sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Ferreira e Casquinha: façam-lhes a devida e merecida justiça, senhores empresários!

Mais um triunfo memorável, sério e importante do ganadeiro Joaquim Alves
de Andrade
, pela segunda noite consecutiva, ontem no Campo Pequeno
O quinto toiro da noite, lidado por António J. Ferreira, teve honras de volta à arena
concedida - e muito bem - pelo director de corrida Pedro Reinhardt
Ao início da corrida, os jovens alunos da Academia de Toureio do Campo
Pequeno
prestaram homenagem ao seu mestre, o matador António João Ferreira,
pelos seus 10 anos de alternativa
António João Ferreira toureava ontem pela primeira vez nesta temporada. Parece
impossível, mas é verdade. Perfumou o Campo Pequeno com a classe, a arte
e o temple do seu belíssimo toureio e ninguém ficou a perceber as razões porque
ainda não o contrataram antes... nem o contrataram para depois... Só neste
Portugalzinho das toiradas podem acontecer casos como este: estar parado e
sem tourear um artista desta craveira!
Valente como as armas, Nuno Casquinha teve ontem em Lisboa uma presença
de um valor sem fim. Artista com o capote, espectacular e poderoso com as
bandarilhas, "mandão" com a muleta, reafirmou e consolidou o triunfo de
Vila Franca
Valeu a Sónia Matias a raça e o valor que todos lhe reconhecemos, mas faltaram
argumentos e cavalos para vencer este desafio. Notou-se a preocupante
insegurança com que esteve em praça... e depois do "aperto" no toiro a duo,
ficou indisposta (por esta e outras razões) e não mais voltou à arena...
Noite heróica para Ana Batista, que acabou por tourear sózinha os dois últimos
toiros destinados às lides a cavalo e no que abriu praça a duo marcou a diferença
ante uma Sónia insegura e sem cavalos à altura. Na foto de baixo, Joaquim Alves
de Andrade
, o ganadeiro que mais uma noite saíu triunfador do Campo Pequeno


Houve emoção, seriedade, bravura e risco em mais uma noite altamente "torista" ontem no Campo Pequeno. Mais um triunfo do ganadeiro Joaquim Alves de Andrade, desde vez com a sua ganadaria São Torcato, depois de na corrida anterior ter feito também história com os toiros Pinto Barreiros. Ana Batista brilhou nas lides a cavalo e os matadores António João Ferreira e Nuno Casquinha protagonizaram uma noite de muito esplendor para o toureio a pé. A empresa também está de parabéns. Pena que o público não tenha correspondido como se justificava e se exigia.

Miguel Alvarenga - Foi grande e importante a noite dos toiros Veiga Teixeira, mas o ganadeiro Joaquim Alves de Andrade (foto ao lado), com dois relevantes triunfos na primeira praça do país é, até ao momento, o triunfador maior do Campo Pequeno. Pela seriedade, pela verdade, pela transmissão e emoção e pela bravura dos seus toiros: Pinto Barreiros (na corrida anterior) e São Torcato (ontem).
O quinto toiro, após brilhante faena de António João Ferreira, foi muito justamente premiado pelo director de corrida Pedro Reinhardt com volta à arena e o ganadeiro também, fazendo-se acompanhar do seu maioral.
Os toiros de São Torcato lidados ontem em Lisboa, de excelente apresentação e com muita cara e trapio, não foram fáceis. Mas os toiros, como bem disse o ganadeiro Veiga Teixeira, não têm que ser fáceis, nem têm que colaborar com os toureiros. Têm, como ontem aconteceu, que lhes pedir contas, que lhes dificultar a vida e lhes exigir domínio. Só assim se pode recuperar a emoção e o risco que são a essência básica deste espectáculo e desta arte. E recuperar aficionados antigos, ganhando novos.
A noite de ontem foi uma noite altamente "torista" e de fortíssimas emoções. A data, outrora a melhor da temporada lisboeta, que esgotava a praça nesta primeira quinta-feira de Agosto com as recordadas Corridas da Imprensa e mais tarde com as Corridas da Rádio, perdeu todo o seu fulgor com o passar dos anos. Ontem, o Campo Pequeno devia ter estado cheio e o público aficionado devia ter acorrido à praça para apoiar e incentivar os nossos matadores. Mas a lotação, infelizmente, nem metade esteve preenchida. O velho Camões é que tinha razão: mudam-se os tempos e mudam-se as vontades.

