quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Triunfos de Moura, Pamplona e Telles e a prova de praticante de Manuel Sousa em corrida de enorme ambiente na Terceira

João Moura emocionado até às lágrimas enquanto ouvia as bonitas palavras
de evocação dos seus 40 anos de alternativa e sobretudo a recordação dos
muitos triunfos conquitados nesta Monumental da Ilha Terceira. O Maestro foi
homenageado ao início da corrida pela comemoração dos seus 40 anos
de alternativa - já assinalados em Lisboa e noutras destacadas praças do
continente e a que agora se fez também justiça na mais aficionada das ilhas
dos Açores
Maestria de João Moura empolgou público terceirense com duas lides em que
abriu o livro e toureou à antiga
É pena Tiago Pamplona só tourear nos Açores. Um cavaleiro como este merecia
ser visto no continente. E podem ter a certeza que incomodava muita figurinha
João Telles em momento imparável, triunfou esta 2ª feira na Ilha Terceira e vai
tourear no próximo fim-de-semana na Feira da Graciosa
Sem falhas, com desenvoltura e ousadia, o cavaleiro luso-descendente Manuel
Sousa
teve uma prova de praticante com algum destaque e valor


A aficion da Ilha Terceira marca, marcou sempre, a diferença - pelo seu entusiasmo, a sua exigência e o respeito imenso pelos toureiros e pelos forcados (um silêncio que arrepia no momento das pegas), bem como o entendimento, o conhecimento e a admiração pelo rei da festa, o toiro. A corrida das Festas da Praia, que esta segunda-feira se realizou na Monumental da Ilha Terceira, em Angra do Heroísmo, foi de praça cheia e teve um ambiente fantástico. Houve toiros e toureiros, houve forcados, a despedida de um histórico, Américo Cunha e o triunfo de todos, sem excepção. Corridas destas fazem aficionados!

Miguel Alvarenga - Os cinco toiros de Rego Botelho, principal ganadaria terceirense, e os dois continentais da ganadaria Passanha, com uma média de pesos de 485 quilos, todos com trapio, distinta apresentação, mas com bravura e a pedir contas, excepção feita ao terceiro, da ganadaria açoreana, mais mansote e a procurar refúgio em tábuas, contribuiram em muito para o sucesso da corrida. O empenho e a entrega dos cavaleiros e o valor dos forcados fez o resto. E a corrida resultou em cheio.
Bem montado pelos Forcados do Ramo Grande (Praia da Vitória), o cartel incluía os cavaleiros João Moura, Tiago Pamplona, João Ribeiro Telles e o jovem amador de Turlock Manuel Sousa, que prestou no último toiro provas para praticante, bem como os grupos de forcados da Tertúlia Tauromáquica Terceirense, do Ramo Grande e ainda os de Beja. A corrida foi muito bem e competentemente dirigida por Rogério Silva, assessorado pelo médico veterinário Dr. Vielmino Ventura, sendo de toda a justiça destacar a actuação do cornetim, que em nada fica atrás dos bons que temos aqui no continente. Apenas um reparo: pelo sucesso dos toiros das duas ganadarias, teria sido de toda a justiça autorizar os respectivos ganadeiros a dar volta à arena.
Depois de já o ter sido no Campo Pequeno e noutras praças continentais, João Moura foi também homenageado na Terceira pela comemoração dos seus 40 anos de alternativa. O acto decorreu ao início da corrida, com o toureiro já montado e parado nos médios, frente à direcção de corrida. Foi lido um bonito texto evocando a glória de quatro décadas protagonizada pelo Maestro Moura nas arenas de todo o mundo, com especial relevância para os muitos triunfos que ao longo dos anos alcançou nesta praça de Angra.
João Moura ouviu as palavras de homenagem emocionado e sem conter as lágrimas e depois recebeu do presidente da Tertúlia Praiense, Francisco Godinho (Magalhães) e do antigo cabo dos Forcados do Ramo Grande, Filipe Pires, uma lembrança alusiva à efeméride que esta ano está a assinalar, sob fortes aplausos do público.

E o Maestro abriu o livro...

Perante um codicioso e bravo toiro de Rego Botelho, o Maestro abriu depois o livro e deu uma das suas inesquecíveis lições de bem tourear, levando o público terceirense ao rubro. Foi uma lide templada em que se destacou a brega e a permanente ligação cavalo-toiro, com ferros de poder a poder e recortes "à Moura" de outros tempos e, afinal, de sempre e de todos os tempos.
Em segundo lugar lidou um toiro de Passanha de excelente nota, bem apresentado e bravo, com o qual voltou a estar ao mais alto nível, prevalecendo a lide, a brega, a forma como mexe com o toiro, pormenores da tauromaquia de Moura que o público não esquece e em Angra premiou com vibrantes ovações.
Ainda e sempre, o eterno mágico do toureio a cavalo.

