sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Alcochete: praça cheia em noite de triunfos e... de azares

Praça cheia ontem na última corrida da Feira de Alcochete
Rui Salvador embalou e agora não há outra vez quem o páre! Voltou o fulgor
de sempre, voltaram os "ferros impossíveis"!
Artístico remate do valoroso Manuel dos Santos "Becas"
Luis Rouxinol esteve "bravíssimo" com o bravo e muito bem apresentado toiro
"branco" de Canas Vigouroux
Lide esforçada e valorosa de Gilberto Filipe a um toiro manso e reservado
de Canas Vigouroux
Telles Bastos deu toda a prioridade ao belíssimo e bravo toiro de Palha,
triunfando e mostrando as excelentes qualidades do oponente
Campinos brilharam na recolha dos toiros a cavalo
Lide primorosa e triunfal de Manuel Telles Bastos a um bravo toiro de Palha.
Volta à arena com o forcado Diogo Amaro e o primeiro ajuda Vitor Bolota, os
campinos e o maioral da ganadaria
Filipe Gonçalves teve ontem azar. Melhor dizendo, dois azares. O seu toiro
inutlizou-se e depois o sobrero também. Fez duas sortes de gaiola e ficou por
aí a sua passagem pela arena de Alcochete...
Público reconheceu e aplaudiu a raça de António Prates numa emotiva
actuação, ovacionando-o de pé na volta à arena que deu com o forcado Rui
Gomes
, do ABV de Alcochete, que ontem se despediu das arenas


Praça cheia ontem em Alcochete na segunda e última corrida da Feira do Toiro-Toiro. Três bravos toiros de Palha e um de Canas Vigouroux. Azar para Filipe Gonçalves, cujo toiro (de Canas) se inutilizou e depois o sobrero, da mesma ganadaria, também, acabando por não tourear. Um azar nunca vem só e Filipe ontem teve dois. No final houve bronca e protestos do público. Mas já nada havia a fazer. Alcochete é uma praça de segunda categoria e o Regulamento obriga a ter só um sobrero. A empresa Toiros & Tauromaquia vai hoje emitir um comunicado a explicar isso mesmo

Miguel Alvarenga - Filipe Gonçalves teve ontem azar em Alcochete numa corrida que ia embalada pelos triunfos de Salvador e Rouxinol com dois bravos toiros, respectivamente, de Palha e de Canas Vigouroux. O quarto toiro da ordem, de Canas Vigouroux, que Filipe Gonçalves recebeu com uma sorte de gaiola, embateu violentamente nas tábuas e isso pode ter sido a causa de se ter inutilizado, coxeando, pelo que foi recolhido. Telles Bastos lidou a seguir o toiro que lhe competir enquanto embolavam o sobrero e Filipe voltou a sair à praça em quinto lugar, perfilando-se de novo para uma sorte de gaiola. O toiro sobrero, também de Canas Vigouroux, levou o primeiro ferro demasiado traseiro e aqui pode ter sido essa a causa da sua também inutilização. O cavaleiro ainda lhe cravou um segundo ferro comprido, já com o toiro a coxear também e sob os protestos do público, acabando o director de corrida João Cantinho por o mandar igualmente recolher. E por aqui se ficou ontem a passagem de Filipe Gonçalves pela arena de Alcochete...
A praça é de segunda categoria e o Regulamento obriga só à existência de um toiro sobrero. Pelo que não havia mais nenhum toiro para lidar. Mesmo assim, finda a corrida, o público permaneceu na praça, os dois grupos de forcados continuaram na trincheira e o director de corrida e o veterinário sumiram rapidamente do camarote. Houve protestos e vaias, palmas de tango e bronca, mas certamente por desconhecimento do público do que a lei diz. De qualquer modo, os aficionados sentiram-se lesados por só terem visto lidar e pegar cinco toiros. E o povo "é quem mais ordena", pese embora o Regulamento ser explícito. A empresa Toiros & Tauromaquia vai emitir durante o dia um comunicado a explicar o que se passou.
Àparte este incidente, a corrida decorreu em bom ritmo e com triunfos de cavaleiros e forcados.

Veteranos em alta

Rui Salvador lidou brilhantemente o primeiro toiro da corrida, um bravo e nobre exemplar da ganadaria Palha que, no fim, o próprio toureiro aplaudiu, batendo-lhe palmas, quando abandonava a arena. Salvador ressuscitou depois do grande triunfo na Nazaré, a moral subiu e a verdade é que a partir de então tem somado êxitos atrás de êxitos e voltou aos tempos antigos, aos "ferros impossíveis" e aos sonoros triunfos dos seus tempos de ouro. Ontem em Alcochete deu uma lição de maestria, lidando e cravando com sabedoria e emoção - e o público correspondeu, não lhe poupando aplausos.
O segundo toiro era da ganadaria Canas Vigouroux, o toiro branco que nas fotos até assustava. Bravo, nobre, a arrancar com alegria de todos os terrenos, exigente, não dando tréguas, transmitindo emoção e seriedade E teve pela frente um toureiro que assusta qualquer toiro, O imparável Luis Rouxinol. Actuação enorme, com a raça de sempre, como se fosse um menino em busca de afirmação. Ferros emotivos, cravados em terrenos de compromisso, público de pé e, no fim, o par de bandarilhas, a sua marca há tantos anos, que resultou perfeito.

