Nazaré: uma corrida que marca a temporada!

Grande triunfo da ganadaria de Paulo Caetano, que deu volta à arena com Andrés
Romero no terceiro toiro e voltou a ser aclamado numa segunda volta, esta com
seu filho João, no quinto

No final da corrida os três cavaleiros deram aplaudida volta à praça acompanhados
pelos três grupos de forcados e depois sairam apoteoticamente em ombros

Atitude, valor e mais uma importante chamada de
atenção aos senhores empresários que teimam em
o esquecer: Tito Semedo teve ontem uma noite
de absoluto triunfo na Nazaré nos dois toiros do
seu lote, que lidou emotiva e superiormente

João Moura Caetano bordou o toureio no quinto toiro da noite, um toiro de
bandeira, rubricando aquela que pode mesmo ter sido a melhor actuação da
sua carreira. No final deu duas voltas à arena, a primeira com o ganadeiro, seu
pai, com o forcado e os campinos. No primeiro toiro já dera o mote para o
que viria a ser uma noite de tremendo sucesso e de consolidação total

Triunfo memorável de Andrés Romero, que levou o público "à loucura" na sua
segunda actuação, reafirmando o valor e a arte que já havia demonstrado na
5ª feira em Lisboa, mas superando-se ontem numa noite de grande apoteose.
No último toiro, deu duas voltas à arena

Tito Semedo, Moura Caetano e Andrés Romero sairam ontem muito meritoriamente em ombros na praça da Nazaré no final de uma corrida que marca esta temporada e em que há a registar também um triunfo clamoroso da ganadaria de Paulo Caetano, que foi premiado com justíssimas voltas à arena no terceiro e quinto toiros, este um toiro de bandeira que foi "indultado" e regressou ao campo

Miguel Alvarenga - Só foi pena não haver mais público a emoldurar tão bonito e carismático cenário, apenas metade das bancadas estava ontem preenchida na praça do Sítio, na Nazaré, porque a corrida foi memorável, a todos os títulos - e fica como uma das que marcou esta temporada.
O empenho, a arte e o valor de cavaleiros e forcados valeu a noite, mas há que realçar, em nome da verdade e da justiça, o contributo que para o êxito da corrida deram os magníficos toiros da ganadaria de Paulo Caetano. Há realmente coisas do diabo: depois do desaire e da bronca que foi, a 5 de Julho, a única mancha negativa da triunfal temporada do Campo Pequeno, a ganadaria de Caetano teve ontem um triunfo de apoteose com seis toiros dentro do tipo tradicional da divisa, sem pesos excessivos, entre os 470 e os 490 quilos, com mobilidade, transmissão, codícia e bravura.
O primeiro toiro foi "de escândalo" e o quinto, esse então foi um toiro de bandeira, o toiro com que todos os toureiros sonham para triunfar. Todos os outros tiveram transmissão, empenho e excelentes condições de lide. O sexto foi o mais complicado, bravo, mas a pedir contas em excesso, a exigir em demasia e com investidas menos francas, com perigo.

Tito Semedo: valor e atitude

Tito Semedo, que na véspera comemorara triunfalmente os seus 25 anos de alternativa em Beja (corrida de que amanhã publicaremos uma larga reportagem de Emílio de Jesus) esteve ontem decidido e com atitude, recebendo os dois toiros do seu lote com emotivas sortes de gaiola. Bem montado e com a moral em alta, Tito desenhou duas lides de imenso valor, reafirmando que é um cavaleiro de alto nível e que continua, não se percebe por quê, a ser esquecido e injustiçado pelas grandes empresas - que se esquecem eternamente dele...
Esteve sóbrio na brega, brilhante a lidar e pôs emoção em todos os ferros, em sortes em terrenos de compromisso. No último toiro, retirou no final a cabeçada ao cavalo e cravou um ferro que resultou empolgante, levantando o público das bancadas.

Caetano: sinfonia de bem tourear
com um toiro de bandeira!

João Moura Caetano não tem só a melhor quadra de cavalos do momento, no que aos cavaleiros lusos diz respeito, como é também um toureiro seguro, consolidado e a viver um momento de grande euforia. Esteve brilhante na lide do segundo toiro da noite, o mais reservado, mas que foi crescendo ao castigo, impondo Caetano a sua arte e o sau saber para acabar por sacar uma faena de muito impacto.
No seu segundo, quinto da ordem, um toiro de bandeira e com investidas nobres e alegres a partir de todos os terrenos, Moura Caetano esteve simplesmente colossal, rubricando uma das melhores lides da sua brilhante temporada, dir-se-ia mesmo uma das melhores da sua carreira.
Superou-se em arte, em temple, protagonizando uma emotiva sinfonia de bom toureio. O público, galvanizado, não parou de aplaudir e de pedir mais ferros. Noite de glória para Moura Caetano!

Andrés Romero levou 
público "à loucura"!

O espanhol Andrés Romero teve ontem na Nazaré um triunfo absoluto e memorável, superando a notável actuação que tivera na quinta-feira em Lisboa. Trazendo à praça a maioria dos cavalos craques que compõem a sua magnífica quadra, deu ontem nos dois toiros a real dimensão do seu imenso valor.
A nova estrela do rejoneio espanhol, antigo pupilo de Ventura, destacou-se na excelente brega, no acerto com que lidou e na emoção com que cravou os ferros, em sortes bem desenhadas e superiormente rematadas, que levaram o público, sobretudo no último toiro da noite - que foi o mais complicado dos seis, mas a que ele deu a volta - "à loucura". Todos de pé, a aclamar o grande triunfo de Romero e a não o deixar sair da arena, pedindo ferros e mais ferros.

Forcados em noite grande

Pegaram, como já aqui ficou demonstrado em pormenor, os grupos de forcados Amadores de Turlock, de Cascais e de Portalegre, todos eles evidenciando valor e poderio frente a toiros duros, sérios e bravos.
Pelo valoroso e já consagrado grupo da Califórnia - um grupo de forcados à antiga, como já aqui referi mais que uma vez - pegaram os mesmos forcados que na quinta-feira brilharam no Campo Pequeno: o cabo George Martins Jr, (à primeira) e Steven Camboia (à segunda), destacando-se a coesão e o poderio do grupo a ajudar.
Pelos Amadores de Cascais, foram caras o grande Rui Grilo (à primeira) e Carlos Dias (à segunda); e pelos de Portalegre, pegaram João Martins (à primeira) e André Neves à terceira, na mais complicada pega da noite e depois de ter ficado inanimado na arena à segunda tentativa, voltando à cara do toiro num rasgo enorme de valentia e de pundonor.
A corrida foi bem dirigida por Lourenço Luzio, que esteve ontem assessorado pelo médico veterinário Dr. José Manuel Lourenço.
Assistiu à corrida, numa cadeira de rodas, Rui Rosinha, chefe dos Bombeiros de Castanheira de Pêra, sobrevivente do terrível incêndio do ano passado em Pedrógão Grande, que foi convidado pelos Bombeiros da Nazaré a passar na vila o fim-de-semana e a ir aos toiros, desejo que ele manifestara e ontem se cumpriu. Tito Semedo brindou-lhe a primeira lide e os forcados também. Andrés Romero dedicou-lhe um ferro na sua segunda lide triunfal.
Em suma, mais uma noite, como a de quinta-feira em Lisboa, das que fazem aficionados. A temporada vai de vento em popa!

Fotos Maria Mil-Homens