- O primeiro com que o meu apoderado Joaquín Domínguez se importou desde que acabou esta temporada foi delinear e fazer uma boa e forte preparação de cara a essa temporada próxima, para nada falhar. Estar em todas as feiras de Espanha, gostaria de tourear um ou outro festival no meu país no início do ano, começar depois em Março na Feira de Olivença, o que poderá ser o ponto de partida para uma temporada muito especial. E a apresentação em Madrid, que me ilusiona muito.
Fotos D.R./@Juanito