Gilberto e Filipe sem sorte

Gilberto Filipe não pôde brilhar diante de um toiro manso e reservado de Canas Vigouroux que passou a maior parte da lide parado e à espera. A experiência e a facilidade com que lida os toiros, aliadas à exímia equitação de Gilberto foram atributos suficientes para contornar a falta de matéria prima, mas a actuação não teve o brilhantismo desejado e nem sequer foi premiada com música. O toureiro deu a volta à arena e o público reconheceu o seu labor tributando-lhe aplausos.
Filipe Gonçalves, como já referi, não teve ontem um azar, mas dois: o seu toiro inutilizou-se e o sobrero também, ambos de Canas Vigouroux. Ficou-se por duas sortes de gaiola e dois ferros compridos...

Telles Bastos e um bravo Palha

Manuel Ribeiro Telles Bastos lidou em quinto lugar - e lidou muitíssimo bem - um bravo toiro de Palha a que deu sempre toda a prioridade na investida, cravando com rigor ao estribo e em sortes frontais a vencer o piton contrário. Não só triunfou como ajudou a mostrar a bravura do toiro pela forma como o lidou. Foi uma lide de êxito absoluto, a reafirmar, como já acontecera no Campo Pequeno, o momento extraordinário que está a viver.
No final deu aplaudida volta com o forcado (e o primeiro ajuda), os campinos (que estiveram arrojados e eficientes na recolha dos toiros a cavalo e sobretudo neste) e com o maioral da ganadaria, muito justamente premiado com essa honraria. Grande toiro e grande toureiro!

Mais um grito de Prates

Fechou a corrida o jovem praticante António Prates com outro bom e bravo toiro de Palha. Toiro exigente e a pedir contas. E Prates deu-lhas, emocionando o público pela sua firmeza, pela sua raça e pela sua ousadia. Bregou bem, lidou colm emoção e arrojo, pondo a carne no assador, arriscando, cravando emotivos ferros com remates vistosos. Demonstrou que o toureio é risco - e que não anda aqui com a vida facilitada, pelo contrário, lida ganadarias duras, está montado para enfrentar seja que toiro for. E está maduro, senhor de si, seguro, tranquilo, a lutar por marcar a diferença.
Ontem deu mais um grito de afirmação. E segue para outros compromissos. Hoje toureia na Arruda, no sábado em Espanha e domingo em Pinhel. Rumo à alternativa, que receberá na próxima temporada. Está mais que apto para isso - e para seguir em frente e ser um dos grandes valores da nova vaga.
Nota alta para as intervenções de todos os bandarilheiros, com toiros sérios e sem capotazos a mais desta vez.

Cabos dão o exemplo

Cinco grandes pegas à primeira tentativa marcaram ontem a presença dos grupos de forcados dos grupos de Évora (que pegaram só dois toiros) e do Aposento do Barrete Verde de Alcochete pela arena de Alcochete numa noite que foi de triunfo para eles.
Pelos eborenses foram caras o cabo João Pedro Oliveira (numa grande pega ao primeiro intento) e José Maria Passanha (também à primeira). O terceiro toiro dos Amadores de Évora foi o que se inutilizou e por isso não o pegaram. O sobrero, que também recolheu aos currais após dois ferros compridos, também não foi lidado e por isso mesmo não fazia sentido que fosse pegado, apesar de o cabo ter subido ao camarote da presidência e ter manifestado o seu desejo de que o toiro fosse ainda pegado. O director João Cantinho não acedeu, o toiro já estava recolhido, não fora lidado, não fazia sentido ser pegado.
Pelos Amadores do Aposento do Barrete Verde pegou também em primeiro lugar o cabo Marcelo Lóia, com a técnica e o brilhantimo usuais, ao primeiro intento; depois pegou Diogo Amaro, também muito bem, à primeira e com uma ajuda primorosa e eficaz de Vitor Bolota, que o acompanhou na volta à arena; e por fim executou uma rija pega o forcado Rui Gomes, com uma grande ajuda do cabo Marcelo, despedindo-se depois das arenas sob uma grande ovação.
Assim terminou mais uma Feira de Alcochete, marcada por duas grandes corridas e um agradável festival - e, uma vez mais, foi um ciclo altamente "torista", fazendo jus ao que o saudoso "Nené" sempre defendeu e sempre concretizou. Seus filhos souberam muito dignamente seguir-lhe o exemplo. E por isso são também, com toda a justiça, triunfadores desta Feira que voltou a ser, como sempre, a Feira do Toiro-Toiro. E da verdade.

Mais logo não perca a completa reportagem fotográfica de Mónica Mendes.

Fotos M. Alvarenga