Grande a classe de Ferreira...

António João Ferreira toureava ontem pela primeira vez nesta temporada. Parece impossível, mas é verdade. Parece impossível porque só num país como este acontece que esteja parado, sem contratos, sem corridas, um toureiro desta craveira. E parece impossível porque, não estando toureado, para tourear como ontem toureou, António João Ferreira tem que ter, na realidade, "muita coisa dentro". Muita classe, muita alma.
E agora, o que fazer? Faz-se justiça a um toureiro como este? Ou fica tudo como estava e nunca se passa nada neste Portugalzinho das toiradas?
O empresário Ricardo Levesinho já anunciou que pelo seu triunfo no Colete Encarnado, será Nuno Casquinha, e não um matador estrangeiro, a ocupar o lugar que estava vago (para um único matador) na corrida de aniversário da Palha Blanco (30 de Setembro), ao lado dos cavaleiros Moura Jr. e João Telles - impõe-se agora, em nome da justiça, que Ferreira entre também nesse elenco.
O empresário Rafael Vilhais anunciou também que Nuno Casquinha, pelo seu triunfo no Colete Encarnado, entra na corrida mista da Feira da Moita (11 de Setembro), alternando com uma figura de Espanha. Porquê? - impõe-se agora, em nome da justiça, que seja Ferreira a tourear com Casquinha na Moita.
Se essas duas situações não se concretizarem, vamos ter que, tristemente, concluir que um triunfo em Lisboa não vale nada e que a justiça é mesmo cega neste mundo tão complicado da tauromaquia nacional...
Fico à espera.
Era este grito de alerta que eu queria aqui deixar. Não é preciso alongar-me muito em análises mais detalhadas às duas faenas de António João Ferreira ontem em Lisboa. Foram profundas, sentidas, de uma arte, de uma classe e de um temple só próprios de toureiros que já levam muitas corridas em cima. E ele não levava ainda nem uma.
Deu volta à arena no seu primeiro toiro e outra, muito aplaudida, no segundo (quinto da ordem) com o ganadeiro e o maioral. Pediram-lhe outras, mas ele recolheu à trincheira. O que fez, merecia três voltas e saída em ombros. Mas António não é espanhol...
É preciso ser um grande toureiro e ter uma alma do tamanho do mundo para estar como ele esteve ontem. Em plano de Figura, a pedir passo, a demonstrar importântica e atitude diante de toiros sérios, bravos, encastados e que pediam pela frente toureiros de barba rija - foram duas faenas de grande brilhanstismo, apurada técnica, muita alma e valor, imenso valor. António João Ferreira merece muito mais.

... enorme a raça de Casquinha!

Nuno Casquinha é um lutador e um toureiro de uma raça sem fim. De uma entrega tremenda. E, ao contrário de Ferreira, com imensas corridas já feitas no Peru, para onde emigrou depois de sentir que aqui não lhe davam o valor e a importância que merece. E que agora está finalmente a ver reconhecidos.
O triunfo em Vila Franca mudou a sua vida - e trouxe um alento novo à sua carreira. Merecido. Descobriram-no e recoheceram-no tarde. Mas mais vale tarde que nunca.
Ontem no Campo Pequeno, Nuno Casquinha vinha disposto a confirmar a apoteose vilafranquense. Outra vez com toiros duros e sérios, como os Palha dessa tarde histórica. E alcançou um êxito notável pelo seu imenso valor, pela sua tremenda raça. Artista com o capote - aliás, alternaram os dois matadores nos quatro toiros com quites de "resposta" um ao outro, como deve ser -, espectacular e poderoso com as bandarilhas, com a muleta mandou e templou como os eleitos e logrou alcançar dois êxitos rotundos, sofrendo no seu segundo toiro uma impressionante e violenta colhida que o fez crescer anda mais e encastar-se para terminar em beleza. Toureiro de raça!
Nuno Casquinha reafirmou argumentos, confirmou valor e deixou uma vez mais uma porta de esperança aberta para o futuro.
Se taurinamente fôssemos um país a sério, como é Espanha, estes dois toureiros punham-se ricos num instante. E os empresários também. Mas somos (ainda e sempre) demasiado pequeninos para dar valor a toureiros tão grandes.
Já aqui se destacou, mas nunca é demais louvar a forma como João Ferreira e Cláudio Miguel estiveram a lidar os toiros dos matadores e também os brilhantes tércios de bandarilhas executados nos toiros de Ferreira por seu irmão, João Ferreira, por João Martins e por Tiago Santos.

