sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Arruda, ontem: Luis Rouxinol Jr. deu mais um importante passo em frente

Actuação exuberante e emotiva de Rouxinol Jr. deu-lhe ontem, com justiça e
absoluto merecimento, o troféu da melhor lide na corrida nocturna e de casa
cheia na Arruda dos Vinhos. O jovem cavaleiro continua a marcar a diferença
entre os novos no ano da sua aplaudida alternativa em Lisboa - onde se impõe
que regresse numa das três corridas que faltam na Temporada Histórica
No último toiro, do Engº Jorge de Carvalho, vencedor absoluto do Concurso de
Ganadarias (ganhando os troféus de bravura e de apresentação), os dois
triunfadores da noite na volta à arena: Luis Rouxinol Jr. e o forcado Pedro Sabino,
dos Amadores da Arruda dos Vinhos
Aficion, rigor e bom senso na direcção de corrida
de Rogério Jóia ontem na Arruda
A corrida foi antecedida pelo sempre apreciado cortejo das Touradas Reais, de
gala à antiga portuguesa, tendo sido net, uma vez mais, o menino João Maria
Gregório de Oliveira
Ana Batista lidou com aprumo e a usual alegria e bom
gosto um novilho de Casquinha
Manuel Telles Bastos fez gala da sua muita classe numa lide boa ao toiro de
Luis Rocha, que cresceu, mas se adiantava
Ritmada e artística lide de Duarte Pinto a um toiro de Lampreia que pedia contas
Grande actuação de Francisco Palha com o encastado toiro
de Santiago, a demonstrar o grande momento que vive
em mais uma temporada de plena consagração
Lide esforçada a arrojada de Miguel Moura, pisando terrenos de compromisso
para conseguir cravar os ferros no toiro manso de Manuel Veiga que passou
a noite nas tábuas, recusando ir à luta
Muito bem esteve Guilherme Dotti (Vila Franca) na primeira pega da noite,
à primeira tentativa
João Costa (Arruda) consumou à primeira a segunda pega da corrida
Gonçalo Filipe (Vila Franca) na terceira pega da noite, à segunda
Tiago Silva (Arruda) consumou à segunda a quarte pega da noite
Pedro Silva, de Vila Franca, fez uma grande pega e a mais
tecnicamente perfeita ao quinto toiro. Pena que tivesse
escorregado na cara do toiro na primeira tentativa,
consumando com brilhantismo à segunda
Sequência da última pega da noite, vencedora do troféu em disputa, consumada
à primeira por Pedro Sabino e que resultou emotva, levantando o público das
bancadas. Um forcado eficiente e valente dos Amadores da Arruda


Miguel Alvarenga - O jovem cavaleiro Luis Rouxinol Júnior sagrou-se ontem maior triunfador da corrida de gala à antiga portuguesa que se celebrou na praça da Arruda dos Vinhos, cheia até às bandeiras (à tarde esteve também cheia a praça de Coruche, o que comprova o que digo há imenso tempo: não há crise nenhuma na Tauromaquia, há é touradas a mais e muitas sem razão de ser e, principalmente, sem interesse ou chamariz algum...), numa noite de fraquito Concurso de Ganadarias (já vi melhores) e onde há a registar também duas excelentes actuações de Duarte Pinto e de Francisco Palha, sobretudo a deste último.
Com o toiro que denotou melhores condições de lide (por isso, vencedor do sempre subjectivo prémio de bravura) e mais espectacular apresentação (vencedor também desse troféu, o único que recebeu aplausos quando entrou na arena), pertencente à ganadaria do empresário da praça, Engº Jorge de Carvalho, o novo Rouxinol esteve exuberante e artista numa lide em crescendo e cheia de fulgor, a reafirmar, no ano da sua aplaudida alternativa em Lisboa, os magníficos progressos que exibe de corrida para corrida e a cada vez maior e mais definitiva confirmação de que vai ser um caso e de que marca, na realidade, entre os novos, a diferença, a grande diferença.
Arrojo, ousadia, arte e um enorme sentido de lide são apanágios deste jovem cavaleiro que se começa a destacar por ele próprio e a distanciar-se a passos largos do estigma de ser "o filho do Luis Rouxinol". Luis André está a marcar esta temporada.

