Aficion, rigor e bom senso na direcção de corrida de Rogério Jóia ontem na Arruda |
A corrida foi antecedida pelo sempre apreciado cortejo das Touradas Reais, de gala à antiga portuguesa, tendo sido net, uma vez mais, o menino João Maria Gregório de Oliveira |
Ana Batista lidou com aprumo e a usual alegria e bom gosto um novilho de Casquinha |
Manuel Telles Bastos fez gala da sua muita classe numa lide boa ao toiro de Luis Rocha, que cresceu, mas se adiantava |
Ritmada e artística lide de Duarte Pinto a um toiro de Lampreia que pedia contas |
Grande actuação de Francisco Palha com o encastado toiro de Santiago, a demonstrar o grande momento que vive em mais uma temporada de plena consagração |
Lide esforçada a arrojada de Miguel Moura, pisando terrenos de compromisso para conseguir cravar os ferros no toiro manso de Manuel Veiga que passou a noite nas tábuas, recusando ir à luta |
Muito bem esteve Guilherme Dotti (Vila Franca) na primeira pega da noite, à primeira tentativa |
João Costa (Arruda) consumou à primeira a segunda pega da corrida |
Gonçalo Filipe (Vila Franca) na terceira pega da noite, à segunda |
Tiago Silva (Arruda) consumou à segunda a quarte pega da noite |
Miguel Alvarenga - O jovem cavaleiro Luis Rouxinol Júnior sagrou-se ontem maior triunfador da corrida de gala à antiga portuguesa que se celebrou na praça da Arruda dos Vinhos, cheia até às bandeiras (à tarde esteve também cheia a praça de Coruche, o que comprova o que digo há imenso tempo: não há crise nenhuma na Tauromaquia, há é touradas a mais e muitas sem razão de ser e, principalmente, sem interesse ou chamariz algum...), numa noite de fraquito Concurso de Ganadarias (já vi melhores) e onde há a registar também duas excelentes actuações de Duarte Pinto e de Francisco Palha, sobretudo a deste último.
Com o toiro que denotou melhores condições de lide (por isso, vencedor do sempre subjectivo prémio de bravura) e mais espectacular apresentação (vencedor também desse troféu, o único que recebeu aplausos quando entrou na arena), pertencente à ganadaria do empresário da praça, Engº Jorge de Carvalho, o novo Rouxinol esteve exuberante e artista numa lide em crescendo e cheia de fulgor, a reafirmar, no ano da sua aplaudida alternativa em Lisboa, os magníficos progressos que exibe de corrida para corrida e a cada vez maior e mais definitiva confirmação de que vai ser um caso e de que marca, na realidade, entre os novos, a diferença, a grande diferença.
Arrojo, ousadia, arte e um enorme sentido de lide são apanágios deste jovem cavaleiro que se começa a destacar por ele próprio e a distanciar-se a passos largos do estigma de ser "o filho do Luis Rouxinol". Luis André está a marcar esta temporada.
Francisco Palha em noite de grande fulgor
Outro cavaleiro que deu no ano passado o chamado Grito do Ipiranga e não mais parou de surpreender, é Francisco Palha. Lide brilhante e também ousada e com ferros de uma imensa verdade, a pisar terrenos de compromisso, a arriscar, sem facilidades e sem folclores para a bancada, todo ele é aprumo, todo ele é classe e todo ele é arte e valor. Grande Palhinha ontem na Arruda diante de um toiro exigente de Santiago, que teve bom comportamento e cresceu ao longo da lide, estando também bem apresentado para um concurso de ganadarias.
Outra actuação digna de destaque foi a de Duarte Pinto no terceiro toiro da corrida, o exemplar da ganadaria Lampreia, que não foi fácil, mas ao qual o cavaleiro de Paço D'Arcos logrou dar a volta, com acertada brega e emotivos ferros, bem ao seu estilo comunicativo e sempre em sintonia com o público.
Ana Batista abriu praça com um novilho de Nuno Casquinha que por não ter quatro anos não entrou em concurso e que substituia o toiro de Varela Crujo, que se inutilizou, segundo o empresário. menos bem com os ferros compridos, veio-lhe a casta acima com os curtos, entrando nos terrenos do oponente e cravando com emoção, numa lide que veio sempre de menos a mais e terminou em beleza para a bonita cavaleira de Salvaterra.
O toiro do Engº Luis Rocha, segundo da ordem, de escasso trapio e fraca apresentação para um concurso de ganadarias, foi crescendo ao longo da lide, mas adiantava-se e com ele Manuel Ribeiro Telles Bastos teve uma actuação pautada pela regularidade e pela classe que é, desde sempre, a maior virtude da sua bonita interpretação do toureio equestre à maneira antiga. Os compridos cravou-os à tira e nos curtos já foi mais de frente, cravando ao estribo de alto a baixo, bem, ao melhor estilo clássico dos bons Ribeiro Telles. Fez questão, como escrevi anteriormente, de que a sua actuação não fosse tida em conta pelo júri na decisão de atribuir o prémio à melhor lide, mas isso são contas do rosário do Manuel e não minhas, respeito-o.
O toiro de Manuel Veiga, quinto da noite, também de apresentação curtinha para um concurso de ganadarias, foi manso e bem cedo se ficou pelas tábuas, recusando ir à luta. Miguel Moura, a viver uma temporada de importantes triunfos e de grande afirmação, esteve valente e com atitude. Bem montado, foi-se ao toiro com decisão e vontade de marcar a diferença, entrando por ele dentro em terrenos de grande aperto e alto compromisso. Foi uma lide esforçada e de grande entrega, mas sem brilhantismo pela falta de toiro.
Forcados de V. Franca e Arruda em triunfo
As pegas, sem dificuldades de maior, foram executadas pelos Forcados Amadores de Vila Franca de Xira e pelos Amadores da Arruda dos Vinhos, um grupo menos rodado e menos visto, mas com valor e em boa forma.
Pelos vilafranquenses pegaram Guilherme Dotti (muito bem, à primeira), Gonçalo Filipe (à segunda) e Pedro Silva (não fosse ter consumado à segunda, apenas e só porque escorregou e caíu na cara do toiro na primeira tentativa, pegando depois brilhantemente, e esta teria sido a grande pega da noite, pela arte, pela técnica e pelo aprumo que o forcado evidenciou no cite, a recuar, mandando na investida e a dar a maior prioridade ao toiro e a fechar-se com enorme decisão, bem ajudado pelo grupo já quase em cima das tábuas).
Pelo grupo da casa foram caras João Costa (à primeira), Tiago Silva (à segunda) e Pedro Sabino (à primeira, numa pega que resultou emotiva pelo derrote alto que o toiro lhe deu e que venceu o prémio em disputa para a melhor da noite).
Direcção aficionada e rigorosa, com o bom senso que lhe reconhecemos, de Rogério Jóia, que esteve ontem assessorado pelo médico veterinário Dr. José Manuel Lourenço. A corrida iniciou-se com as sempre apreciadas cortesias de gala à antiga portuguesa, evocando as Touradas Reais, com a participação da Charanga a Cavalo da GNR e do neto que voltou a ser o menino João Maria Gregório de Oliveira.
Nota negativa, apenas, para o excesso de capotazos dados aos toiros pela esmagadora maioria dos bandarilheiros. Está na moda os cavaleiros tourearem "mano-a-mano" com os seus bandarilheiros e isso é uma prática que tem que acabar. Para mais, num concurso de ganadarias. Houve capinhas a mais, tempo a mais, dentro da arena...
Fotos Carlos Silva