Noite heróica de Ana Batista

Ana Batista, laureada com o importante triunfo da semana passada em Salvaterra, confirmou ontem em Lisboa o momento alto que vive. E no toiro que abriu a corrida, complicadíssimo, a pedir contas (e que contas!), Ana marcou na realidade a diferença ante uma Sónia Matias insegura, sem cavalos para um desafio destes com toiros de tamanha seriedade - e perigo. Vale-lhe ser uma toureira valente e corajosa, com uma raça "sem preço", mas sentiram-se e viram-se as imensas dificuldades por que passou para conseguir colocar os ferros. Nessa lide a duo, Ana Batista marcou claramente a diferença.
Já certamente indisposta com o "aperto" por que acabara de passar na arena, Sónia Matias ainda mais se indispôs com a triste cena a que já aqui se fez referência, passada "dentro de portas" e protagonizada pelo apoderado de Ana e pelo seu. E não mais voltou à arena, ficando Ana Batista com a carga às costas de enfrentar os dois São Torcatos que estavam ainda destinados às lides a cavalo.
Toureou um em quarto lugar e o outro em sétimo, fechando a corrida. Foi uma jornada heróica - com toiros de uma seriedade imprópria para meninas. Mas Ana esteve à altura.
Desenvolta na brega e na lide, apontou ferros de grande emoção e alcançou dois triunfos importantes e que consolidam e consagram o momento alto que está a viver.

Pegas de valor a toiros de verdade

Os Forcados Amadores das Caldas da Rainha, a comemorar 25 anos de actividade, executaram, como também já aqui se retratou, três pegas de valor a toiros que não eram fáceis.
O cabo Francisco Mascarenhas consumou à segunda, aguentando uma barbaridade de derrotes, com o grupo a ajudar muito bem, a primeira pega da corrida.
Lesionado na sua primeira tentativa, Lourenço Palha foi dobrado na segunda pega por António Cunha, que na primeira tentativa foi também violentamente derrotado e na segundo concretizou com valor a pega.
O último toiro foi brilhantemente pegado de cernelha por Duarte Palha e José Maria Abreu. Não era fácil, não encabrestava e tinha imenso sentido, o que deu redobrado valor à pega.
Pedro Reinhardt dirigiu com o rigor a e exigência habituais. E com aficion, nomeadamente ao conceder a volta à arena ao quinto toiro e também ao ganadeiro. Um único senão: tardou em conceder música a António João Ferreira no segundo toiro da noite, mas lá acabou por dar e como mais vale tarde que nunca...
Ao início da corrida, foram à arena os jovens alunos da Academia de Toureio do Campo Pequeno para render homenagem ao seu professor, António João Ferreira, que cumpre esta temporada o 10º aniversário da sua alternativa.
Também ao início da corrida, nas cortesias, foi guardado o já tradicional minuto de silêncio, desta vez pelo maioral de uma ganadaria, creio que a de Vinhas, infelizmente continua a não se entender nada do que diz o Dr. Paulo Pereira, talvez já fosse tempo de se arranjar uma melhor aparelhagem sonora na primeira praça do país...
Em suma, uma noite grande e séria de toiros no Campo Pequeno. E um grito de alerta dos nossos matadores - que merecem mais, muito mais.

Fotos Emílio de Jesus