sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Apoderados desavindos "mancham" noite brilhante no Campo Pequeno

Sónia Matias lidou ontem apenas o primeiro toiro a duo com Ana Batista. Depois
do "aperto" que levou com um toiro complicadíssimo de São Torcato e da
agressão de que o seu companheiro e apoderado foi alvo, sentiu-se indisposta
e não mais voltou à arena - mas garantiu ao "Farpas" que amanhã, sábado, vai
actuar na Nazaré, para onde está anunciada com Moura e Rouxinol
José Luis Gomes ontem, antes do início da corrida, no páteo de quadrilhas do
Campo Pequeno, com Mário Matos, funcionário da empresa. Em baixo, numa
foto de arquivo, Sónia Matias e o seu companheiro e apoderado "Juca"


Uma desavença entre os apoderados das cavaleiras Ana Batista e Sónia Matias, respectivamente José Luis Gomes e João Pedro "Juca", foi "o caso da noite" ontem no Campo Pequeno, deixando uma lamentável mancha negativa numa grande noite de toiros - de que falaremos a seguir - e motivando mesmo uma indisposição a Sónia, que já não voltou à arena para lidar o toiro que lhe cabia a sós, tendo os últimos dois destinados à lide a cavalo sido toureados por Ana.
O incidente ocorreu logo no final da lide do primeiro toiro da ganadaria São Torcato a duo pelas cavaleiras, onde foi bem visível a superioridade de Ana Batista, bem montada e a viver um grande momento, face à insegurança demonstrada por Sónia Matias, sem cavalos à altura e ainda por cima frente a um toiro áspero, duro, exigente e que não permitia deslizes.
Sónia é uma toureira de raça, de coragem e de uma imensa bravura e só assim conseguiu vencer as dificuldades e colocar os ferros que lhe competiam, mas ontem foi bem patente a diferença que Ana marcou, mais bem montada, muito mais segura e com muito maior consistência.
Quando, no final da lide, as duas cavaleiras se prontificavam para abandonar a arena, José Luis Gomes, apoderado de Ana Batista, gesticulou e solicitou que cravassem mais um ferro cada.
"Foi à Sónia, que era a directora de lide, que José Luis Gomes incentivou a cravar mais um ferro e eu, como apoderado dela, insurgi-me. Toda a gente se tinha apercebido do 'aperto' que tinham levado com aquele toiro e ele ainda queria mais ferros...", conta "Juca", que além de apoderado e ex-bandarilheiro, é há alguns anos o companheiro na vida real de Sónia Matias.
"Insurgi-me e disse ao José Luis Gomes que não podia ser, que não deviam cravar mais ferro nenhum, já chegava de 'apertos'. E ele pôs-se a dizer que a Sónia não tinha cavalos, que estava com medo...", acrescenta "Juca", que falou ontem ao "Farpas" no final da corrida no hotel onde a cavaleira estava hospedada.
"Não é verdade, não disse nada disso. Ele é que me ofendeu de tudo e mais alguma coisa", replica José Luis Gomes, que ouvimos já esta manhã
Palavra puxa palavra entraram para o páteo de quadrilhas. Continuaram a "discutir". Até que, conta "Juca", "ele disse que não admitia que eu lhe falasse assim e deu-me uma valente cabeçada que me abriu a testa".
"Fez-me perder a cabeça, não sou maluco, ofendeu-me de tudo", insiste José Luis Gomes, antigo cabo dos Forcados Amadores de Lisboa.
Resultado: a agressão ocorreu na frente de Sónia Matias, de Ana Batista e de seu marido, Orlando Vicente, dos porteiros da praça e do pessoal dos cavalos. Mas também na presença de agentes da PSP que fazem serviço na praça na noite das corridas e que de imediato identificaram os dois protagonistas da cena.
João Pedro "Juca" foi assistido na enfermaria da praça ao ferimento na testa e José Luis Gomes foi ver o resto da corrida num camarote. Sónia Matias, já de si incomodada com o "aperto" que acabara de levar do toiro de São Torcato, mais indisposta ficou com a cena de agressão ao seu companheiro e apoderado. Teve uma subida de tensão, vomitou e foi também assistida na enfermaria.
"Queria voltar a tourear e eu próprio, depois de tratado, estive a montar-lhe os cavalos, mas os médicos disseram que não estava em condições de actuar e foi por isso que não toureou mais", afirma "Juca".
"Nunca tive nenhum problema com o José Luis Gomes, sempre o respeitei e ele a mim, fiquei estupefacto com a sua atitude. E digo mais: se eu ainda tinha alguma aficion, ele tirou-ma toda com esta triste cena...", acrescenta o apoderado de Sónia.
A toureira, por sua vez, estava no final da corrida ainda bastante incomodada com tudo o que sucedera e disse-nos: "Muito mal está a nossa Festa...". Garantiu, contudo, que amanhã, sábado, irá touear na Nazaré, para onde está anunciada com João Moura e Luis Rouxinol na lide de dois toiros de Prudêncio.
Ana Batista lidou depois a sós o seu toiro e, no fim, o que estava destinado a Sónia Matias. O último ferro, brindou-o ao bandarilheiro Ricardo Pedro, irmão de "Juca" e membro da quadrilha de Sónia, em sinal evidente de desacordo e condenação pelo acto do seu próprio apoderado, solidarizando-se desta forma, em público, com a equipa e o apoderado da companheira.
"Juca", entretanto, disse ao "Farpas" que vai avançar com uma queixa na Justiça contra José Luis Gomes - que depois da corrida esteve com amigos no restaurante "Rubro", lamentando o sucedido, mas insistindo que o apoderado de Sónia lhe fez "perder a cabeça" com "muitas ofensas".
É lamentável que tenha acontecido. O "Farpas" ressalva aqui que não deixa de manter o apreço e a amizade que sempre teve pelos dois intervenientes, mas mesmo em nome dessa amizade, o que aconteceu é notícia. Má para a Festa, obviamente. Má para uma tão grande noite de toiros. Má para a imagem da Tauromaquia. Mas que aconteceu. Lamente-se.

Fotos Emílio de Jesus e Maria Mil-Homens/Arquivo