Tiago Pamplona: ainda 
e sempre em alta

Tiago Pamplona alcançou dois importantes triunfos e só tenho a lamentar vê-lo apenas uma vez por ano, quando me desloco à Terra dos Bravos. Este cavaleiro açoreano, como seu irmão João, mereciam ser vistos nas praças continentais. Diz-se que para o ano virão a Lisboa numa Corrida Açorena que já esteve para se realizar esta temporada e cujo projecto ficou adiado. Esperemos que sim.
Bem montado, este toureiro de dinastia deslumbrou a sua imensa falange de admiradores com duas lides completas e rematadas onde pontificou a forma como lidou e cravou em sortes frontais e pisando terrenos de compromisso.
Lidou dois toiros de Rego Botelho de boa nota e aproveitou com saber tudo o que eles tinham para dar, logrando rubricar duas actuações vistosas e de muito valor e verdade. Falhou alguns ferros na segunda actuação - falhar não é o termo, apontou-os "en su sítio", mas as bandarilhas cairam - o que acabou por retirar algum brilho à lide e atrasou a entrada em cena da banda. Mas ficou uma vez mais a óptima impressão de um cavaleiro que, repito, merecia ter maior destaque e não se ficar apenas pelas corridas nos Açores.

João Telles embalado e sem travão...

João Ribeiro Telles está embalado pelos êxitos que tem conquistado em praças continentais e também em Espanha e não há quem lhe ponha travão. Depois deste triunfo anteontem em Angra, continua nos Açores para no próximo fim-de-semana actuar na Feira da Graciosa.
Apetrechado nesta digressão aos Açores com quatro dos seus cavalos craques, João Telles esteve em grande destaque nesta corrida das Festas da Praia, sobretudo no seu segundo toiro, um belíssimo exemplar da ganadaria Passanha que lidou primorosamente e sempre com o público eufórico e sob grande entusiasmo. Uma actuação enorme em que Telles demonstrou o momento alto que está a viver e que já fez dele em 2017 um dos maiores triunfadores da temporada e sobretudo um daqueles que mais se distanciou e continua a distanciar do pelotão.
No primeiro toiro do seu lote, um exemplar de Rego Botelho que cedo procurou o refúgio em tábuas, andou João Telles esforçado e a evidenciar que tem argumentos para enfrentar seja que toiros forem. Brilhante e valoroso.

Manuel Sousa: agradável surpresa

Claro que ainda verde e sem a engrenagem dos companheiros de cartel, o jovem amador Manuel Sousa evidenciou algum sentido de lide, vontade de fazer as coisas bem feitas, boa equitação e, pelo menos, arrojo e ousadia na procura de cravar os ferros de frente.
Nesta prova para cavaleiro praticante, lidando em sétimo lugar um toiro de Rego Botelho, o toureiro de Turlock (nascido nos Estados Unidos, mas filho de portugueses naturais da Terceira) foi uma agradável surpresa e manifestou tranquilidade e segurança em praça, agradando e recebendo do público o carinho de fortes aplausos de incentivo.

Forcados: a última tarde de Américo

A despedida das arenas de Américo Cunha, que pegou nos grupos da Tertúlia Terceirense, de Turlock e do Ramo Grande foi, no que aos forcados diz respeito, o momento alto desta corrida - como, aliás, já aqui se referiu em pormenor. Pelo seu actual grupo (Ramo Grande) pegou ainda Rui Dinis - ambos à primeira.
Pelos Amadores da Tertúlia Terceirense foram caras Luis Cunha, Tomás Ortins e Luis Sousa e pelos Amadores de Beja, menos bafejados pela sorte, pegaram Bento Quadros e Costa e Luis Eugénio, tendo este último tido a simpatia de me brindar a sua pega.
As quadrilhas destacaram-se na brega e na colocação dos toiros para os forcados. Com João Moura actuaram o seu bandarilheiro de confiança João Ganhão e o terceirense Gonçalo Toste; a quadrilha de Pamplona era composta por José Luis Leonardo e Jorge Silva; Telles levou aos Açores os seus habituais peões de brega, Nuno Oliveira e Duarte Alegrete; e com o luso-descendente Manuel Sousa voltaram a sair à praça os bandarilheiros locais José Luis Leonardo e Gonçalo Toste.

Fotos M. Alvarenga