Francisco Palha em noite de grande fulgor

Outro cavaleiro que deu no ano passado o chamado Grito do Ipiranga e não mais parou de surpreender, é Francisco Palha. Lide brilhante e também ousada e com ferros de uma imensa verdade, a pisar terrenos de compromisso, a arriscar, sem facilidades e sem folclores para a bancada, todo ele é aprumo, todo ele é classe e todo ele é arte e valor. Grande Palhinha ontem na Arruda diante de um toiro exigente de Santiago, que teve bom comportamento e cresceu ao longo da lide, estando também bem apresentado para um concurso de ganadarias.
Outra actuação digna de destaque foi a de Duarte Pinto no terceiro toiro da corrida, o exemplar da ganadaria Lampreia, que não foi fácil, mas ao qual o cavaleiro de Paço D'Arcos logrou dar a volta, com acertada brega e emotivos ferros, bem ao seu estilo comunicativo e sempre em sintonia com o público.
Ana Batista abriu praça com um novilho de Nuno Casquinha que por não ter quatro anos não entrou em concurso e que substituia o toiro de Varela Crujo, que se inutilizou, segundo o empresário. menos bem com os ferros compridos, veio-lhe a casta acima com os curtos, entrando nos terrenos do oponente e cravando com emoção, numa lide que veio sempre de menos a mais e terminou em beleza para a bonita cavaleira de Salvaterra.
O toiro do Engº Luis Rocha, segundo da ordem, de escasso trapio e fraca apresentação para um concurso de ganadarias, foi crescendo ao longo da lide, mas adiantava-se e com ele Manuel Ribeiro Telles Bastos teve uma actuação pautada pela regularidade e pela classe que é, desde sempre, a maior virtude da sua bonita interpretação do toureio equestre à maneira antiga. Os compridos cravou-os à tira e nos curtos já foi mais de frente, cravando ao estribo de alto a baixo, bem, ao melhor estilo clássico dos bons Ribeiro Telles. Fez questão, como escrevi anteriormente, de que a sua actuação não fosse tida em conta pelo júri na decisão de atribuir o prémio à melhor lide, mas isso são contas do rosário do Manuel e não minhas, respeito-o.
O toiro de Manuel Veiga, quinto da noite, também de apresentação curtinha para um concurso de ganadarias, foi manso e bem cedo se ficou pelas tábuas, recusando ir à luta. Miguel Moura, a viver uma temporada de importantes triunfos e de grande afirmação, esteve valente e com atitude. Bem montado, foi-se ao toiro com decisão e vontade de marcar a diferença, entrando por ele dentro em terrenos de grande aperto e alto compromisso. Foi uma lide esforçada e de grande entrega, mas sem brilhantismo pela falta de toiro.

Forcados de V. Franca e Arruda em triunfo

As pegas, sem dificuldades de maior, foram executadas pelos Forcados Amadores de Vila Franca de Xira e pelos Amadores da Arruda dos Vinhos, um grupo menos rodado e menos visto, mas com valor e em boa forma.
Pelos vilafranquenses pegaram Guilherme Dotti (muito bem, à primeira), Gonçalo Filipe (à segunda) e Pedro Silva (não fosse ter consumado à segunda, apenas e só porque escorregou e caíu na cara do toiro na primeira tentativa, pegando depois brilhantemente, e esta teria sido a grande pega da noite, pela arte, pela técnica e pelo aprumo que o forcado evidenciou no cite, a recuar, mandando na investida e a dar a maior prioridade ao toiro e a fechar-se com enorme decisão, bem ajudado pelo grupo já quase em cima das tábuas).
Pelo grupo da casa foram caras João Costa (à primeira), Tiago Silva (à segunda) e Pedro Sabino (à primeira, numa pega que resultou emotiva pelo derrote alto que o toiro lhe deu e que venceu o prémio em disputa para a melhor da noite).
Direcção aficionada e rigorosa, com o bom senso que lhe reconhecemos, de Rogério Jóia, que esteve ontem assessorado pelo médico veterinário Dr. José Manuel Lourenço. A corrida iniciou-se com as sempre apreciadas cortesias de gala à antiga portuguesa, evocando as Touradas Reais, com a participação da Charanga a Cavalo da GNR e do neto que voltou a ser o menino João Maria Gregório de Oliveira.
Nota negativa, apenas, para o excesso de capotazos dados aos toiros pela esmagadora maioria dos bandarilheiros. Está na moda os cavaleiros tourearem "mano-a-mano" com os seus bandarilheiros e isso é uma prática que tem que acabar. Para mais, num concurso de ganadarias. Houve capinhas a mais, tempo a mais, dentro da arena...

Fotos Carlos Silva